Esta página sobre Umbanda é um trabalho antigo, iniciado há quase 30 anos, quando começamos a freqüentar o "Centro de Umbanda Mamãe Óxun e Ogun Beira-Mar", situado no Bairro do Realengo, no Rio de Janeiro.
Escrever sobre este assunto é muito complicado, pois não existe um consenso sobre esta Religião, suas características, suas práticas.
Pela facilidade de se fundarem novos "Terreiros", surgem novos "tipos" de Umbanda, cada um de acordo com o entendimento e, até mesmo, as preferências místicas de quem funda um novo centro de prática da Umbanda.
Alguns dizem praticar "a verdadeira Umbanda", mas eu pergunto: ___ Será essa "verdadeira Umbanda" melhor, mais correta espiritualmente, ou será ela apenas uma nova modalidade, arquitetada por alguém com idéias diferentes?
Bem, não importa. Vamos procurar mostrar nesta página uma Umbanda como a que conhecemos há muitos anos atrás, descrevendo o que assistimos e passando adiante alguns conhecimentos e ensinamentos que recebemos, dos sacerdotes e das Entidades.
Aos Amigos e Irmãos que nos visitarem, peço que tenham paciência e leiam atentamente nossos textos. As críticas e comentários serão bem vindos. Também apreciaremos colaborações de textos, de fotos, de músicas (sonoras ou escritas), enfim, quaisquer colaborações.
Se desejarem, subscrevam-se na nossa Lista, a UmbandaList, na qual procuraremos um contato maior com os adeptos e simpatizantes desta Religião tão linda e tão desconhecida da maioria dos seus praticantes.
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UMBANDA é a designação nova de uma Religião antiga.
Desde tempos imemoriais o homem cultua seus Deuses ligando-os as formas ou elementos da Natureza. Assim, temos diversas Teogonias (1), dentre as quais se destacaram: a Egípcia, a Grega e a Romana.
Entre os Povos Negros da África desenvolveram-se diversas Teogonias, dentre as quais destacou-se a Teogonia dos ORIXÁS (2), Divindades que dominam os elementos da Natureza e secundam um Deus Principal (e único) no controle da Terra e seus habitantes.
Esta Religião dos Orixás chegou ate o Brasil, através dos negros africanos oriundos da região onde hoje se situa a Nigéria, trazidos como escravos, desde os primeiros anos do Brasil, ate o II Império.
Em virtude da desagregação do Culto dos Orixás, motivada pela disseminação proposital dos negros pelas diversas regiões brasileiras, miscigenando os diversos grupos, originou-se a UMBANDA, uma forma simplificada do modelo africano da Religião dos Orixás, a qual é, ainda, muito complexa, requerendo longo período de iniciação.
Essa nova forma de Culto dos Orixás mesclou-se de práticas estranhas ao modelo africano, tais como: Práticas Ocultistas, Espiritismo Kardecista, Religiões Orientais, Práticas Católicas e Práticas Ameríndias. Porém, a sua base permaneceu africanista, pois a finalidade principal da UMBANDA ainda é o Culto aos Orixás, o que é feito num arremedo(*) dos Cultos de Nação (3), os hoje chamados CANDOMBLÉS (4).
(*) Não queremos dar sentido pejorativo à palavra "arremedo", mas sim dizer que as cerimônias da Umbanda são semelhantes às dos Candomblés, claro que com variações.
Várias classificações têm sido dadas às formas de Umbanda praticadas hoje em dia, mas preferimos não entrar nesta questão por demais polêmica. Preferimos nos ater à descrição do que é, hoje em dia, a Umbanda praticada em grande número de Terreiros.
Para melhor compreendermos a Teogonia Umbandista vamos dividi-la em:
1) Panteão Africano
O Panteão Africano serve de base a Religião Umbandista, que cultua os Orixás nos moldes africanistas.
Esse Panteão (5) foi-se modificando através dos anos, permanecendo somente alguns Orixás, dos muitos que os Cultos de Nação ainda cultuam.
