História
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Se você sempre teve vontade de saber como surgiu um dos maiores fenômenos da história musical do Século XX, dê uma olhada no pequeno texto abaixo e saiba mais sobre esta incrível festa que começou à mais ou menos 15 anos e não tem hora para acabar! A história do House é a história que os livros não contam... Para podermos entender como surgiu este fenômeno musical, temos que voltar alguns muitos anos atrás, na década de 70. Isso mesmo, as raízes da Dance Music estão na Disco Music ou "Discoteca" e no famoso som da Philadelphia. De início, podemos dizer que se trata realmente de um fenômeno, pois surgiu nos Estados Unidos, sem nenhum apoio de rádios, atravessou o Atlântico, foi parar na Inglaterra onde explodiu, mais uma vez sem nenhum apoio da mídia, e conquistou as paradas de sucesso de toda a Europa. Começando do começo. O termo House está relacionado à um antigo clube chamado "The Warehouse", localizado em Chicago (o berço do House). Neste clube, havia um DJ chamado Frankie Knuckles, que mixava velhos clássicos da Disco Music (então vivendo um período de decadência) com novidades do recém-criado Synthpop, originário da Europa. Ele jogava tudo junto, de Kraftwerk à Donna Summer, passando por Telex, Depeche Mode, New Order, OMD e etc... Mas ele não mixava, apenas. Ele dava uma nova dimensão às músicas com arranjos diferentes e batidas mais aceleradas. Na verdade, Frankie era (é) mais do que um DJ. Era um verdadeiro arquiteto de som, que inovou completamente a arte de mixagem. Hoje, ex-frequentadores assíduos do Warehouse afirmam com convicção que a espinha dorsal da atual cena dance estava nos velhos clássicos "Philly" (de Philadelphia) como as músicas de Harold Melvin, Billy Paul, The O'Jays, mixados junto com Disco hits e Synthpop europeu. Vale lembrar também que, nesta época, entrava em cena uma novidade tecnológica até então desconhecida no mundo pop: a bateria eletrônica, o principal instrumento da House music. A virada dos anos 70/80, é muito subestimada pelos críticos musicais, mas temos que observar alguns fatos. A evolução tecnológica deixava os laboratórios para aterrisar em nossas casas. E alguns aparelhos de última geração faziam a alegria do consumismo capitalista: videocassete "betamax", stereo system com duplo deck, vídeogames Odissey e Atari, carros cada vez mais modernos, Walkmans gigantescos, computadores XT e por aí vai. E a evolução surgia por todos os lados, não podendo passar despercebida pelo mundo da música. Nesse contexto, vejamos a pequena companhia fabricante de instrumentos musicais Roland. o lançamento de duas máquinas conhecidas como TB-303 e TR-606 mudariam a música como conhecida. A primeira era uma máquina geradora de linhas de baixo (basslines) e a segunda era uma bateria eletrônica, ainda rudimentar. Aqui, podemos destacar uma mudança filosófica fundamental da virada 70/80: aquela velha concepção de união e fraternidade típicas das pistas de dança setentistas (como mostrado no filme "Embalos de Sábado a Noite"), era solenemente abandonada, dando lugar ao "faça você mesmo", ou seja só eu, e eu e meu umbigo. Assim, aquele guitarrista que tinha horror em trabalhar com outras pessoas, poderia ter um baixista e um baterista fazendo exatamente o que o artista mandasse. Nada de conflitos éticos e morais. A bateria eletrônica da Roland vinha também para suprir uma carência básica da nova música que se anunciava: é espantoso mas é fato que muitos bateristas se recusavam a tocar compassos repetidos milhares de vezes. Sendo assim, uma música só de batidas 4/4 era veementemente recusada pelos egocêntricos bateristas (que só perdem em ego para os guitarristas). Sendo assim, a Roland lançava a solução para muitos (e desemprego para outros tantos), pois disponibilizava uma máquina que não tinha frescura em tocar este ou aquele estilo musical. Mas dois fenômenos puderam ser observados: 1º) A bateria TR-606 era de certa forma "artificial" demais para um músico mais purista, o que fez com que o aparelho relativamente fracassasse em vendagens. O que impulsionou um pouco a venda do TR foi mesmo o TB-303, que tinha um dispositivo de vínculo (uma espécie de MIDI rudimentar) com a bateria eletrônica, o que trazia uma grande facilidade para o músico que trabalhava com sequenciadores. 