2. AUTONOMIA E TRABALHO
A questão referente ao mundo do trabalho é de vital importância para o entendimento da autonomia. Justificamos isto porque as condições de trabalho não estão desvinculadas das condições gerais de vida do indivíduo (e vice-versa). Assim, as transformações, exigências e pressões na esfera do trabalho refletem-se em sua vida social, cultural e política. Porém, na sociedade globalizada, as esferas são autônomas (no sentido de que não há determinação de uma sobre as outras), mas relacionadas.
Reportando-nos ao período de 1945 a 1973, tivemos um conjunto de práticas utilizadas pelo capitalismo que se caracterizou como "fordista-keynesiano". Neste, o princípio era "uma empresa, um produto". Para isso, a empresa adotava a verticalização (dominando, das fontes de matéria-prima aos sistemas de transportes) e a produção era em massa.
Expandiu-se a burocracia, a qual fazia com que o indivíduo ocupasse uma posição marcadamente definida na divisão do trabalho. Na cadeia de comando, o trabalhador se encaixava numa hierarquia vertical, onde os cargos permaneciam estáveis durante períodos de tempo relativamente longos.
A especialização era um pré-requisito fundamental desse sistema. A economia de escala, a linha de montagem pressupunham um trabalhador especialista, "disciplinar". Em decorrência dela, o trabalhador preenchia um lugar predeterminado na empresa, dedicando-se à solução de problemas de rotina de acordo com regras bem definidas, onde, além de não ser permitido inovar, o mesmo também não tinha desenvolvido sua capacidade criativa, pois cada operário realizava apenas uma tarefa pré-determinada.
Novos papéis e poderes institucionais foram assumidos pelo Estado, expressos no keynesianismo, o qual, aliando-se firmemente ao fordismo, possibilitou a etapa de expansão do capitalismo monopolista, caracterizada pela expansão dos mercados em nível mundial. Portanto, juntamente com o fordismo, o keynesianismo é visto por muitos como de grande mérito pela prosperidade capitalista do pós-guerra.
Para viabilizar a acumulação, com base nestes princípios, e conter as contradições naturais do capitalismo, o fordismo-keynesianismo tiveram como base "(...)um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico(...)"(HARVEY, 1992:119) baseado na "rigidez total": nos investimentos, nos mercados, na alocação, nos contratos de trabalho e nos compromissos do Estado.
A esse modelo não interessava conhecimento, criatividade, tomada de decisão e comunicação por parte do trabalhador. Sintetizando: a autonomia não tinha lugar na indústria e nem na sociedade, uma vez que a modernidade se traduziu nesta maneira pela qual o modo de produção capitalista se organizou.
Não obstante a falta de qualificação dos trabalhadores, eles começaram a apresentar resistências ao trabalho alienante (greves, paralisações, absenteísmo, erros "programados", etc, que caracterizaram o período de 1968-72), as quais, somadas a outros fatores, comprometeram a produtividade e colaboraram na crise do modelo.
Com o novo padrão produtivo e tecnológico da Terceira Revolução Industrial (que caracteriza a etapa "pós-fordista" do capitalismo), na qual o ritmo da inovação tem sido rápido e fundamental, impuseram-se mudanças significativas nas relações de trabalho, as quais exigem um "novo trabalhador", cujo perfil de habilidades é completamente alterado e a autonomia passa a ter um lugar central. Isso rompe com as relações estabelecidas pelo modelo fordista, cuja base organizacional impedia o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos, pois o trabalho monótono e superfragmentado reduzia ou anulava a responsabilidade do trabalhador, e as complexas hierarquias gerenciais (no que tange aos processos de decisão) tinham por princípio o comando autoritário.
O predomínio das altas tecnologias de produção e informação do pós-fordismo também introduz novas relações no momento em que os mecanismos e as funções desse novo modelo econômico são conduzidos, no mercado de trabalho interno, pelas exigências de modernização das qualificações. Habilidade e competência da mão-de-obra requerem como qualidades, além da polivalência e da formação técnica geral, capacidade de análise, interpretação e inclusive correção de instruções.
Assim, multiprofissionalização, "co-responsabilidade" do trabalhador e um processo de decisão no qual as complexas hierarquias gerenciais centralizadoras cedem lugar à formas participativas e descentralizadas constituem-se como princípios básicos do novo paradigma do trabalho neste final de século, ou seja, do regime pós-fordista.
