Nos dias distantes de 1965, ouvir Michelle, dos Beatles, no
Motoradio AM era um luxo. E se fosse a bordo de um Aero Willys do
ano, então, melhor ainda. Sonho de quase toda família de classe
média brasileira, ele era sinônimo de sucesso profissional – a
publicidade da fábrica o apresentava como “um carro de diretoria,
sério, de representação”. Foram produzidos 116 000 Aero Willys.
Lançado em 1960, sua dinastia durou até 1971. Na versão 1965,
época do seu auge, a grande novidade eram o câmbio de quatro marchas
sincronizadas – a primeira já podia ser engatada com o carro em
movimento – e o desempenho, que, segundo o teste publicado por
QUATRO RODAS em abril do mesmo ano, o colocava entre os “cobras
nacionais”, com 139 km/h de velocidade máxima e aceleração de 0 a
100 em 20 segundos. E como é dirigir um Aero hoje? Para responder à
pergunta, andamos num modelo 1966, igualzinho ao do teste original.
Rodamos por 310 quilômetros com o sedã de 1,5 tonelada.
O banco dianteiro inteiriço, revestido de plástico e com espaço
para três pessoas, é mais confortável que muitos sofás de sala de
espera. O painel, de metal, já vale a viagem.
Um console de madeira emoldura os três grandes mostradores
redondos. A posição de dirigir é boa – levando-se em conta o encosto
fixo do banco – e a alavanca de câmbio fica na coluna de direção. A
maciez no engate das marchas compensa a embreagem pesada e os quase
90 graus que a mão direita tem que descrever a cada mudança. Quando
o Aero começa a se mover, parece que não vai deslanchar, apesar do
som grave produzido pelo motor de seis cilindros e 110 cv. Mas, com
o bom escalonamento das marchas, ele embala corajosamente.
Definitivamente, ele nunca gostou mesmo de esforço: nas subidas,
mesmo as menos íngremes, pede uma redução para terceira marcha e até
para uma segunda. Para parar, força no pedal do freio. Sem
servofreio, o pedal é duro e requer uma adaptação do motorista para
evitar o travamento das rodas. Na estrada, sob sol ou uma eventual
chuva, nosso Aero prosseguiu tranqüilo, mantendo velocidade de
cruzeiro em torno dos 80 km/h. E mais: foi respeitado e saudado
durante todo o trajeto, como convém a um “carro de diretoria”.