2º) Pode parecer ridículo, mas essas maravilhas da tecnologia estavam muito a frente de seu tempo, e não foram muito utilizadas na época de seu lançamento, visto que a música tinha regras pré-definidas, e instrumentação eletrônica não fazia parte deste cardápio. A Roland, que não era boba nem nada, decidiu investir nessa área, e lançava máquina atrás de máquina. Sintetizadores para todos os gostos (e, principalmente, bolsos), e as drum machines evoluiam cada vez mais. Esta evolução culminaria no lançamento da bateria TR-909 (a máquina fundamental do House) e o sintetizador D-50, outra obra-prima que pode ser ouvida em quase todas as primeiras gravações House. O maquinário já estava quase pronto. Só faltava uma coisinha: o padrão de interligação de instrumentos musicais "MIDI". Lançado em 1983, agora era possível ligar um monte de sintetizadores e drum machines juntos e sincronizados. Sem dúvida uma revolução que será levada ao seu limite, com o surgimento da Dance Music eletrônica. Voltando ao Warehouse, podemos também destacar a figura de um cara que era "cadeira cativa" no lugar. Um jovem e misterioso rapaz cujo estilo lembrava muito o histórico George Clinton e que atendia pelo modesto nome de "Professor Funk". Ele baixava na pista de dança no início do baile e só saia quando Frankie acabava de mixar o último vinil. Também cantava estranhas melodias (hoje conhecidas como Acid House) como "Work your Body" e "Visions", vestido como um rei inglês da idade média. Era um homem de visão e sabia que aquele som, mais tarde, iria dar origem a um produto completamente diferente do atual. O Techno. Agora, um pouquinho de filosofia. Na metade dos anos 70, a Disco Music ainda era um fenômeno "underground". Neste cenário, pecado e salvação foram mixados juntos criando um som mais ou menos decadente e devocional, como uma reza, um lamento. Era um tipo de Disco diferente do padrão, e que foi amplamente explorado por selos de Disco Music, principalmente de Nova York. Basicamente, era um estilo que pegava a sonoridade da Philadelphia e misturava tudo com vocais "Gospel" de cantoras como Loleatta Holloway (as "Disco Divas" que, mais tarde, seriam "House Divas"). Neste momento, podemos verificar as influências usadas pelos primeiros House hits. Para Frankie Knuckles, o House não é um produto da Black Music, mas uma completa re-invenção da Dance Music do passado. O House era um liquidificador que misturava pista de dança e igreja, jogando tudo nos clubes, absolutamente sem nenhuma propriedade religiosa. Na verdade, a religião sempre esteve ligada às raízes do House. A maioria dos DJ's de Chicago admitem uma "dívida" para com os anos 70 e, particularmente, o original "Disco mixer" Walter Gibbons, um DJ que tornou populares as técnicas básicas de mixagens e foi pioneiro ao traçar o caminho do "Duplo Deck" para a produção de estúdio. Estranhamente, durante o apogeu da era Disco, o cara largou tudo e se converteu novamente ao Cristianismo, voltando à vida religiosa. Isso criou uma lacuna que foi preenchida por outros "DJ's Produtores" como Arthur Baker, François Kervokian e Farley "Jackmaster" Funk. Todos já encaravam Walter como uma lenda da Disco Music. Então, o cara resurgiu em 1984, justamente na "hora do parto" da música House e, claro, causou um tremendo impacto. Ele lançou um "12 polegadas" independente chamado "Set it Off", que criou um frisson no "Paradise Garage" um reduto gay em Nova York, onde Larry LeVan era o DJ residente. Em algumas semanas, a música ganhou outras versões e inúmeros remixes. Tecnicamente falando, "Set it