Para conhecermos o Panteão Africano ainda cultuado na UMBANDA, vamos usar o Quadro 1, onde estão discriminados os Orixás que são cultuados nos Cultos de Nação ou Candomblés e os cultuados na UMBANDA:
QUADRO 1
Candomblés | Umbanda | Observações |
Exu | Exu | Várias formas |
Ogun | Ogun | Várias formas |
Oxósi | Oxósi | Várias formas (*) |
Osanyin | Não cultuado | |
Obaluaiye / Omulu | Obaluaiye/Omulu | Como Exu, às vezes |
Iroko | Não cultuado | |
Oxumare | Não cultuado | |
Xangô | Xangô | Várias formas |
Oya | Yansan | Várias formas |
Óxun | Óxun | Várias formas |
Oba | Não cultuado | |
Ewa | Não cultuado | |
Yemanjá | Yemanjá | Várias formas |
Nanan | Nanan Buruku | |
Ibeji | Ibeijada | |
Obatalá | Oxalá |
Obs: Essas "várias formas" que citamos, correspondem aos vários nomes dados aos Orixás, ou seus 'falangeiros". Assim, temos vários Ogun: Matinata, Meje, Beira-Mar, Iara, Rompe-Mato etc, bem como vários Oxósi: Mata-Virgem, da Pedra Branca etc, ora confundidos com os caboclos falangeiros de Oxósi, ora com o próprio Orixá.
2) Panteão Umbandista
O Panteão Umbandista é uma reunião de entidades espirituais ligadas aos Orixás e se caracteriza pela grande quantidade destas entidades. Para melhor conhecermos esse Panteão vamos usar o Quadro 2.
OBS: o Quadro 2 mostra somente as entidades mais comuns, pois este Panteão apresenta diferenças em relação as regiões onde se pratica a UMBANDA.
QUADRO 2
Divisão geral | Subdivisão |
Exus (*) |
Da Encruzilhada |
Da Calunga (Cemitério) | |
Malandros | |
Ciganos | |
Marinheiros (*) | |
Baianos (*) | |
Linha das Almas |
Pretos-Velhos |
Caboclos (Linha de Oxósi) |
Da Mata (ou Caboclo de Pena) |
Boiadeiros |
Obs:
Este quadro apresenta apenas as entidades mais comuns que se apresentam nos Terreiros, pois o Panteão Umbandista difere de região para região.
(*) Os Exu de Umbanda diferem dos Exu dos Candomblés, pois "incorporam" nos médiuns e os Exu dos Candomblés não.
(**) Alguns Terreiros não consideram os Marinheiros e Baianos como Exus.
c. Divisões
Toda esta gama de Divindades foi organizada pelos Umbandistas em LINHAS (6) e FALANGES (7).
As Linhas caracterizam os agrupamentos de entidades em torno de um Orixá. Donde podemos concluir que as entidades que trabalham sob as ordens de um Orixá são a sua LINHA.
As Falanges são uma subdivisão da Linha, onde entidades menores ou secundárias aos Orixás trabalham sob as ordens dos Chefes de Linha (8). Para melhor compreensão, observemos o organograma abaixo:
ORIXÁ --> LINHAS ---> FALANGES
VAMOS EXEMPLIFICAR:
Tomemos por base o Orixá OGUN.
Este Orixá é secundado por entidades menores que tomam o seu nome - OGUN - e adotam um nome particular (MEJE, BEIRA-MAR, YARA, MATINATA etc). Estas entidades menores congregam outras entidades, sob as suas ordens, que adotam o seu nome. Observemos o organograma a seguir:
ORIXÁ --> LINHA --> FALANGE
OGUN --> MEJE --> OGUN MEJE
- o Orixá Chefe é OGUN;
- um dos componentes da Linha de OGUN é o OGUN MEJE;
- os componentes da Falange de OGUN MEJE chamam-se também OGUN MEJE.
NOTA DO AUTOR:
Grupos Umbandistas, com várias tendências, adotam muitas outras divisões e denominações. Alguns com influência Católica, outros com influência Ocultista. Aquela emprestando Santos para comandar Linhas, esta separando as Linhas cabalisticamente em número certo de componentes.
A Liturgia Umbandista é muito variada, pois cada agrupamento (Terreiro) tem características próprias, adotando a Liturgia adequada ao seu tipo e ritmo de trabalhos.
