A obra de Antero de Quental
Raios da Extinta Luz e Primaveras Românticas Os
Temas destes versos na juventude de Antero são um misto
de erotismo romântico de ideias pseudo-filosóficas
então em voga: Niilismo, religiosidade cósmica,
satanismo, pampsiquismo. As poesias Juvenilia
apresentam-se com uma característica que as distinge de
outra que Antero escreveu mais tarde: a insistencia nos
temas amorosos. Ele vê a mulher como um anjo e o amor
que lhe dedica é puro, sagrado, espiritual, isto é, o
amor platonizante petrarquista. Por outro lado, em
algumas composições, o amor de Antero é um abandono
após o cansaço, um atirar-se semimorto para os braços
da amada, ficando lá descontraído e calmo, como uma
criança a dormir no colo da mãe. Anjo, mãe, criança
pequenina: foi assim que o poeta viu a mulher. Odes
Modernas - um livro que é a "voz da
revolução" Antero insurgiu-se abertamente contra a
poesia romântica. Ao escrever as Odes Modernas, pôs de
parte os subjectivismos românticos e começou a olhar e
palpar as realidades socias que o cercavam. A obra
oferece-nos uma interpretação evolutiva da história,
faz considerações metafísicas acerca do homem e do
Mundo, não ocultando uma aspiração de transformações
sociais. Por outro lado, inspirou-se em duas fontes
doutrinárias muito em voga na época: o evolucionismo
iedalista de Hegel e o humanitarismo democrático de
alguns autores franceses, sobretudo Proudhon. O livro
abre com o poema Panteísmo, que é uma mistura de
pampsiquismo e de idealimismo Hegeliano. Além de hegel,
devem ter influenciado Antero nesta poesia: Vitor Hugo,
Michelet e Nerval. Panteísmo insurge-se contra o
Absoluto transcendente em rebate o cristianismo afectivo
dos românticos. No poema A História há uma visão
pessimista do passado (ódios, vinganças, desgraças,
misérias). Os males do passado evitar-se-ão no presente
e no futuro desde que se faça guerra aos tiranos, aos
reis sem fé e aos deuses enganosos e se preste culto ao
Amor e à Liberdade. Então, numa civilização assente
sobre a rocha da Igualdade, reinará o Amor de Irmãos e
haverá a verdadeira paz. Na poesia No Tempo volta a
prognosticar o triunfo da voz do povo que fará
evolucionar a história para a Igualdade e a Justiça. Ao
mesmo tempo, num ciclo de sonetos, Antero tenta a
explicação do Mundo pelo Absoluto imanente. Conclui-se
do soneto que um mundo ordenado tal qual o percebe só se
pode entender omo expressão, manisfestação da Ideia, a
qual, em contínua evolução se conscencializa no Homem
e no Estado. Na poesia Et Coelum Et Virtus, refere-se a
um Deus moribundo que desaparece para dar lugar ao Deus
imanente da consciência. No poema Pater insurge-se
contra os sacerdotes que erradamente julgam ter na mão o
monopólio da Terra e do Céu. Verdadeiros padres são
para ele o mar, o firmamento, o vento, o cedro, a
natureza, as mães, os poetas, os poscritos, os heróis,
isto é, uma mistura confusa de mundo inanimado e de
mundo humano.No poema Tentanda via Antero esconde uma
certa melancolia ante o fatal desaparecimento das coisas
que a evolução desgasta, que o ímpeto revolucionário
há-de fazer ruir. Evolução Ideológica Educado no
catolicismo, viu Antero a sua crença profundamente
abalada nos primeiros anos da vida universitária.