Off" soava como um house primitivo, contando com batidas repetitivas (característica do gênero), ideais para mixagens. Rapidamente, a música se tornou um hino underground, encontrando seu habitat natural em Chicago, onde DJ's como Farley "Jackmaster" e Frankie Knuckles detonavam nas pistas de dança e, regularmente, nas estações de rádio. O termo Jackin' tornou-se popular entre os novos "clubbers" e pode ser traduzido como dançar e absorver a música como um todo, tornando-se 1 só. A criatividade dos DJ's estava à mil. Frankie pegava velhas gravações como "Let no man put Asunder" (First Choice), "Heat you Up (Melt you Down)" (Shirley Lites), Eurobeats como Depeche Mode, The Human League, BEF, Telex e New Order, mixava com os discursos de Martin Luther King (imaginem!) e o barulho de trens em alta velocidade, obtendo uma sonoridade de outro planeta, pelo menos para a época. E ele teve muitos discípulos. Um deles, um jovem chamado Tyree Cooper ficou impressionado com o fato de Frankie colocar palestras de Martin Luther King nas mixagens. Então, ele revirou a discoteca de sua mãe e encontrou uma gravação feita durante o sermão do reverendo local. Ele pegou a gravação e fez a mesma coisa que Frankie, criando uma moda entre os DJ's de Chicago. E não pára por aí! Tyree se juntou á "DJ International Records" e lançou mais uma música "I Fear the Night", contando com os vocais de uma estudante que fazia parte do coral da igreja de sua mãe. Ela se chamava Darryl Pandy e ainda participou dos vocais de uma das músicas de Farley "Jackmaster" Funk: "Love can't turn Around", que alcançou o 1º lugar na parada Britânica. Como podemos ver, o House teve suas influências não só na Disco Music como também no Gospel . O sucesso mundial do House veio, contra todas as previsões. Na época, Nova York e Los Angeles eram as capitais musicais dos EUA e não havia espaço para sucessos regionais nas paradas. De acordo com os gurus do House isto favoreceu a criatividade no início do período fazendo com que os artistas transformassem a pobreza de recursos em riqueza musical. Começaram a surgir vários selos independentes. O primeiro foi o "Rock Jones International", uma relativamente pequena companhia que se transformou numa mega distribuidora de gravações feitas por DJ e, por consequência, um selo dance transnacional! Neste ponto, em 1986, o House já era um fenômeno mundial. Gravações eram prensadas, uma atrás da outra, para dar conta da demanda que surgia. Em alguns meses, todos os meios de comunicação ligados à música se curvavam diante do fenômeno de Chicago. Lá, podemos destacar duas rádios que faziam crescer ainda mais o time de artistas: a WGCI e a WBMX, que contavam com a presença regular do "Hot Mix 5", um grupo de DJ's que mixava Dance Music durante noites inteiras, sem parar. Importante ressaltar também o "Power Plant Club" que ficava aberto todas as noites, de segunda à segunda, carregando a tocha que foi do Warehouse. Competições inevitáveis entre "DJ International" e outros selos começaram a aparecer. A mais importante foi o selo "Trax" que acabou lançando alguns dos maiores clássicos do House. No Trax, podemos destacar a figura de Marshall Jefferson que lançou, pelo Trax, dois de seus maiores hits: o épico 120 BPM "Move your Body" e a faixa "Ride the Rhythm". Especialistas dizem que "Move your Body" foi o hino da House Music. A reputação de Marshall Jefferson rivalizava com a de um certo Adonis, que lançou o faixa "No way Back" que foi o segundo maior sucesso do Trax vendendo mais de 120.000 cópias, um número absurdo, se considerarmos que se trata de uma gravação independente. Tanto Marshall como Adonis são figuras importantíssimas da cena, tendo sido fundamentais para o seu desenvolvimento. Nesse momento, além do incrível sucesso dos selos "DJ International", "Underground" e "Trax", haviam incontáveis selos menores (mas não menos importantes) como "Chicago Connection", "Dance Mania", "Sunset", "House Records", "Hot