Para conhecermos a Liturgia Umbandista, vamos dividi-la em três partes básicas, comuns à quase totalidade dos Terreiros (9):
a. A Gira
Um denominador comum entre todos os tipos de Liturgia adotados é a GIRA (10), denominação talvez adotada do costume, ainda em prática, de se dançar em volta do esteio central do terreiro *.
As Giras normalmente se dividem em:
1) Gira Festiva
A Gira Festiva caracteriza-se pela comemoração de datas dedicadas aos Orixás, às entidades menores ou, ainda, por ocasião de datas ligadas à vida civil do Terreiro.
Nesta Gira Festiva nota se a profusão de cânticos (Pontos) em louvor ao Orixá ou entidade homenageado e a distribuição de comidas aos presentes. Há alguns casos de distribuição de brinquedos, roupas e gêneros alimentícios.
2) Gira de Desenvolvimento
A Gira de Desenvolvimento é destinada ao treinamento dos adeptos ao uso acertado das suas faculdades mediúnicas, bem como das práticas ritualísticas do Terreiro.
Geralmente este tipo de Gira não conta com a participação de público assistente, sendo quase que secreta.
3) Gira de Caridade
A Gira de Caridade destina-se ao atendimento do público, caracterizando-se, geralmente, pela presença de Caboclos, Pretos-Velhos ou Exús, podendo o público conversar diretamente com a entidade da sua devoção ou preferência, contando-lhe os seus problemas, recebendo os seus conselhos e passes magnéticos, que são prática constante entre todas as Entidades da UMBANDA.
Na Gira de Caridade realizam-se também as Correntes (11), destinadas a desobsessão dos consulentes, nas quais os "obsessores" (12) são atraídos ao Terreiro e doutrinados pelas entidades presentes, que afastam sua influencia negativa sobre o consulente.
* N.A. - O esteio central dos Terreiros já e, praticamente, desaparecido, talvez devido aos novos métodos de construção. Em seu lugar encontramos um buraco no centro do Terreiro, vedado geralmente por uma placa de cimento, onde se enterra o "axé" (13) da casa.
b. As Obrigações
Ha tempos atrás o termo "obrigação" era usado para designar um conjunto de oferendas e preceitos a cumprir, característicos de cada Orixá.
Hoje em dia, qualquer oferenda que se faça é denominada "obrigação". Se alguém faz uma oferenda para um determinado Orixá, diz sempre:
__ Eu fiz uma "obrigação" para o Orixá X.
Em alguns Terreiros essas obrigações são coordenadas de tal maneira que, ao termino delas, o adepto é considerado Iniciado ou "Feito no Santo", pois cumpriu todas as "obrigações" para com os Orixás.
c. Batismo, Casamento e Cerimônia Fúnebre
Estas cerimônias diferem muito de Terreiro para Terreiro, pois cada dirigente adota critérios próprios para realizá-las.
Procuraremos dar uma idéia geral sobre o que acontece quase sempre, quando da realização destas cerimônias de Batismo, Casamento e Fúnebres.
1) O Batismo
O batismo umbandista tem duas modalidades:
- o batismo de crianças
No batismo de crianças segue-se um ritual semelhante ao da Igreja Católica, contando com a presença de Entidades Espirituais.
- o batismo do Iniciando
No batismo de Iniciandos, geralmente feito nas cachoeiras ou praias, estes são consagrados ao seu Orixá Pessoal ou regente. Este batismo é geralmente chamado de "lavagem de cabeça".
2) O Casamento
O Casamento Umbandista não obedece a nenhum ritual pré- estabelecido. Cada Terreiro tem o seu próprio ritual de casamento. Alguns costumam "cruzar" (14) os noivos com "amaci" (15) e "pemba" (16). Outros já fazem este cruzamento usando as "curas" (17), características dos Candomblés.
3) As Cerimônias Fúnebres ***
Uma prática ha muito tempo em desuso na Umbanda é a das Cerimônias Fúnebres. No seu processo de aculturação com outras Religiões a UMBANDA abandonou as práticas do AXEXE, cerimônia fúnebre de origem africana, onde os mortos são cultuados durante alguns dias. Este AXEXE ainda é executado em muitas Casas de Nação ou Candomblés.