"Varrida num instante toda a minha educação
católica e tradicional, caí num estado de dúvida e
incerteza, tanto mais pungentes quanto, espírito
naturalmente religioso, tinha nascido para crer
placidamente e obedecer sem esforço a uma regra
reconhecida. Achei-me sem direção, estado terrível de
espírito, partilhado mais ou menos por todos da minha
geração". Carta autobiográfica de 14 de Maio de
1887. A partir dessa incerteza e dúvida, o poeta
começou a sentir na alma uma aspiração pelo Absoluto,
que foi a grande obsessão da sua vida. Com pouco mais de
18 anos converteu-se de vez ao «Germanismo», começando
a encher grande parte da sua produção poética com
lucubrações metafísicas radicadas no evolucionismo
idealista de Hegel. Segundo o Idealismo as coisas sá se
entendem como manifestações de Ideia, que nelas se vai
determinando até tomar consciência de si. A única
realidade intelegível é então a Ideia, da qual o Mundo
é produto. Hegel ensina que a Ideia é movida por uma
necessidade intrínseca para a sua determinação e
manifestação. Mas ao determinar-se, cada manifestação
da Ideia (tese) esbarra-se necessariamente na sua
contrária (antítese) e logo se transforma numa nova
(síntese). Mas de esta forma deixava-lhe me aberto o
problema da finalidade do homem na Terra. Num soneto
pergunta Antero aos Deuses: "para que nos
criastes?" Deparamos então com Antero à procura do
sentido prático da vida através de um socialismo
utópico . Antero trabalhou afincadamente pela
implantação de uma ordem nova na sociedade portuguesa.
Ele acreditava que o bem estar social devia provir da
evolução pacífica, baseada na moralidade, na
instrução e na consequente autopromação da classe
trabalhadora. Por outro lado, a morte de pessoas a quem
muito queria, a doença e outras contrariedades
inundaram-lhe a alma de pessimismo. Antero chegou ao
conhecimento de que o Universo é um sofrimento sem
finalidade e que tudo caminha invariavelmente para o
nada. Tudo menos a Consciência, que se deve esforçar
para atingir o Nirvana, onde há o repouso completo.
Pensamentos do poeta Antero viu a burguesia triunfante de
1834 degenerar num capitalismo de especulação que nada
produzia. Retomando a doutrina de Proudhon apela em
alguns sonetos Antero para a Justiça; o Pensamento, a
Ideia, que será luz do mundo; a Revolta e A Luta, até
tudo estar no seu lugar; o Trabalho, de que alguma coisa
ficará; o Cristo, avô da plebe; a Liberdade, sob o
império da razão. Na sua fase pessimista, os sonetos
estão repassados de emoção e contruídos de imagens:
vê-se a dor em todo o lado e estamos continuamente a
ouvir que é preferível o "não ser" ao
"ser como se é". Sentem-se nestas poesias
influências de Hartmann e do budismo. O pessimismo levou
Antero a evadir-se, a fugir sempre para mais além. Essa
região onde procura refugiar-se, aparece como um mundo
indefinido, longínquo e vago; uma acção material,
absorvente e enérgica; o sono no colo da mãe; o
desprendimento do sensível; a aspiração a um Deus
clemente, que o leve para o céu. A morte é considerada
nos seus sonetos sob variados aspectos: liberdade, fim de
todos os sofrimentos, irmã do Amor e da Verdade,
consoladora das tribulações, berço onde se pode pode
dormir, paz santa e inefável. E, em última análise, o
ingresso no Nirvana, no "não ser". Antero fala
de um Deus transcendente, no qual não acredita; num Deus
que anima tudo, mas que é inconsciente nos deuses
invenção do homem. Na metafísica de Antero devemos ver
um primeiro esforço para explicar o mundo sem o Deus
pessoal dos cristãos. Com ela Antero pretende ter
encontrado a razão do Universo na Ideia. A ideia, o sumo
Bem, o Verbo, a Essência, só se revela aos homens e às
nações no céu incorruptível da Consciência ! Antero
sente lá dentro uma voz misteriosa que lhe afirma: a
existencia do Bem, da glória do amor, o Amor puro e
sempiterno onde estão mergulhados todos os que amou. No
fim de tantos desenganos e dores, o poeta descobriu num
lampejo o Amor. Na Carta Autobiográfica, confessa o
poeta com não oculta satisfação: " No psiquismo,
isto é, no Bem e na Liberdade moral, é que encontrei a
explicação última e verdadeira de tudo, não só do
homem moral mas de toda a natureza, ainda nos seus
momentos físicos elementares.".
