CRASE COM NÚMEROS

"Lombada a 100 metros ou L * lombada à 100 metros? Ocorre crase antes de números?", quer saber Anderson Dias.

A rigor não. A forma correta, no seu exemplo, é a primeira, porque o a que se encontra na frente do número é uma simples preposição. O que pode ocorrer é você vizualizar uma crase – correta – diante de um numeral em casos como estes: Li da página 1 à 10. Caminhou da rua Augusta à 7 de Setembro. Na verdade o a craseado se refere aí a um substantivo feminino subentendido, que não se repete por questão de estilo: Li da página 1 à página 10. Caminhou da rua Augusta à rua 7 de Setembro.

A palavra ‘crase’ vem do grego e quer dizer ‘fusão, mistura, união’; no caso, designa a fusão da preposição a com o artigo a - ou com o a inicial de aquela/ aquele/ aquilo. Portanto, só se usa à diante de palavras femininas que admitam o artigo definido feminino.

Além do fato de numeral cardinal não ter gênero (exceto um, dois e os terminados em -entos: uma, duas, duzentas etc.), ele não admite a anteposição de artigo. Conseqüentemente, nada de crase com números. Vale lembrar que na frase "chegou às 10 horas" o às se refere ao subst. fem. horas, embora esteja imediatamente antes do numeral.

De 1 a 10 / de segunda a sexta / da 1ª à 4ª

Uma quadrinha simples torna mais fácil memorizar outro caso de crase que envolve nºs:

DA com À - crase há. Se vai DE - crase pra quê?

Este recurso se aplica tanto a números quanto a substantivos: quando se faz uso de dois desses elementos ligando-os por de – a, não se deve crasear o segundo elemento; mas quando se define o primeiro elemento com da ou do, o segundo inicia com à (ou ao, se masculino). É uma questão de coerência: havendo determinação no 1º substantivo ou numeral ordinal, deve haver no segundo. O que não pode acontecer é a mistura, por exemplo: L * deà 6ª. Modelos bons:

do aparelho de som à geladeira.

Cabe lembrar que só nós falantes do português temos de lidar com a crase. A origem do problema - e é um problema porque temos três fonemas iguais com grafias diferentes: a / há / à – está no artigo definido feminino, que no latim vulgar era "illa", tendo evoluído para la em francês, italiano e espanhol. No português arcaico também era la, passando depois para o a atual. Se tivesse permanecido o l, estaria tudo resolvido.

A propósito, com o intuito de nos ajudar a identificar quando ocorre a crase, o biólogo uruguaio (doutorando em Zoologia pela USP) Diego Perez escreveu dizendo que "gostaria de passar uma dica para meus colegas de língua hispânica. Quando traduzimos ao espanhol uma frase em português e utilizamos ‘a la’ é certo que em português utilizamos a crase, exemplo: Eu vou à escola – Yo voy a la escuela". Vale a dica também para os brasileiros que conhecem o idioma espanhol e o francês.

*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Português para Redação" e "Só Vírgula", diretora do Instituto Euclides da Cunha, http://www.linguabrasil.com.br

 







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