As práticas umbandistas sofrem influencia das várias práticas adotadas de outras religiões, porem as que predominam são as de origem africana. Para estudo abordaremos as seguintes práticas, mais comuns:
a. Amacis e "Cruzamentos"
Os Amacis (18) e "cruzamentos" são práticas comuns a maioria dos Terreiros Umbandistas, nas quais são utilizadas infusões de ervas maceradas para a lavagem da cabeça ("Fazer amaci") e para cruzar o corpo ("Cruzamento de corpo") dos adeptos, principalmente dos Iniciandos.
Os Amacis e Cruzamentos são uma espécie de pré-iniciacao, onde os adeptos iniciandos procuram obter melhores condições de contato com as suas entidades particulares.
Esta prática de amacis e cruzamentos está em processo de esquecimento, por falta de conhecedores das ervas principais dos Orixás.
b. Oferendas
A prática de oferendas, herdada dos africanos, e constante nos Terreiros de UMBANDA.
Geralmente usadas para agradar aos Orixás e entidades menores, as oferendas fazem parte do processo de iniciação, consistindo geralmente de comidas dedicadas aos Orixás. Porem, podem se constituir de materiais diversos, desde uma simples vela, ate grandes oferendas envolvendo animais de porte. É muito comum a oferenda de bebidas, velas, fitas e flores, guardando-se as grandes oferendas para ocasiões especiais, tais como iniciações ou "feituras de Cabeça".
c. A "Feitura de Cabeça" ou Iniciação
A "Feitura-de-Cabeca" (19) ou Iniciação , na UMBANDA, não adota padrões rígidos como os Cultos de Nação, onde a "feitura" é igual para todos os adeptos.
Este processo de iniciação na UMBANDA varia de Terreiro para Terreiro, conforme a orientação do seu dirigente. Geralmente esta iniciação estende-se por períodos de 7 anos, durante os quais o adepto se especializa nas práticas que envolvem a vida de um Terreiro.
Dentro da UMBANDA a prática mediúnica está quase restrita a chamada "INCORPORAÇÃO" (20), pois, todos os adeptos integrantes do Corpo Mediúnico deve, obrigatoriamente, possuir esta faculdade mediúnica. Porem, como toda regra, ha exceções. Existem Terreiros que se dedicam a práticas de Espiritismo Kardecista, além das de UMBANDA. Esses Terreiros "desenvolvem" seus médiuns (21) em diversas faculdades mediúnicas.
O desenvolvimento mediúnico geralmente é um período longo de treinamentos, nos quais os médiuns aprendem a controlar a incorporação das suas entidades particulares. Em muitos Terreiros esse treinamento fica por conta do médium, que aprende sozinho a controlar a sua mediunidade.
Esta faculdade mediúnica de "incorporação" é que faculta aos médiuns e adeptos o contato direto com as entidades que lhes são mais simpáticas, pois as mesmas "incorporando" nos seus médiuns, agem e falam normalmente, tratando assim diretamente com os adeptos.
A incorporação caracteriza-se por provocar um balanço incontido no médium, o qual fica como que desequilibrado, caindo de um lado para outro. O "desenvolvimento" é justamente o treinamento do médium a controlar este balanço. Nos médiuns mais desenvolvidos este balanço desaparece quase que totalmente, embora encontremos médiuns bem antigos que ainda não controlam a "incorporação".
Algumas das faculdades mediúnicas encontradas em um ou outro médium são: CLARIVIDÊNCIA, VIDÊNCIA (visão direta da entidade espiritual), AUDIÇÃO e INTUIÇÃO.
Para conhecimento geral vamos descrever as características que as entidades apresentam quando da incorporação. Estas características não são fixas, pois cada entidade tem as suas particularidades. Contudo, de um modo geral, é o que vemos nos Terreiros de UMBANDA.
Para melhor estudo do assunto dividiremos as entidades em dois grupos:
a. Os Orixás
- OXALÁ: Na UMBANDA não ocorre a incorporação de OXALÁ.
- OGUN: os falangeiros de OGUN quando incorporam emitem um pequeno brado (uuuu) e movem os braços simulando o movimento de uma espada. Alguns deles quando incorporam, o fazem de pé, outros, ajoelhados.
