"GLOBALIZAÇÃO - sobre o mundo do trabalho"*

HOLGONSI SOARES

Prof.Ass.Depto de Sociologia e Política-UFSM

* Artigo publicado no jornal "A Razão" em 09.05.97

"No lugar do trabalho organizado, altos níveis de desemprego estrutural; rápida destruição e reconstrução de habilidades; ganhos modestos, quando há, de salários reais; e o retrocesso do poder sindical".

(D.Harvey)

Considerando-se o caminho histórico temporal do processo de globalização (que começou há cem anos atrás), estamos vivendo atualmente os impactos da quinta fase deste processo denonimada por R.Robertson, de "fase da incerteza". Nesta, as sociedades (sejam centrais,periféricas ou semiperiféricas) enfrentam-se cada vez mais com novas fontes de pressão, problemas de multinacionalidade e de politecnicidade, e questões sociais que atingem uma dimensão também global. O chamado "capitalismo tardio/multinacional", reorganiza as bases do mundo do trabalho para manter a obtenção máxima de saldos, pois como diz I.Wallerstein, "o acúmulo de capital requer uma evolução contínua na organização da produção".

Assim, temos hoje um processo de produção no qual: a padronização cede lugar a uma grande variedade de produtos (a atração está no diferente); o controle de qualidade está presente em cada ritmo e seqüência do processo, pois com a ampliação da concorrência ganha quem conquista o ISO (certificado de qualidade) ; e, os grandes estoques deixam de existir (a cada dia a mídia gera novas necessidades de consumo). No mundo do trabalho, o multiprofissional ocupa o lugar daquele que domina apenas uma tarefa; o treinamento é supervalorizado; a criatividade do trabalhador é incentivada, e a liderança participativa rompe com o comando autoritário.

Para que esta reorganização seja possível, a estrutura do mercado de trabalho está se adaptando ao novo paradigma produtivo e tecnológico, cujas palavras de ordem são: produtividade, competitividade e lucratividade. Porém esta adaptação está sendo feita com um custo social bastante elevado e conseqüências imprevisíveis para as próximas décadas. A ruptura do compromisso keynesiano, traz consigo um mercado no qual o emprego regular (ou de "tempo integral"),com segurança, salários reais, vantagens sociais, começa a se tornar escasso para a maioria; em seu lugar surge o emprego temporário, parcial, casual, e outras modalidades que representam na verdade, o chamado "desemprego disfarçado", cujas condições de trabalho estão muito abaixo dos padrões aceitáveis, e reeditam o pré-fordismo principalmente nos países subdesenvolvidos. Somando-se a este, o "desemprego estrutural"(ou "tecnológico") está afastando um grande número de pessoas do mercado de trabalho; torna-se global, e tende a crescer na mesma proporção dos requisitos tecnológicos.

A reorganização do mundo do trabalho na economia globalizada, portanto, é paradoxal; gerando uma incerteza em todos os aspectos do trabalho (mercado, emprego, renda e representação), constitui-se na realidade numa desorganização, que, parafraseando Gramsci, está refletindo também no modo de viver, de pensar e sentir a vida hoje. Se a segunda revolução industrial trouxe a conversão do trabalho em trabalho assalariado, a terceira está trazendo o fim deste, e convertendo progressivamente ciência e tecnologia em forças produtivas, o que representa grandes desafios para o processo formativo e educacional do homem.

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