Mix 5" (do qual fazia parte Ralphi Rosario), "State Street" e "Sound Pak". E, além de Farley "Jackmaster" e Frankie Knuckles, existiam muitos outros músicos como Full House, Ricky Dillard, Fingers Inc. e Farm Boy. O novo estilo começou a viajar pelo país, aterrisando em Detroit e Nova York sendo alvo das atenções de produtores importantes como Derrick May (Detroit) e Arthur Baker (de Nova York, que já conhecia um pouco da novidade). Londres também absorveu muito bem o House, sendo sua "segunda casa". Lá, o produto vindo dos States caiu nas mãos de um grupo de rapazes chamado M/A/R/R/S, que alcançou as paradas britânicas como um relâmpago com uma brilhante "colagem" chamada de "Pump up the Volume". (falaremos sobre colagens mais tarde). A música atingiu o topo em questão de dias. A partir daí, o House era de todos. Ele se infiltrou na cultura latina e hispânica, caindo como uma luva. Poucos estilos na história são tão versáteis. E lá estavam novamente os visionários Mario Diaz, Ralphi Rosario, Two Puerto Ricans, Kenny "Jammin'" Jason, entre outros para conduzir o casamento House/Latinidad. Mas, como nem tudo é criatividade, os DJ's de Chicago começaram a se acomodar na nova descoberta, fazendo com que ela começasse a ficar um tanto repetitiva. Era fácil identificar uma gravação proveniente daquela cidade. A mesma batida, a mesma atmosfera... Inevitavelmente esta situação começou a mudar. Então, nos idos de 1987, eis que surge uma nova tendência no mundo da Dance Music, caracterizando o que seria a "segunda geração do House". Era um som mais profundo, mais sofisticado (devido a todo o avanço tecnológico na área da instrumentação eletrônica), mais "cool", invocando estranhas "imagens" e atitudes que lembrava um indução por drogas. Isso foi comprovado com o sucesso estrondoso de uma música de um grupo chamado Phuture: "Acid Tracks". Esta foi uma gravação muito importante e serve como marco desta "nova" tendência. E revelava um novo mundo clubber em que o LSD e o Ecstasy (novidade na época) faziam parte. Mas, segundo Frankie Knuckles, "O House não é mais 'drogado' que outras cenas". Estamos agora na segunda geração do House. Sobre o uso de drogas, nenhuma das autoridades da cena House foi objeto de abuso de drogas mas, estava clara uma certa influência da música "Acid Tracks" (citada acima), que levou o House a um estágio mais avançado na sua concepção. Era um certo futurismo, uma psicodelia que induzia ao transe. Mas, os DJ's londrinos já tinham um nome para essa "coisa": Trance Dance. As raízes do Trance Dance não podem ser encontradas no Rock psicodélico dos anos 60 mas, ironicamente, na Europa dos anos 70, através de músicas altamente sintetizadas em instrumentos analógicos como "Trans Europe Express" e "Numbers" do Kraftwerk. O Trance Dance começou a se estabelecer em Chicago como o futuro do House. Com a segunda geração, veio a explosão em nível mundial. Em Londres, rádios piratas exploravam o verdadeiro potencial do House. A ética "faça você mesmo" da música atraia jovens DJ's munidos de equipamentos baratos e que construiam verdadeiras pérolas, desafiando a dinâmica das grandes gravadoras, sendo sempre mais rápidos que elas. Selos britânicos independentes tomavam as paradas de surpresa, ficavam 1 ou 2 semanas e desapareciam, mostrando o forte apelo comercial que reinava nas mentes dos artistas. Durante a primavera de 1988, um grupo de DJ's londrinos levou suas pick-ups para dentro dos estúdios. Aqui, surgem duas figuras fundamentais para definir a segunda geração: Tim Simenon e Mark Moore. Tim Simenon era nada mais nada menos que a pessoa por trás da organização Bomb the Bass, que era seu pseudônimo e o selo para o qual trabalhavam os outros artistas ligados à ele como Pascal Gabriel e a vocalista Maureen Walsh. O Bomb the Bass foi pioneiro no uso de outras fontes na construção das músicas, como comerciais de TV, seriados, filmes de cinema, sons de outras músicas, etc... caracterizando