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Um Kalsum, a Voz do Egito

Concerto

Um Kalsum é a cantora e música deste século mais famosa e amada no Oriente Médio. Ela foi popular por 50 anos, e suas músicas ainda são muito ouvidas em todo o mundo árabe.

Por uns, é chamada de kawkab al-sharq (estrela do Oriente) e por outros 'imperatriz da música árabe', Um Kalsum, com uma voz imponente e clara, ainda pode ser ouvida diariamente nas rádios, nos cafés e táxis de todo mundo árabe. Mesmo tendo morrido há mais de duas décadas, suas letras de amor, canções nacionais e cânticos religiosos continuam atingindo milhões de pessoas. Seu público,como se entrassem na música, cantarolam ou choram, sofrendo, em resposta a suas mudanças de timbre, cheios de nostalgia e anseio, tocando a alma árabe.

Um Kalsum nasceu em 1908, numa família humilde de camponeses em Tamayet el Zahayra - uma pequena vila egípcia. Ela começou a carreira de cantora como uma camponesa pobre vestida de garoto, porque mulheres virtuosas não podiam cantar em público. Simultaneamente, estudava o Alcorão e assim aperfeiçoou sua língua. Durante casamentos e festas de família, ela recitava, com estilo tradicional, partes desse Livro Sagrado e das as-Sirah - cantigas que contam a história do profeta Mohammed e sua família. Mesmo quando nova, sua voz tinha um alcance emocional inigualável e espalhou sua fama através do Vale do Nilo.

1927, no Cairo

Em 1924 ela mudou para o Cairo, onde, nos anos seguintes, cativou fãs em todas as partes do mundo árabe, para os quais seus concertos eram um rito. Cada show se tornou um evento pan-árabe. Pessoas do Norte da África e do Oriente Médio, especialmente da península arábica, iam para o Cairo em toda primeira quinta-feira do mês com o único propósito de assistir a seus concertos, os quais, quase sempre, consistiam de apenas uma música que durava até as primeiras horas da manhã.

As músicas geralmente celebravam o milagre do povo árabe e de sua fé no Islamismo. Quase todas eram uma coleção dos grandes temas árabes, como amor, orgulho ferido e lembranças de uma paixão perdida. Elas juntavam os muitos golfos para unir os diversos fragmentos sociais do mundo árabe em uma só emoção. Diz-se que ela é responsável por manter viva a herança islâmica e as antigas poesias do deserto. Apesar de ter participado de muitos filmes, ela rejeitava músicas modernas e era fiel às músicas clássicas árabes consagradas.

Alta, com cabelos negros como o ébano, Um Kalsum era um enorme sucesso, e conseguia, com sua voz e palavras, criar uma atmosfera mágica e encantar seus ouvintes de um jeito que nenhum outro cantor árabe jamais tinha conseguido. Ela tinha uma voz com expressividade única, que arrancava risos de seus ouvintes ou até os fazia chorar.

A pouca distância do microfone, com um vestido de noite com botões de diamantes, ela torcia e apertava um lenço em suas mãos, à medida que sua voz, às vezes áspera e tensa ou entrecortada por pontadas de amor, alcançava tons impossíveis. Em outras horas, sua voz aguda que esticava ao soprano ou ao tenor e era pontuada, decorada e ecoada por sua orquestra, atingia profundezas cósmicas e causava uma mistura de saudade, melancolia e sonhos inalcançados.

Durante a Segunda Grande Gerra, suas letras tinham tamanha influência sobre os árabes que tanto os Aliados quanto o Eixo usavam os discos dela em seus programas transmitidos ao Oriente Médio. Mais tarde na década de 40 ela se tornou reconhecidamente líder da música árabe e sua vida se tornou a história do Egito moderno.

Depois de subir ao poder, Nasser se tornou muito próximo de Um Kalsum. Nos anos que se seguiram ela desfrutou de um status especial com esse jovem herói árabe - uma posição singular que nenhum outro artista jamais alcançou. Sua voz se tornou quase tão importante quanto os discursos do carismático Nasser. Para garantir uma audiência árabe grande, importantes notícias políticas eram transmitidas antes dos concertos de Um Kalsum. Daí a fala de que 'nos anos 50 dois líderes emergiram no Oriente Médio, Jamal Abd al-Nasser e Um Kalsum'. No entanto, mais do que Nasser, como a eterna Esfinge, essa voz dos árabes se tornou um símbolo nacional do Egito.

1967, no Marrocos

No mundo do esplendor artístico das décadas de 1950 e 1960, quando Um Kalsum se tornou o brinde do Cairo e uma heroína nacional, sua fama e adoração também alcançaram o zênite em outros países árabes. Alcunhada de 'Embaixadora das Artes Árabes', sua importância era tamanha que era recebida com a mesma cerimônia que altos membros do governo e levada em conta em planos para eventos importantes.

Durante seus anos de decadência, essa grande celebridade era uma mulher recatada e modesta. Ao contrário de muitos artistas árabes de nosso tempo, tinha orgulho de sua descendência árabe-islâmica. Em sua vida cotidiana seguia as tradições árabes e agia como uma pessoa comum. Isso a tornou querida pelo povo. Eles a idolatravam e pensavam nela como uma deles, se referindo a ela como al-Sitt. Uma humanista dedicada, distribuiu grande parte do dinheiro que recebeu para os pobres. Diz-se que, durante sua vida, ela sustentou pelo menos 200 famílias camponesas.

Um Kalsum morreu em fevereiro de 1975. O funeral foi guiado pela côrte presidencial e seguido por uma procissão de alguns quilômetros de adoradores. Estrelas de cinema, poetas, empresários, embaixadores e ministros caminhavam junto a milhares de fãs comuns, formando uma legião de chorosos. Da primeira fila da multidão até a última, o refrão 'Adeus! Adeus, nossa amada dama da música!' ecoava entre soluços. A despedida massiva de pessoas chorando perdeu apenas para a de Nasser - o maior funeral da história do Egito.

Por mais estranho que pareça, a morte não acabou com seu poder sobre as multidões no mundo árabe. Sua voz fenomenalmente poderosa e cativante ainda mexe com o coração de milhões. Mais de 20 anos depois de sua morte, a lenda Um Kalsum está viva entre os povos do norte da África e Oriente Médio. Mais de 300.000 fitas suas ainda são vendidas anualmente só no Egito. Parece que a magia da voz que fez sua audiência eufórica, pedido que ela repetisse as mesmas palavras várias vezes, não diminuirá com o passar dos anos. O ditado no Egito que duas coisas não mudam 'as Pirâmides e a voz de Um Kalsum' é talvez mais verdadeiro hoje do que quando esse rouxinol árabe andava sobre a terra.

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