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Inserção Histórica
A Inserção Histórica DO
LIBERALISMO À REPUBLICA As novas ideias
políticas dos filósofos franceses do séc.
XVIII começam a entrar em Portugal no tempo do
Marquês de Pombal. A censura, a polícia e a
Inquisição não conseguem travar o aumento do
número de «jacobinos» e dos «afrancesados»,
entre os quais figuram nobres e, sobretudo,
homens de letras. A luta da Inglaterra contra a
França revolucionária envolve-nos na campanha
do Rossilhão e obriga-nos a não acatar o
Bloqueio Continental, decretado por Napoleão,
sendo o nosso país invadido pelos exércitos
franceses (1808-1810). Não conseguem, porém,
nem prender a família real, que embarcara para o
Brasil, nem subjugar a Nação, que se levanta em
armas e, ajudada pelo exército inglês, vence os
invasores em Roliça, Vimeiro, Porto, Buçaco,
Linhas de Torres, e os obriga a retirar. As
invasões francesas deixam o país arruinado e
ocupado pelo exército inglês. O
descontentamento alastra, reforçado pela
propaganda das ideias liberais. Após a malograda
conspiração de 1817, triunfa a Revolução de
1820, organizada no Porto, sob a direcção de
Manuel Fernandes Tomás, sendo eleita uma Junta
Provisional do Governo Supremo do Reino,
destinada a governar em nome do rei e a reunir
Cortes Constituintes. A Constituição de 1822
transforma a monarquia absoluta em monarquia
liberal, e ao domínio soberano do rei substitui
três poderes: legislativo; executivo; judicial.
D. João VI regressa, jura a Constituição e
enceta nova fase governativa. No Brasil, D.
Pedro, que ali ficara com a categoria de regente,
recusa-se a voltar a Portugal e proclama a
independência (1822). A situação política
portuguesa deu origem à formação de dois
partidos rivais: absolutistas ou realistas, que
pretendiam a continuidade das instituições
anteriores; liberais ou constitucionais,
defensores da ordem nova. À primeira revolta
realista de Trás-os-Montes, seguiram-se a
Vila-Francada e a Abrilada pronunciamentos
militares comandados pelo infante D. Miguel. D.
Pedro, considerado herdeiro do trono, outorga ao
País uma Carta Constitucional (1826), destinada
a substituir a Constituição de 1822, e abdica
em sua filha. Durante a menoridade desta, D.
Miguel deveria governar de harmonia com a Carta.
Os seus partidários, porém, aclamam-no «rei de
Portugal», enquanto os liberais formam na ilha
Terceira um governo oposicionista, apoiado por D.
Pedro, que deixa o Brasil e organiza uma
expedição com a qual desembarca no Mindelo.
Desencadeada a guerra, são vencidas as forças
de D. Miguel e assinada a Convenção de Évora
Monte (1834). Os liberais voltam definitivamente
ao poder e continuam a decretar as reformas
iniciadas por Mouzinho da Silveira. D. Maria II,
que subiu ao trono após a morte de seu pai,
viu-se logo de início em sérias dificuldades
para manter o equilíbrio entre os partidos que
dividiam os liberais, uns defensores da
Constituição de 1822 («radicais» ou
«vintistas»), outros da Carta Constitucional
(«conservadores» ou «cartistas»). Daqui uma
série de lutas, que perturbam o seu reinado:
Revolução de Setembro e Belenzada (1836),
Revolta dos Marechais (1837), Revolta de Costa
Cabral (1842), Revolução da Maria da Fonte
(1846), Regeneração (1851). A acalmia foi-se
estabelecendo lentamente, acompanhada de medidas
de vasto alcance, entre as quais se distinguem as
de Costa Cabral (agricultura, comunicações,
cultura, administração), Fontes Pereira de Melo
(caminhos de ferro, estradas, telégrafo,
instrução agrícola e industrial) e Passos
Manuel (instrução primária, ensino liceal). É
abolida a escravatura e a pena de morte. Sá da
Bandeira decreta importantes providências de
interesse para as colónias. Revelam-se alguns
dos nossos melhores génios literários
(Herculano, Garrett, Castilho, Antero de Quental,
Oliveira Martins, Eça de Queirós) e artísticos
(escultores Soares dos Reis e Teixeira Lopes,
pintores Malhoa e Columbano). Em meados do séc.