Reforça-se, então, a necessidade de compreensão, por parte do trabalhador, da lógica e das condições do seu trabalho, o qual passa agora a estabelecer relações e decidir entre alternativas. Todas estas exigências pressupõem indivíduos autônomos, porém, ao mesmo tempo, influenciam no desenvolvimento da sua autonomia.
Os trabalhadores devem ser autônomos, porque as grandes fábricas pós-fordistas trabalham com tecnologias flexíveis de manufatura para atender a uma demanda segmentada, que exige o diferente; assim, os trabalhadores devem exercer uma autonomia de decisão sobre processos de inovação constantes da produção.
Eles devem ser autônomos para aprender, pois, além da polivalência, exige-se criação e também resolução de problemas que são novos a todo instante. Autônomos psicologicamente, porque a posição na cadeia de produção não permanece mais rígida; a mudança de cargos e funções (inclusive empresas) ocorre em tempo muito curto, exigindo-se, além do grau de adaptação, um processo de comunicação altamente desenvolvido.
Portanto, somente indivíduos autônomos conseguem manejar ferramentas dinâmicas, como o conhecimento, a criatividade, a tomada de decisão e a comunicação, ferramentas que diferenciam radicalmente a fábrica pós-fordista da fordista.
Mas as complexidades inerentes à implementação deste modelo (muito bem apresentadas por Harvey, 1992) colocam-nos naquela linha de análise que destaca um certo cuidado em termos de tempo-espaço para generalizar as estratégias do novo regime, bem como a "pureza" das mesmas, ou seja, a inexistência de qualquer resquício fordista. Somente para citarmos um exemplo, a questão do "controle rigoroso" nos processos de trabalho e suas conseqüências geradoras de desemprego continuam e de forma mais sofisticada. No lugar dos supervisores e gerentes, a tecnologia encarregou-se daquela tarefa, caracterizando o que se chama de "tempo informático", o qual integra e controla a produção e as ações humanas com perfeita eficiência.
A coexistência dessas questões no seio das inovações técnicas e organizacionais faz parte das contradições do capitalismo(que mudou em termos de estratégias, porém na essência continua "sistema"capitalista) em sua fase atual, o qual, não obstante continuar com formas antidemocráticas, abre espaço para o exercício da criatividade, decisão, e participação, e, logo, autonomia dos indivíduos. É uma estratégia contraditória do novo regime de acumulação, que pode favorecer o aperfeiçoamento do trabalho humano, e, se bem desenvolvida pela área educacional, poderá possibilitar um futuro desenvolvimento do sujeito (não só no campo econômico) em todas as esferas da vida humana.
Afirmamos isto com base nos teóricos "Novos Tempos", os quais, seguindo a linha de Gramsci, argumentam que as mudanças do pós-fordismo "estão substituindo a homogeneidade, a padronização e as economias e empresas de escala em mais do que apenas na esfera econômica" ("Novos Tempos"In: Kumar, 1997:63), mas uma cultura inteira está sendo símbolo de um desenvolvimento social e cultural amplo e profundo. Conseqüentemente, a exigência da autonomia poderá extrapolar, em sentido positivo, o mundo do trabalho.
Ignorar estas contradições é uma forma simplista de a "consciência ingênua" tratar a questão. Não estamos enfocando a autonomia aqui exclusivamente sob a ótica da "negatividade", a qual entende esta exigência apenas como uma estratégia do capital para acumulação, e, como diz KUMAR(1997), "finalizando aí a análise", quando a mesma deveria estar apenas começando. Ao enfocarmos a exigência da autonomia como "estratégia contraditória", e, portanto, que pode ser produtiva, significa que "(...) não estamos apenas combatendo as mudanças correntes, mas vendo nelas possibilidades de ganhos reais(...)"(KUMAR, 1997: 178).
Todavia, o quadro de trabalhadores sem instrução, sem qualificação, sem informação e sem visão crítica da organização empresarial terá muita dificuldade para inserir-se num mercado de trabalho pós-fordista saturado de novas demandas, responsabilidades e novos desafios, e isto tornará este mercado cada vez mais competitivo e restrito, sendo o aumento da exclusão social uma conseqüência drástica deste processo.