- XANGÔ: os falangeiros de XANGÔ quando incorporam emitem um brado gutural prolongado (Rulll!!!) e simulam chocar pedras ao peito, batendo com a mão fechada no mesmo. Alguns incorporam de pé, outros ajoelhados.
- OMULU/OBALUAIE (22): os falangeiros de OMULU/OBALUAIE são muito temidos, sem razão aparente, pelos umbandistas. A incorporação destas entidades geralmente é deitada, algumas vezes de joelhos, sendo prática corrente cobri-los com um pano branco. Não emitem nenhum som, ou então apenas sons guturais, e se movimentam muito pouco.
- OXÓSI: a incorporação dos falangeiros de OXÓSI fica por conta dos "Caboclos". Falaremos deles na parte dedicada as outras entidades.
- Óxun: as entidades falangeiras de Óxun, geralmente femininas (há também entidades masculinas, mas são raras), incorporam com uma particularidade interessante: muitas vezes vêm chorando.
Incorporam de pé e movimentam as mãos com as palmas para cima, a altura da cintura. Emitem um choro sentido e prolongado. Gostam de trabalhar com copos d'água nas mãos, com o que "descarregam" o ambiente.
- IANSAN: as entidades falangeiras de IANSAN são, geralmente, femininas (também há entidades masculinas). Incorporam de pé, movimentando a mão direita aberta, a altura dos ombros e mantém a esquerda segurando a ponta da saia. Emitem um brado vibrante, que se assemelha a sua saudação: Reiii !
- YEMANJÁ: as entidades falangeiras de YEMANJÁ, ao incorporarem emitem um canto prolongado e movimentas as mãos, com as palmas para baixo, simulando as ondas do mar. Incorporam de pé a maioria das vezes, porém algumas o fazem de joelhos e até deitadas.
- NANÃ BURUQUE: a incorporação de entidades falangeiras de NANÃ BURUQUE é muito rara. Quando o fazem, geralmente apresentam o aspecto de alguém de idade avançada, que anda curvado ao peso dos anos. Incorporam de joelhos e raramente emitem sons.
- IBEIJADAS ou ERES: a incorporação das IBEIJADAS é marcada pela alegria que essas entidades demonstram, organizando brincadeiras e fazendo graças aos presentes. Incorporam geralmente aos pulos, batendo palmas e falando como crianças. Ha algumas destas entidades que incorporam sentadas e chorando muito, sendo, por isso, alvo de brincadeiras por parte das outras "crianças".
b. Outras entidades
Do vasto Panteão Umbandista retiramos três tipos de entidades que são bastante comuns nos Terreiros de UMBANDA: os Caboclos, os Pretos-Velhos e os Exus.
- OS CABOCLOS: são os substitutos umbandistas do Orixá OXÓSI.
Considerados como falangeiros de OXÓSI, os Caboclos da UMBANDA fazem o papel de conselheiros, desobsessores e até curandeiros, ensinando aos adeptos o uso desta ou daquela erva, para este ou aquele fim.
Os caboclos se dividem em dois tipos: Caboclos da Mata e Caboclos Boiadeiros. Cada um desses grupos apresenta características próprias. Enquanto os Caboclos da Mata chegam bradando forte, os Caboclos Boiadeiros chegam "tangendo gado" e "rodando laço".
1) Os Caboclos da Mata
Apresentam características e denominações ameríndias, em particular do Brasil, mas, vez por outra, aparecendo caboclos de outras terras.
Também chamados "Caboclos de Penas", são uma caracterização ameríndia da UMBANDA.
Incorporam a maioria das vezes de joelhos, mantendo um dos pés a frente, simulando atirar flechas. Assobiam e emitem brados prolongados: Quiooo !
2) Os Caboclos Boiadeiros
Caracterizam-se por atitudes e gestos ligados aos sertanejos do Nordeste brasileiro. Estas entidades são uma expressão puramente brasileira, pois não se encontram "boiadeiros" estrangeiros nesta Falange, como no caso dos Caboclos de Penas.
Incorporam quase sempre de pé, simulando laçar e tocar boiadas. São muito alegres, gostando de toques rápidos nos atabaques. Emitem um brado prolongado semelhante a um aboio (23): Ei aaa !