XIX, o continente negro começa a despertar a
atenção das potências, que favorecem
expedições de exploradores e cientistas.
Portugal acompanha este movimento. Às viagens do
começo do século, como a de Silva Porto,
seguem-se as de Capelo e Ivens, Serpa Pinto e
António Maria Cardoso. As grandes potências,
começam, entretanto, a disputar a posse da
África e, em especial, dos nossos domínios. A
Conferência de Berlim (1884) fixa determinados
princípios basilares que levam os Estados a
delimitarem as fronteiras das colónias. A
Inglaterra, não concordando com as nossas
alegaçõe em favor da posse do território
situado entre Angola e Moçambique, impõe-nos a
sua vontade pelo Ultimato de 1890. Só então
Portugal inicia as campanhas de ocupação
africana, nas quais se distinguem Mouzinho de
Albuquerque, Paiva Couceiro, Alves Roçadas e
João de Almeida. O fim da monarquia liberal é
precipitado pela crise que sucedeu ao Ultimato.
Renasce a agitação política, e o Partido
Republicano, revigorado mercê dessa crise,
organiza uma revolução que rebenta no Porto, em
31de Janeiro de 1891, sem conseguir triunfar. As
lutas partidárias tornam-se mais violentas.D.
Carlos fecha o Parlamento e confia o governo a
João Franco, mas é assassinado em 1908. D.
Manuel II procura evitar, sem o conseguir, a
derrocada da monarquia. A República é
proclamada em 5 de Outubro de 1910 .
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Correntes literárias que o
influenciaram
Niilismo
O niilismo é a doutrina da
negação radical, da absolutização do nada. No
seu pessimismo radical, está latente a negação
do mundo, dos valores e da própria sociedade. Em
filosofia, o niilismo leva ao cepticismo, em
moral ao amoralismo e em política ao anarquismo.
O niilismo é fruto de uma opção vital: a sua
refutação, faz-se com uma opção contrária,
baseada esta na força da evidência, de uma fé
inabalável no sentido do mundo e da vida.
Satanismo
É a atitude assumida por certos
escritores, de revolta contra a divina
ordenação da existência e como culto
voluptuoso da danação, com a consequente
inversão dos valores éticos e profanação dos
actos litúrgico-religiosos.
Pampsiquismo
Pampsiquismo é a doutrina
segundo a qual toda a matéria é não só viva
mas também possuidora de uma natureza psíquica
análoga à do espírito. Renasceu com os
cientistas modernos, como E. Haeckel, como
fundamento da sua tese do evolucionismo
universal. Renegando a noção de criação,
buscam em vão no pampsiquismo a razão de ser
das características e finalidade verificadas em
todas as coisas existentes.
Petrarquismo
Movimento que surgiu com o poeta
e humanista italiano Petrarca. Cria do amor
irrealizável a imagem cristalizada de uma
perfeição incoruptível, que faz do tempo
humano um reflexo da eternidade divina. Ao mesmo
tempo exprime a sua divisão entre as
aspirações ascéticas e as seduções do mundo
por meio de múltiplos jogos de antiteses.
Realismo
O realismo é a disposição ou
tendência de conformar-se com a realidade ou de
considerar as coisas como elas são. Designa em
filosofia a doutrina que ensina a existência da
realidade independentemente do nosso
conhecimento, e o conhecimento desta, ao menos
dentro de certos limites. Tanto na literatura
como nas artes plásticas, o realismo pretende
dar a reprodução exacta da realidade, sem a
modificar, idealizar ou deformar. De um mesmo
objecto, pode haver um realismo que falseia a
realidade e um realismo que o revele com muito
maior objectividade.