Também é necessário deixar claro que a realização da autonomia (individual ou coletiva) esbarra na ausência de condições objetivas da sociedade, sendo o atraso da população (mais evidente nas nações pobres) um dos principais obstáculos. A pobreza cultural extrema obstaculiza qualquer iniciativa para se colocar o indivíduo numa condição humana digna, principalmente quando está se tratando do cidadão da sociedade globalizada.
Portanto, tendo essas contradições do capitalismo como base (ameaças e possibilidades a partir do mundo do trabalho), reafirmamos a necessidade de priorizar os investimentos na área social para que a sociedade possa se instrumentalizar para as exigências da globalização. As formações educacional e técnica devem ocupar um espaço fundamental, voltadas para qualificação em termos de capacidade de gestão, participação, decisão e inovação, tanto no processo produtivo como (e principalmente) nas relações sóciopolíticas. Isto é que capacitará o indivíduo, agora "cidadão autônomo", para viver, criticar e propor alternativas concretas, numa cultura para o conhecimento, comunicação e habilidades informativas.
3. AUTONOMIA E EDUCAÇÃO
No momento em que as sociedades, com suas instituições e organizações políticas, sociais e econômicas, ajustam-se a um novo estágio de desenvolvimento, onde o progresso da modernidade ortodoxa é substituído pelo da "modernidade reflexiva", no qual a autonomia tem destaque privilegiado, perguntamos: como a escola brasileira poderá reivindicar sua autonomia e que tipo de relações devem ser estabelecidades entre sua ação autônoma e a sociedade globalizada, quando ainda vivenciamos uma prática escolar totalmente burocratizada, centralizada, de consenso servilista e marginalizada de todas as possibilidades de influência do novo paradigma do conhecimento reflexivo?
Como organizar, a partir das exigências da nova LDB, um trabalho pedagógico autônomo por intermédio da constituição de um projeto político pedagógico, visando a um processo permanente de reflexão e discussão, tendo como princípio fundador as premissas e os contornos de uma sociedade global que está constantemente modificando as estruturas? Ora, as respostas não são simples, pois a escola brasileira ainda está muito distante de qualquer referência que propicia este tipo de análise.
O modelo de política educacional adotado no Brasil ainda é aquele da década de 70, que exclui a educação de qualquer iniciativa de transformação nos parâmetros das sociedades globalizadas. A nossa educação formal enfraquece as atitudes que promovem a autonomia, contrariando os valores da modernidade reflexiva e abstendo-se de qualquer inciativa de concepção de liberdade e decisão livre.
A educação deve ser repensada segundo as exigências do mundo atual, que são colocadas segundo os princípios da modernidade reflexiva. Isto significa que , nesse contexto, a educação precisa assumir seu verdadeiro papel na formação da consciência crítica, disseminando a autonomia como valor central na defesa de um projeto de cidadania moderno que promova a liberdade do homem.
Somente tendo como princípio norteador a autonomia, a escola "(...)permitirá que os poderes humanos de organização e reorganização criativa da experiência, sejam operativos no contexto educacional(...)"(DOLL,1977). Esse sistema aberto permitirá que professores, alunos, coordenadores e diretores estabeleçam uma comunicação dialógica, propícia à criação de estruturas metodológicas mais flexíveis para reinventar sempre que for preciso. A confirmação desse contexto só poderá ser dada numa escola autônoma, onde as relações pedagógicas são humanizadas.
A educação na sociedade globalizada tem o compromisso de preparar um homem autônomo, para viver e participar de uma cultura que não é apenas local, mas que amplia os espaços, tendo o mundo como sua localidade e o seu lugar. Nesse sentido, a ampliação da consciência humana na conquista do espaço cultural mundializado depende da capacidade da escola em trabalhar pedagogicamente essa dimensão .
Transformar a escola nessa nova direção depende de uma política do Estado em assumir a educação numa perspectiva moderna, que, no nosso entender, não se pode dar pelo viés conservador do pensamento neoliberal. Com isso, vale dizer que a produção do saber escolar não pode restringir-se apenas ao conhecimento instrumental, o qual tem sido utilizado na competitividade do mercado e repassado pela qualidade total. Na verdade, o conhecimento na era da globalização tem sido utilizado na prática mais para inovar as condições de lucro do que para humanizar as condições de trabalho e promover a autonomia do indivíduo.