o que chamamos "Colagem" (lembra quando falamos sobre elas lá atrás?). A música "Beat Dis" foi lançada logo depois do marco "Pump up the Volume", alcançando um enorme sucesso nas paradas britânicas. Já Mark Moore usando o nome S-Express teve uma incrível repercussão com "Theme from S-Express". Resumindo: DJ's com enormes coleções de discos e um grande conhecimento de breaks, beats, bits e outros sons juntavam tudo num caldeirão, mexiam tudo, serviam nas rádios (principalmente as piratas) e conquistavam o paladar dos "gourmets" da música. Estamos, agora, no verão de 1988, o "Summer of Love", onde o bonequinho "Smiley" se tornou o símbolo oficial da cultura House. Este verão foi o mais marcante para a Dance Music, pois definiu completamente os rumos que esta tomaria. Eis que surge, então, o Acid House. O Acid começou a tomar as paradas com sua nova filosofia de vida. O termo "Acid" está diretamente ligado às drogas e ácidos que habitavam (e vão habitar sempre) as noites de dança. Isto foi o bastante para que os tablóides e revistas especializadas começassem uma verdadeira histeria em relação ao termo e, pior, ao tipo musical. Diariamente, crescia a fobia, que culminou na estilização do termo como um verdadeiro palavrão! Músicas como "We Call It Acieeed" de D. Mob alcançavam sempre os primeiros lugares nos "charts" ingleses e suas frases típicas começaram a fazer parte da conversação diária dos jovens ingleses. Quando esta música atingiu o primeiro lugar, as rádios (inclusive a BBC) se recusavam a tocar a dita música, ignorando os insistentes pedidos dos ouvintes. O ponto alto da discussão foi um debate nacional, promovido pela rádio BBC, discutindo a aceitabilidade da nova onda. Resultado: a condenação da música e do "Smiley". Enquanto os ingleses discutiam o sexo dos anjos, na Ámerica, a criatividade e o talento continuavam a render bons frutos. Um deles se chamava Todd Terry, um jovem vindo do Brooklyn que acabou se tornando um dos papas da Dance Music. Todd é um filho do House, tendo passado boa parte de sua adolescência dentro de clubes, absorvendo todo seu encanto e sua cultura. E a próxima década prometia muito ao jovem Todd, em sua jornada pelos ritmos dançantes. Seus então futuros trabalhos com cantoras como Martha Wash, Jocelyn Brown e Shannon (1996/98) provam toda a sua habilidade em misturar sonoridades antigas (Disco, Break, etc...) com a modernidade tecnológica dos instrumentos digitais. Os anos 90 trouxeram a glória para o House e sua fragmentação em diversos caminhos, todos levando a um lugar comum. No início da década podemos acompanhar o surgimento do Eurodance e seus maiores expoentes como Technotronic, 2 Unlimited, Culture Beat, Snap e outros. O House propriamente dito estava sendo carregado por artista como Black Box, Inner City, Lee Marrow, C+C Music Factory e The KLF, que eram presenças constantes nos Top 10's da vida. E surgia também uma nova concepção artística: a descartabilidade. Na época, alguns grupos apareciam do nada, colocavam um hit no ar e, depois, voltavam para o nada. Os períodos variavam de 6 meses à 1 ano. Só para comparar, hoje (ano 2000), um artista techno costuma aparecer nas paradas, ficar 2 semanas e, depois, desaparecer completamente. É a era da descantabilidade. Para uns, isso é bom pois mostra que a Dance Music está sempre se renovando, ao contrário do Rock. Para outros (como eu), isso não é tão legal, porque sempre nos apegamos a determinado artista e acabamos querendo saber mais sobre ele. No fim das contas não ficamos sabendo nada! Vindo também como uma herança dos anos 80, temos o trio Stock, Aitken e Waterman, produtores que dominaram a cena House à partir de 88 e seguiram até mais ou menos 95. Suas obras incluem artistas como Kylie Minogue, Rick Astley e Jason Donovan, e trabalhos com artistas já renomados como Donna Summer (diva Disco que pegou uma "carona" no House) e Bananarama (avós das Spice Girls). Seus últimos trabalhos (com as