"ECONOMIA PÓS-MODERNA"*

HOLGONSI SOARES

Prof. Ass. Depto. de Sociologia e Política- UFSM

*Publicado no jornal "A Razão em 14.11.97

"As rachaduras nos espelhos refletores da economia são abundantes; com grande rapidez bancos eliminam bilhões de dólares de dívidas incobráveis, governos ficam inadimplentes, mercados internacionais de divisas se mantêm numa perpétua confusão". (D.Harvey).

A reestruturação pós-fordista, envolvendo novas tecnologias, novos métodos de gestão da produção, novas formas de utilização da força de trabalho e novos modos de regulação estatal, baseia-se em elementos que definem o chamado "modo de acumulação flexível de capitais", e estão intrinsicamente relacionados à condição histórica pós-moderna. Esses elementos são : 1) a globalização:produção, troca e circulação de mercadorias estão globalizados, caracterizando o escopo transnacional do capital; 2) a efemeridade:o turn-over da produção e do consumo é extremamente veloz; aceleração do tempo de giro na produção (produção flexível:pequenos lotes, variedade de tipos de produto e sem estoques), e redução do tempo de giro no consumo; 3) a dispersão: geográfica da produção, feita através de uma mudança na estrutura ocupacional; do trabalho (com as novas modalidades de empregos: temporários, de tempo parcial e a terceirização);do monopólio, num amplo conjunto de produção desterritorializada.

Globalização, efemeridade e dispersão, também estão presentes na reorganização do sistema financeiro global, o qual tornando-se agora uma esfera autônoma, dirige os fluxos de capital desprezando as antigas noções de tempo e espaço, e "alcança tal grau de complexidade que ultrapassa a compreensão da maioria das pessoas"(D.Harvey).

Portanto as novas atividades materiais de produção e consumo, e o novo sistema financeiro global caracterizam a economia pós-moderna diferenciando-a da economia fordista (ou de escala). Nesse processo, o "Estado do capital mundial" (Banco Mundial/FMI), ofusca a autonomia do Estado-nação, e a corporação transnacional é decisiva num sistema de mercado onde a hegemonia é dada pelo poder da competição.

Para exercer esta hegemonia, instituições, empresas e especuladores, buscam incessantemente adquirir a mercadoria mais valorizada da economia pós-moderna, a informação operacional. Segundo P.Lévy mais de dois terços dos dados atualmente armazenados no mundo representam informações econômicas, comerciais ou financeiras com características estratégicas, e o conhecimento das mesmas devido às novas tecnologias, se dá em tempo real, isto é, com a operação ainda em andamento. Isto explica porque o fuso horário representa ganho para uns e prejuízo para outros.

Ganha quem for mais rápido no gatilho. Rápido no acesso à informação atualizada e na tomada de decisão. Por outro lado essa mesma rapidez torna os riscos e as crises globais (globalização); gera uma "economia da transitoriedade" cujo lema é: "compre-use-e-descarte" produtos, pessoas, idéias ... (efemeridade); e exige de todos uma flexibilidade fora do comum em termos de adaptação (dispersão).

Numa economia pós-moderna, dirigentes sofrem a tensão do desempenho, e a "estafa psicológica num ambiente turbulento"(D.Harvey) aliada a corrida pelo poder "gera excelentes candidatos para uma espécie de mentalidade esquizofrênica"(F.Jameson). Porém quem arca com as conseqüências somos nós, que pagamos pelas medidas tomadas para o desempenho econômico com vistas à competitividade, e pela falta destas medidas para um desempenho social e ético. Um exemplo concreto : "para que o país não seja visto como uma avestruz"(A.Kandir), "tomou-se uma série de medidas duras, mas necessárias"(FHC). A ética é substituída pela estética, e a retórica da produtividade, da lucratividade e da competitividade justifica o empobrecimento crescente. O que interessa? O "Estado do capital mundial" aprova.

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