Nesse sentido, requer-se do indivíduo apenas o domínio do conhecimento técnico-instrumental; portanto, é imperativo que a escola trabalhe também a dimensão ética-política através das Ciências Humanas. Uma educação para a autonomia deve buscar desenvolver o "homem omnilateral"(GRAMSCI), ou seja, o homem em sua totalidade, e, para isso, não privilegia esta ou aquela dimensão, mas trabalha relacionalmente as dimensões técnica e política.
Como se pode perceber, o conhecimento além do instrumental é a problemática crucial das inovações modernas. Qualquer atividade, na sociedade atual, requer qualidades intelectuais, estéticas, conduta moral, concepção ampliada de mundo, domínio instrumental de línguas, habilidades de comunicação e capacidades de gerar novos modos de pensar. Nesse sentido, vale ressaltar o pensamento gramsciano que afirma que a força de trabalho não se pode pautar apenas na concentração do esforço muscular do homem, porque a atividade humana resulta principalmente do esforço intelectual.
Assim, uma educação para a autonomia tem que atender às necessidades de saberes em cada setor da vida cotidiana e dar conta da totalidade histórica vivida.
Porém, colocar a educação neste patamar requer muitas iniciativas, sendo que a principal delas é promover uma reforma profunda do ensino, começando pela valorização do professor. A formação dos educadores brasileiros, principalmente de ensino fundamental, é extremamente frágil. É uma categoria profissional das mais desqualificadas e, conseqüentemente, menos valorizada na sociedade. Sem professores preparados para o exercício da autonomia, torna-se impossível viabilizar um projeto pedagógico no qual o conhecimento produzido na escola possibilite ao indivíduo sua inserção técnico-política nas transformações em curso.
Estas transformações possibilitam, no conjunto de suas contradições, perspectivas de melhoria da competência humana, e os novos valores incorporados no indivíduo, nas organizações e instituições em geral podem influir na transformação qualitativa da cultura desta sociedade. Porém, a ausência de um projeto educacional de qualidade compromete as nações pobres, onde o analfabetismo, a mão-de-obra desqualificada e o alto nível de desemprego definem o lugar onde deveremos estar na escala da globalidade mundial.
O desencontro do nosso modelo de formação educacional com as mudanças que ora se processam poderá muito em breve constituir-se num obstáculo à chegada do país ao nível básico necessário para a sua integração no processo de globalização. As nações pobres têm que repensar suas estratégias com urgência, envolvendo a participação do Estado e demais áreas de responsabilidades do poder local estatal e privado, no sentido de estabelecer programas culturais e educativos que abracem a multiplicidade de possibilidades colocadas pelo mundo globalizado.
Por conseguinte, o Estado, ao formular a política nacional de educação, deve levar em consideração dois pontos fundamentais: primeiro, que a situação peculiar das nações pobres exige do Estado uma posição de investimentos; trata-se, portanto, de desprivatizar e converter em "público" toda a função da educação; segundo, que a escola e principalmente os professores devem ser instrumentalizados para lidarem com um conhecimento voltado para a construção da autonomia (da escola, dos professores, dos alunos, da sociedade). Essa é a prioridade para que o sistema educacional não sirva apenas para atender às exigências das inovações, mas também para apresentar alternativas às ameaças, amenizando assim as graves conseqüências que sempre acompanharam as ondas de mudanças na História.
A ausência de políticas sociais do Estado e de seu compromisso com a educação deixa os países mais pobres à margem do processo de globalização em curso. Se esse processo comporta ameaças e possibilidades, essa situação favorece mais um contexto de ameaças e, com isso, pontos de vista dogmáticos com relação ao mundo globalizado. Também torna mais complexa a atitude de canalização das possibilidades a nosso favor. Constitui-se, assim, desafio para o Estado, a Escola, e a Sociedade no contexto atual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As exigências colocadas para as sociedades atuais pelo processo de globalização trazem ganhos no momento que estão calcadas em princípios flexíveis, dinâmicos e que podem desenvolver o homem em sua totalidade (bastante diferentes da etapa fordista). Consideramos a autonomia como central por ser geradora de inúmeros outros princípios como a reflexividade social, a criatividade, o conhecimento atualizado, a tomada de decisão, a participação política, etc.