- OS PRETOS VELHOS: a Falange dos Pretos-Velhos compõe a chamada "Linha das Almas", Linha esta ligada ao Orixá OMULU/OBALUAIE.
Uma das características interessantes desta Falange espiritual e a sua apresentação como velhos de origem africana, ex-escravos, pertencentes as muitas tribos ou nações que vieram para o Brasil, dai encontrarmos muitos deles com nomes tais como: Pai Joaquim D'Angola, Vovó Cambinda e Tia Maria Conga (do Congo).
Encontramos também, com muita frequência, denominações tais como: Tia Chica D'Aruanda, Vovó Luiza da Bahia e Pai Tome do Cruzeiro.
Os componentes da Falange de Pretos-Velhos caracterizam-se pela bondade e resignação com que tratam os adeptos que os procuram para uma consulta.
Como que fazendo jus ao seu nome (Pretos-Velhos), estas entidades incorporam de joelhos, aparentando pessoas de idade avançada. Falam bastante, a maioria das vezes engrolado. Fumam cachimbos ou cigarros de palha. São benevolentes e tratam a todos com amor e carinho, procurando sempre um lenitivo para as aflições dos que os procuram.
- OS EXUS: A Falange dos EXUS é a mais controvertida e mal interpretada dentro da UMBANDA. Originalmente considerados "Mensageiros dos Orixás", os Exus são hoje um misto de Deus e de Demônio, pois tudo que acontece de errado espiritualmente é imputado a ação dos Exus. Porem, esta entidade é muito apreciada pelos adeptos, pela relativa facilidade de resolver assuntos ligados a vida material.
A Falange dos Exus é muito vasta. Para estuda-la melhor, vamos separá-la em três classificações:
- Os Exus da Encruzilhada
Os Exus da Encruzilhada: são os Exus que se apresentam como tendo ligação com as encruzilhadas de caminhos. Originalmente esta entidade (Exú) é o controlador dos caminhos, sendo o seu lugar preferido os cruzamentos de caminhos (encruzilhadas).
Como exemplo de nomes de Exus da Encruzilhada podemos citar: Exú das 7 Encruzilhadas, Exú Marabo e Exú Tiriri, além do Exú Tranca-Ruas, bastante famoso.
Os Exus da Calunga: são os exús que se apresentam como tendo ligação com os cemitérios (Calunga). São os Exus ligados diretamente a Linha das Almas. Como Exus da Calunga podemos citar: Exú 7 Catacumbas, Exú Caveira e Exú das Almas.
- Outros Exus
Outros Exus: são componentes da Falange de Exú que se apresentam como tendo ligação com locais e povos, dos quais podemos citar: os Malandros, os Ciganos, os Marinheiros e os Bahianos.
A incorporação de Exus é muito variada devido ao grande número de entidades que integram a Falange. Vamos dividi-los em quatro grupos principais:
- Exus propriamente ditos
Os Exus da Encruzilhada e da Calunga podem ser considerados os reais falangeiros de EXÚ, os Exus propriamente ditos.
A incorporação dos Exus homens é geralmente de joelhos, flexionando o tronco para traz. Emitem gargalhadas ou sons guturais. Andam com movimentos bruscos e fumam charutos. Adotam nomes curiosos, tais como: Exú Pimenta, Exú do Vento e Exú Brasa.
A incorporação dos Exus femininos, chamados POMBA-GIRAS, é marcado por meneios graciosos, movimentos livres, sem contração. Incorporam quase sempre de pé, dão gargalhadas ou também emitem sons guturais. Fumam cigarros ou cigarrilhas. Adotam também nomes curiosos, tais como: Pomba-Gira das Almas, Maria Padilha da Encruzilhada e Pomba-Gira do Cruzeiro.
- Exus Malandros
Exus Malandros: esta espécie de entidades quase não é considerada como falangeiro de EXÚ. Incorporam de pé, na maioria das vezes dançando e exibindo passos de samba e capoeira. Falam normalmente, usam gírias e fumam cigarros. Há, hoje em dia, uma destas entidades que adota o nome de um dos Mestres do Catimbó (25) Nordestino: o "Ze-Pilintra", que alcançou grande fama nos terreiros de UMBANDA, mas trabalha completamente diferente do seu homônimo do Catimbó.