Panteísmo
É a palavra grega que significa
«tudo é Deus» representando a doutrina
filosófica segundo a qual Deus e o mundo se não
distinguem no ser. Identifica Deus e o mundo, o
criador e a totalidade da criação. Há diversas
formas de panteísmo, que está na origem de
muitas religiões da Índia. Ignorando a
participação e a analogia dos seres, o
panteísmo não mantém a diferença ontológica
entre o finito e o infinito, entre a imanência e
a transcendência, assimilando os dois termos.
Exemplos de sistemas filosóficos subsidiários
do panteísmo são os de Espinosa e de Hegel.
Hegelianismo
Filosofia que intenta chegar à
compreensão da realidade total identificando-a
com o absoluto (Ideia) do qual a natureza e o
espírito não são senão formas sucessivas. E a
ideia absoluta desenvolve-se através de um
processo dialéctico de 3 fases: tese, antítese
e síntese. No hegelianismo não há lugar para
um Deus transcendente nem para a independência
da pessoa humana. A História, os povos, os
heróis, o direito, o Estado, a Arte, a religião
e a Filosofia não seriam mais do que formas
sucessivas de a Ideia ir tomando consciência de
si própria.
Socialismo utópico
O Socialismo surgiu como
movimento e doutrina político-económica que,
visando suprimir a desigualdade e as classes
sociais, preconiza a supressão da propriedade
privada dos meios de produção. O socialismo
começou por ser «utópico», isto é, é
igualitarista, cooperativista, mas sem uma
estratégia de poder, com o inglês Owen e
depois, em França, com Saint-Simon e Fourier,
entre outros.
Metafísica
Pretende-se, com esta disciplina
da filosofia, ultrapassar o domínio da
experiência e atingir o próprio ser e os seus
atributos essenciais, procurando, assim, resolver
problemas suscitados pela experiência, mas que
só encontram a sua solução num outro plano.
Deste modo, tem sido entendida, por oposição
às ciências positivas, como uma disciplina do
inteligível, das primeiras causas e dos
primeiros princípios como a definiu
Aristóteles.
Budismo
A doutrina de Buda tem como base
dois dogmas: reencarnação e libertação final.
O método da via de libertação consiste em
descobrir a realidade que existe para além das
aparências, superando as ilusões, as paixões e
a dor. Para o budismo a morte é sempre seguida
de um renascimento (reencarnação), o que
significa que o ideal seria a quebra desta
sucessão de mortes e renascimentos para se
atingir a extinção (Nirvana). O Nirvana é a
última etapa da existência que apenas se atinge
fora da Lei das acções (Karma) e da
reencarnação. .
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Questão Coimbrã
A Questão Coimbrã é a mais célebre polémica
literária portuguesa , tendo ocorrido entre 1865 e 1866.
A uma carta-posfácio, escrita por A. Feliciano de
Castilho, patriarca das letras e inserida num livro de
Pinheiro Chagas, respondeu Antero de Quental, com a
fogosidade dos seus 23 anos, publicando o opúsculo
Bom-Senso e Bom-Gosto. Vieram a lume mais de meia centena
de peças literárias e houve até um duelo (entre Antero
de Quental e Ramalho Ortigão). Fruto da Questão
Coimbrã foi o nascimento do naturalismo em Portugal. Com
a morte de Garrett e o afastamento voluntário das lides
literárias de Alexandre Herculano, ficou Castilho como
mestre único dos que cultivavam o Romântismo,
constituindo aqueles que se acolhiam à sombra do Mestre
a escola do Elogio Mútuo. Entretanto as doutrinas de
Conte e dos filósofos alemães apoderaram-se da
juventude coimbrã e Antero de Quental surgiu a chefiar
um grupo com ânsia demolidora dos conceitos velhos.
