SENHOR DOUTOR
"É muito usual na Justiça o cabeçalho endereçado ao EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO", diz o advogado R. Q. Duarte. "É preciso usar o ‘doutor’ nesse caso?" Não necessariamente. No meio forense é comum dispensar esse tratamento ao juiz por deferência à sua autoridade, da mesma forma como se costuma tratar médicos e advogados por "doutor Fulano". Todavia, se é uma praxe correta, não é de rigor absoluto. A tendência moderna é atribuir o designativo de doutor somente a quem de fato tem um Ph.D. Por isso às vezes se vê um "professor doutor" ou "Prof. Dr. Armênio", ou ainda a titulação no final: "Prof. Armênio, Dr.", como ocorre em teses e dissertações. Sendo assim, é o bastante escrever EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO. Na correspondência, oficial ou não, de cunho mais recente, dispensa-se qualquer titulação na frente do nome quando o destinatário não é mesmo Doutor Ph.D. ou quando se desconhece tal fato. Exemplos:
Exma. Sra.
Ângela Amin
Prefeita Municipal
Florianópolis – SC
À Senhora
Profa. Maria do Socorro
Diretora do Depto. de
Biologia - UFPar
Excelentíssimo Senhor
Mário Covas
Governador do Estado
São Paulo – SP
O mesmo leitor gostaria de saber como é que fica a questão do vocativo feminino "com o avanço das mulheres aos cargos de direção em geral: presidente ou presidenta?" Neste caso específico, valem os dois termos: uma juíza pode ser a presidente ou a presidenta de um Tribunal, por exemplo. A primeira forma é de uso mais corrente, porém é bom saber que ‘presidenta’ é uma variação possível, assim como há outros femininos (raros) em –nta: governanta, infanta, parenta, giganta...
E a mulher será sempre a CHEFE de determinado setor. Pode-se falar em "chefa" coloquialmente, mas de maneira oficial se dirá: Senhora Chefe, à Chefe de Recursos Humanos e assim por diante.
Agora, não se pode confundir esses casos com aquele em que se designa o cargo, gênero neutro, como nos exemplos abaixo:
ATRAVÉS DE
Ao formular suas dúvidas sobre o uso correto de "através de", a atenta leitora Sandra R. Martins nos proporciona, ao mesmo tempo, as respostas a elas. Vejamos:
Segundo muitos autores e estudiosos da Língua Portuguesa, a expressão através de exige sempre a preposição de [certo: ‘através a presente’ é galicismo condenável]. No seu sentido correto, esta locução equivale a por dentro de, de um lado a outro, ao longo de, no decurso de. Exemplos: andou através de campos e matas; velejou através de todo o mar; observava através da janela; foi sempre o mesmo cidadão através dos anos.
A sugestão indicada por eles é que se evite recorrer a através de como sinônimo de por meio de, por intermédio de ou por [ou mesmo mediante], uma vez que a maior parte dos dicionários não registraria a locução com este sentido. Assim sendo, expressões como ...através do telefone, ...através deste, ...através de um comunicado, ...através do botão, ...através do rádio, estariam incorretas.
Acontece, porém, que o novo Dicionário Aurélio Século XXI (1999) já registra esta locução com o sentido de por intermédio de. Noto que em jornais, revistas, manuais, TV ou outros meios de comunicação, quer na fala, quer na escrita, as pessoas dificilmente utilizam por meio de ou por intermédio de, preferindo a forma através de. Esta forma, de tão generalizada, acabou se consagrando na língua?
Sim, Sandra, podes ficar tranqüila ao usá-la. Mas procura, dentro de um texto, evitar as repetições, empregando as variações disponíveis.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Português para Redação" e "Só Vírgula", diretora do Instituto Euclides da Cunha, http://www.linguabrasil.com.br
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