Nesta Falange também ha entidades femininas, as quais agem como mocas que gostam de jóias, perfumes e roupas bonitas. São faceiras e conversam muito.
Estes falangeiros de EXÚ usam nomes curiosos, tais como: Zé Pilintra, Chico Baiano, Maria do Cais e Rosa Vermelha.
- Exus Ciganos
Embora também não sejam considerados Exus, estas entidades fazem parte da sua Falange.
Caracterizam-se por modos e linguajar ciganos. Gostam de ler a sorte dos consulentes nas mãos e com as cartas. Movimentam-se normalmente, falam desembaraçado, ainda que usando expressões estrangeiras. Gostam de musica e adotam nomes ligados ao povo cigano ou que o lembram, como PALOMA.
NOTA: existe uma Pomba-Gira que se denomina Pomba-Gira Cigana, que age a maneira dos Exus Ciganos, mas com características mais ligados as dos Exus da Encruzilhada.
- Outros Exus
a) Marinheiros
Os Marinheiros são um tipo de entidades que tem por peculiaridade a afirmação de terem sido mesmo marinheiros ou pessoas ligadas ao mar. Sua incorporação é quase sempre de pé e sempre simulam estar bêbados, andando cambaleantes. Nem todos os Terreiros aceitam a incorporação destas entidades. Seus nomes geralmente denotam ligação com o mar: Chico do Mar, Zé Pescador etc.
b) Baianos
Os baianos também não são muito comuns nos Terreiros de UMBANDA. Sua incorporação é quase sempre de pé. Fumam charutos, bebem e conversam animadamente. Adotam nomes que, geralmente, tem incluído o "baiano" ou "baiana": Zé Baiano, Maria Baiana etc.
ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA DO TERREIRO
A organização religiosa de cada terreiro varia conforma a orientação do seu dirigente ou Sacerdote. Se esse Sacerdote adota mais acentuadamente o modele africano, usa denominações africanas para os cargos religiosos do seu Terreiro. Caso contrario, adota algumas formas comuns ou populares. Vejamos o quadro abaixo:
AFRICANOS | BRASILEIROS |
IYALORIXÁ | MÃE-DE-SANTO |
BABALORIXÁ | PAI-DE-SANTO |
IYAKEKERE | MÃE-PEQUENA |
BABAKEKERE | PAI-PEQUENO |
AXOGUN | MÃO DE FACA |
OGÃ | OGÃ |
CAMBONO | |
SAMBA | |
OMORIXÁ | FILHO-DE-SANTO |
A IYALORIXÁ e o BABALORIXÁ, respectivamente MÃE-DE-SANTO e PAI-DE-SANTO, são os Sacerdotes máximos de um Terreiro. Abaixo deles vem a MÃE-PEQUENA e o PAI-PEQUENO. Seguem-se os OGÃS, o AXOGUN ou MÃO-DE-FACA e os CAMBONOS e SAMBAS, variando de importância de Terreiro para Terreiro. Os FILHOS-DE-SANTO são todos os filiados ao Terreiro, sejam iniciados ou não.
Modernamente muitos sacerdotes dizem não serem Pais ou Mães de Santo, pois "Santo não tem pai nem mãe", preferindo denominar-se "ZELADORES DE SANTO". Contudo, desconhecem eles que o termo PAI-DE-SANTO ou MÃE-DE-SANTO é uma corruptela da tradução para o Português das palavras BABALORISA e IYALORISA, as quais significam "Pai ou Mãe NO (culto do) Orisa. Particularmente achamos uma demagogia, porém, como cada um é rei na sua terra, denominem-se eles como desejarem.
(1) TEOGONIA - Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso de um povo.
(2) ORIXÁS - Divindades dos Yorubás, um povo africano. Forcas da Natureza, que controlam os elementos. Divindades secundarias, auxiliares de um Deus principal, o qual chamam de OLORUN.
(3) CULTOS DE NAÇÃO - É o Culto aos Orixás praticado conforme se fazia nas antigas tribos ou povos africanos, cujos membros vieram como escravos para o Brasil. Hoje em dia encontramos Cultos das seguintes "Nações": Nagô, Keto, Ijexá, Gegê, Angola, Congo, Omolocô, Efan.
