2.
periodicidade e pulso
A onda sonora é um sinal oscilante
recorrente, que retorna por períodos (repetindo certos padrões no
tempo). Isto que dizer que, no caso do som, um sinal nunca está só ele
é a marca de uma propagação, irradiação de freqüência.
Para dizer isso, podemos usar uma metáfora
corporal: a onda sonora obedece a um pulso, ela segue o princípio da
pulsação bem a propósito. É fundamental pensar aqui nessa espécie de
correspondência entre as escalas sonoras e as escalas corpóreas com as
quais medimos o tempo. Porque o complexo corpo/mente é um medidor de freqüências.
Toda a nossa relação com os universos e psíquicos, com os quais
jogamos, ao ler o tempo e o som.
No nível somático, temos principalmente o
pulso sangüíneo e certas disposições musculares (que se relacionam,
sobretudo, com o andar e suas velocidades), ale, da respiração, A
terminologia tradicional associa o ritmo à categoria do andamento, que
tem sua medida média no andante, sua forma mais lenta no largo, e as
indicações mais rápidas associadas já à corrida afetiva do allegro e
do vivace (os andamentos se incluem num gradiente de disposições físicas
e psicológicas). Assim, também, um teórico do século XVIII sugeria que
a unidade prática do ritmo musical, o padrão regular de todos os
andamentos. Seria “o pulso de uma pessoa de bom humor, fogosa e leve, à
tarde” (!)2 Os
indianos usam o batimento do coração ou o piscar do olho como referência,
esse último já próximo de uma medida mais abstrata como aquela que
certos teóricos chamam “duração de presença” (a maior unidade de
tempo que conseguimos contar mentalmente sem subdividi-ia). Essa seria uma
unidade mental, relativamente variável de pessoa para pessoa e que, como
também os defensores da música "in natura", é mais importante
do que o tempo mecanizado do metrônomo e a cronometria do segundo.3 O
fundamento dessa unidade de presença estaria possivelmente em certas freqüências
cerebrais, especialmente no ritmo alfa (sobre o qual voltarei a falar, por
causa de sua importância para o caso das ondas sonoras) e que alguns
consideram como o ritmo (ou, mais exatamente, o pulso) cerebral que serve
de base à interpretação dos demais ritmos. Os
sons são emissões pulsantes, que são por sua vez interpretadas segundo
os pulsos corporais, somáticos e psíquicos. As músicas e fazem nesse
ligamento diferentes freqüências se combinam e se interpretam porque se
interpenetram. |