Delineia-se com isto uma sociedade destradicionalizada, na qual as instituições, organizações e posturas pessoais têm que renunciar à rigidez da ação, à fragmentação, à padronização de modelos e da linguagem. Isto abre um leque de possibilidades para o indivíduo contemporâneo no que tange ao desenvolvimento de sua "imaginação criadora" em todas as esferas da vida social.
Uma vez que os contextos de trabalho e de vida social, política e cultural se inter-relacionam, é impossível separar a autonomia exigida e desenvolvida no mundo do trabalho das condições gerais de vida do indivíduo. Portanto, o trabalhador autônomo será o cidadão efetivamente participativo. Por sua vez, a existência de uma sociedade altamente reflexiva depende dele.
Mas isso só se viabilizará se a estrutura educacional corresponder a esta realidade histórica concreta, consciente de que a formação do "novo homem" é econômica (trabalho técnico), social (reflexividade e interação sóciocultural) e política (criticidade; participação), e que esta totalidade é permeada pela autonomia do pensar, do ser e do agir. Portanto, educar para a autonomia é capacitar os indivíduos para a determinação de seu evolver histórico e, conseqüentemente, para a transformação social.
Porém, essas mesmas exigências são portadoras de perdas quando requeridas em contextos despreparados e sem investimentos do Estado nas políticas sociais. A grande massa da população, ao não corresponder às expectativas de autonomia da sociedade global, e sem possibilidades de uma formação adequada para isso, fica impossibilitada de um trabalho digno e submissa às decisões políticas "instituídas". Como conseqüência, participa-se da globalização sob o viés da redução do padrão de vida, da insegurança no emprego, da decadência dos espaços e serviços públicos, da falta de compreensão da solidariedade e da ética e do fortalecimento exacerbado do individualismo.
Portanto, para superação das perdas, afirmamos que
a) a promoção da autonomia passa pela compreensão das estruturas de poder da sociedade e do entendimento de como o poder está socialmente distribuído entre os grupos; portanto, redimensionar o fluxo de poder, ampliando as oportunidades dos indivíduos em diferentes esferas da vida social, faz-se necessário para intensificar as condições de igualdade da autonomia;
b) os países devem desenvolver políticas gerativas de oportunidades de vida no sentido de favorecer a autonomia;
c) em termos de políticas sociais, a sociedade deve forçar o aumento em investimentos educacionais a fim de que se coloque a formação em primeiro lugar em termos de riqueza nacional, condição para que as sociedades emergentes não se submetam aos desafios da globalização pela via da exclusão em massa;
d) o ponto de partida para toda a reflexão a respeito da educação deve ser o princípio de que o conhecimento como valor indispensável e universal é um direito de todos porque a vida cotidiana requer o seu consumo em várias esferas da convivência social; portanto, a qualidade do ensino em todos os níveis não pode estar atrelada exclusivamente à lógica do mercado;
e) numa economia de mercado, o que vale é a apropriação do conhecimento técnico-instrumental; porém, a contradição desse processo mostra que a força de trabalho precisa de um conhecimento mais ampliado e humano, que ultrapasse o limite do treinamento formal para elevar a qualidade social da produção. Essa exigência encontra fundamentos na educação continuada envolvendo aprendizado interdisciplinar;
f) a superação do analfabetismo, a qualificação intelectual da força de trabalho e a autonomia de ação como elemento gerador é o caminho mais seguro para a inserção do homem na sociedade globalizada;
g) por fim, a mudança de comportamento social, fundado na autonomia, exige a abdicação da rigidez de idéias e dos sistemas de valores tradicionais, buscando-se novos fundamentos nos valores de uma sociedade altamente reflexiva.
Assim, com base nas idéias desenvolvidas neste trabalho em torno da globalização, autonomia, trabalho e educação, concluimos dizendo que o capitalismo avançado pós-fordista apresenta ganhos produtivos através da flexibilidade e das exigências em torno de novas aptidões pessoais e organizacionais. Porém, para que isto reverta efetivamente em benefício do indivíduo, instrumentalizando-o na direção da autonomia política plena, precisamos de uma reforma urgente e radical no papel do Estado (no que tange principalmente às sociedades pobres), na estrutura educacional e no engajamento da sociedade.
BIBLIOGRAFIAS
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