cantoras Serena, Tatjana e Nicki French) bombaram as pistas de dança até 1996. Depois, sumiram das paradas. Paralelamente, um estilo seguia sempre "à sombra" do House: o Techno. O Techno não interessava muito às grandes gravadoras por não ter apelo comercial (segundo elas) e estar voltado à um público mais dirigido (clubbers). E, enquanto o House bombava as paradas, o Techno bombava as pistas e já dava sinais de desmembrameto em outras vertentes ainda mais bizarras como o Jungle, Drum'n Bass e, o mais "estranho" (e legal): o Trip Hop, que reune elementos do Hip Hop com Bossa Nova e toda uma ambientação teatral. São músicas para se ouvir no escuro e meditar... Basicamente e tecnicamente falando, o Techno era diferente do House por ter uma batida mais acelerada (voltada quase que exclusivamente para as pistas de dança) e uma certa ausência de vocais (praticamente fundamentais ao House). Isso causava estranheza nas pessoas e a rejeição das grandes gravadoras, fazendo do Techno um produto completamente "undergound" que ninguém sabia definir, ao certo. Isso só começou a mudar pelos idos de 1996, com o surguimento de centenas de gravadoras alternativas e de grupos como Underworld, Daft Punk, Robert Miles, The Crystal Method, etc... Também temos o fato de artistas renomados como Everything But the Girl e U2 aderirem à sonoridade disforme do Techno, transformando sua música já consagrada e levando-a à novas dimensões. Em 1997, chegou a hora! O Techno invadiu a Europa e América, transformando, mais uma vez, suas paradas de sucesso. Tivemos neste ano, na minha opinião, os melhores lançamentos musicais da década, onde incontáveis artistas assumiam uma identidade nova, adicionando a música eletrônica ao seu repertório. Depeche Mode, Duran Duran, Tori Amos, Ultra Naté e Erasure são apenas alguns exemplos. Pronto! o Techno já era mídia. E tome coletânea de "Techno farofa", artistas querendo copiar outro, samples descarados, e batidas manjadas. Mas, enquanto as gravadoras enchiam os bolsos de grana a custa dos "Orbital's" da vida, a comunidade clubber já estava em outra... A essa altura, o BPM já ultrapassava os 150. E surgem com toda força o Trance e o Drum'n Bass. O Trance era dedicado aos orfãos do House e Techno underground e faziam a alegria dos eternos e incansáveis clubbers, que pulavam e se "extasiavam", se é que vocês me entendem. 1999 foi o ano em que o Trance explodiu mundialmente como o som do século XXI. É claro que a música Pop precisava adotar essa sonoridade e, mais uma vez tal como o House e o Techno, o Trance vira Pop. Trance Pop é um produto de venda. Aqui, temos Alice Deejay, Paul Van Dik, ATB, Chicane, Sash! e etc... Mas isso não desmerece a música, que tem uma sonoridade alegre e melodias que todo mundo sai cantando. Resumindo, para tocar em rádio. Mas e o House? Nesta altura, o House também evoluia. E podemos ressaltar uma pequena inversão: as gravadoras descobriram o filão que era o Techno e acabaram deixando o House meio de lado, visto que este já dava sinais de desgaste. O Eurodance também continua sua jornada, só que mais na Europa do que no resto do mundo. Mas, a sonoridade mudou muito pouco (ainda bem!) e seu lugar no velho continente já está mais do que garantido! Mas, graças aos DJ's, o House continuou sua eterna mutação, tornando-se diferente e mais underground, retornando ás raízes. Hoje temos artistas que retratam bem o espírto House de experimentalismo e improvisação, como Moloko, Basemment Jaxx, Eiffel 65, Avant Garde, Orbital, Daft Punk, Paths and Small, Gala, David Morales, Vengaboys e muitos outros. Vale lembrar que muitos dos artistas citados produzem seus álbuns EM CASA, em seus quartos. Nada de revestimentos acústicos caríssimos e aquela parafernália de estúdio (caso do Daft Punk). E, provavelmente, esta evolução nunca vai parar. É provável até que este texto, daqui à alguns dias, esteja desatualizado. Mas, não seria este o verdadeiro espírito da Dance Music? |