Contra Castilho e os seus seguidores, cuja mentalidade e
literatura estavam fechadas ao espírito inovador do
século. Antero publica em 1865 Odes Modernas e oferece
um exemplar a Castilho, seu velho mestre em S. Miguel.
Castilho agradece por carta, desenvolvendo
considerações críticas á poesia filosófica das Odes,
que lhe parece "aparatosa, pertenciosa,
impenetrável". Algum tempo depois, Pinheiro Chagas
publica o Poema da Mocidade, que traz como prefácio uma
carta dirigida por Castilho ao editor, elogiando o livro
e o seu autor e criticando severamente o grupo chefiado
por Antero. A resposta de Antero saiu imediatamente, num
opuscluo que intitulou de Bom Gosto e Bom Senso, para
demonstrar a banalidade da escola romântica e os
ridículos produzidos pelo grupo do Elogiu Mútuo. A
Escola de Lisboa e a Escola de Coimbra travaram então a
mais célebre luta literária que se travou em Portugal,
conhecida por Questão Coimbrã. Neste conflito tomaram
parte alguns escritores de grande nomeada: Teófilo
Braga, Pinheiro Chagas, Luciano Cordeiro, Camilo Castelo
Branco, Ramalho Ortigão, Brito Aranha, Teixeira de
Vasconcelos e muitos outros. Dele saíram alguns folhetos
igualmente célebres,entre os quais se destacam: Vaidades
Irritadas e Irritantes, de Camilo; Literatura de Hoje, de
Ramalho; A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficias,
de Antero. A Questão Coimbrã revestiu-se de alguns
aspectos impulsivos mas teve o mérito de imprimir um
abanão decisivo ao convencionalismo degenerado do
Romantismo e de chamar a atenção para as novas
correntes que apontavam para os problemas objectivos do
Homem e da Sociedade. .
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Conferências do Casino
As Conferências do Casino foram
um ciclo de palestras promovidas pelo grupo
cultural do Cenáculo, a que presidia Antero de
Quental. Das 12 previstas realizaram-se apenas 5,
de 22 de Maio a 19 de Junho de 1871. Pretendendo
os organizadores tratar «as grandes questões
contemporâneas com radicalismo»,criticando o
decadentismo e atraso da sociedade portuguesa,
foram suspensas pelo Governo. Uns jovens de
Letras formaram um grupo para discutir assuntos
das suas perferências artísticas, ao qual
decidiram chamar Cenáculo. Dele faziam parte
todos os rapazes de talento que viam no
Romantismo uma ideologia ultrapassada, muitos dos
quais haviam tomado parte activa na Questão
Coimbra: Antero de Quental, Ramalho Ortigão,
Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis, Guerra
Junqueiro, José Fontana, e outros jovens. Do
Cenáculo saíu a ideia de se organizar uma
série de conferências democráticas em cujo
program figuravam: Investigar como a sociedade é
e com deve ser; Estudar todas as corretes do
século; Ligar Portugal com os movimentos
Modernos. O grupo era formado por: Oliveria
Martins, Carlos Lobo de Ávila, Eça de Queirós,
Conde de Ficalho, Ramalho Ortigão, António
Cândido, Guerra Junqueiro, Carlos Mayer,
Marquês de Soveral, Conde de Sabugosa, Conde de
Arnoso, Antero de Quental. Protesto Contra a
proibição das Conferências É de Antero de
Quental o seguinte protesto, redigido no Café
Central, e levado às redacções dos jornais de
Lisboa: « Em nome da liberdade de pensamento, da
liberdade de palavra, da liberdade de reunião,
bases de todo o direito público, únicas
garantias da justiça social, protestamos, ainda
mais contristados que indignados, contra a
portaria que mandou arbitrariamente fechar a sala
das conferências democráticas. Apelamos para a
opinião pública, para a conciência libreral do
país, reservando-nos a plena liberdade de
respondermos a este acto de brutal violência
como nos mandar a nossa consciência de homens e
cidadãos.» Lisboa, 26 de Junho de 1871.
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