(4) CANDOMBLÉS - Originalmente o termo CANDOMBLÉ designava o local onde se dançava para os Orixás. Hoje em dia designa qualquer Terreiro que pratique os Cultos de Nação.
(5) PANTEÃO - Designação do agrupamento de deuses ou divindades característicos de um povo ou lugar.
(6) LINHAS - Agrupamentos de entidades subordinadas aos Orixás. Os componentes das LINHAS dos Orixás comandam as FALANGES.
(7) FALANGES - Grupos de entidades que trabalham as ordens dos CHEFES DE LINHA.
(8) CHEFES DE LINHA - Entidades principais entre as que são subordinadas aos Orixás. Comandas as FALANGES.
(9) TERREIRO - Designação popular do local onde se pratica a UMBANDA e os CULTOS DE NAÇÃO.
(10) GIRA - Nome popular das sessões de UMBANDA. Nos CANDOMBLÉS costumam dizer "TOQUE" (vou ao TOQUE).
(11) CORRENTES - Passes magnéticos em conjunto, onde se faz a desobsessão do consulente.
(12) OBSSESSORES - Espíritos que provocam malefícios as pessoas, ainda que inconscientemente. Geralmente não tem conhecimento da sua condição de espírito, ou então, agem por simpatia.
(13) AXÉ - Nome popular da Segurança do Terreiro. Conjunto de objetos ou materiais secretos, destinados a obter segurança e poder para o Terreiro.
(14) CRUZAR - Ato de passar alguma coisa em cruz nos consulentes (abô, amaci, pemba ou a mão).
(15) (18) AMACI - Liquido obtido da maceração de determinadas ervas em água. Também chamado de ABÔ (Nos Cultos de Nação).
(16) PEMBA - Pequeno giz branco ou colorido, originalmente obtido de argila especial africana, atualmente feita de gesso cré. (17) CURAS - Cortes ritualísticos executados nos Cultos de Nação. Tiveram origem nos cortes tribais, característicos de diversos povos africanos.
(19) FEITURA-DE-CABECA - Ou Iniciação. Conjunto de práticas religiosas que permitem ao adepto tornar-se um sacerdote.
(20) INCORPORAÇÃO - Faculdade mediúnica que permite a entidade espiritual usar a voz e o movimento do médium. Considera-se que a entidade esteja presente no lugar do médium.
(21) MÉDIUNS - Indivíduos que possuem faculdades mediúnicas, extra-sensoriais, que possibilitam o contato com entidades espirituais.
(22) OMULU/OBALUAIYE - Dois aspectos de um mesmo Orixá. Na forma OBALUAIYE apresenta-se como um jovem vigoroso. Na forma OMULU é um velho que se apresenta curvado ao peso da idade (Cultos de Nação).
(23) ABOIO - Canto plangente com que os vaqueiros guiam as boiadas.
(24) CALUNGA - Cemitério. Designa também o mar (CALUNGA PEQUENA = Cemitério, CALUNGA GRANDE = Mar).
(25) CATIMBÓ - Designação de um culto religioso que se pratica no Nordeste brasileiro. Em muitos locais de culto assemelha-se a UMBANDA.
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Esta é uma lista dedicada à Umbanda em particular, e ao Culto dos Orixás em geral. A participação é livre, porém não serão permitidas mensagens contendo: ataques ou ofensas pessoais, conteúdo preconceituoso, nem mensagens sobre outros assuntos. Subscreva-se e participe!!!
Meu nome civil é Carlos. Sou nascido na Cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
Há 25 anos atrás, fui iniciado no Culto dos Orisa pelo Babalorixá Otávio Kajuele, da Nação Nago, com origem em Recife, Pernambuco. Meu Eledá é Ogun OJUOKUN
Nos primeiros anos da minha vida no Culto, dediquei-me a aprender os meandros dos fundamentos do culto, suas práticas, seus cânticos, seus oráculos.
Como minha vida civil exigiu, mudei-me para Brasília em 1975, onde me dedico até hoje à divulgação da religião dos Orixás.
Não sou superdotado, nem possuo qualquer poder extraordinário, porém, dedico ao meu trabalho os mais puros sentimentos de fé, devoção e honestidade.