"A AÇÃO DA ESCOLA FRENTE A INFLUÊNCIA DA TELEVISÃO, NA PÓS-MODERNIDADE"
HOLGONSI SOARES
Prof. Assistente do Departamento de Sociologia e Política-UFSM
"Com a imagem da televisão - sendo a televisão o objeto definitivo e perfeito desta era - , nosso próprio corpo e todo o universo circundante transformam-se numa tela de controle" (BAUDRILLARD).
Estetização; espetáculo; simulacro; informação e comunicação numa proliferação desenfreada ("excrescência"); perda de interioridade; esquizofrenia; e inúmeros outros temas, colocam a televisão como peça fundamental na formação da condição psicocultural pós-moderna. Numa situação sui generis, por ela transitam e legitimam-se todos os "aparelhos ideológicos", acontecendo uma "re-produção" não só do econômico, como das demais instâncias, as quais perspassadas pelos temas citados, impoem-nos uma multiplicidade de abordagens no que tange aos processos de recepção. Com base nisto, coloco a seguinte questão: "a TV, como aparelho ideológico, pode colaborar na formação de indivíduos críticos?. Para responder, é essencial o que diz CASTORIADIS sobre "esta era": "sem sombra de dúvida, a conformidade, a esterilidade e a banalidade são os traços característicos deste período".
Ao trabalhar com a ideologia do espetáculo, a TV legitima valores e ideais dominantes, e assim mantém/reproduz a conformidade dos indivíduos ao lugar social em que se encontram, que para a maioria é de exclusão desde o início. Transforma as consciências num campo "cujas significações são indistinguíveis das imagens, espetáculos e mensagens"(POLAN); uma consciência sem autonomia, é ingênua em seu olhar (recepção acrítica), e suas possíveis revoltas tem apenas uma conseqüência, o conformismo generalizado devido ao domínio do espetacular que nega ao sujeito qualquer posição narrativa.
A superexposição do mundo, e o avanço superintenso do mesmo sobre o indivíduo, trazem consigo réplicas seriais e repetitivas de identidade as quais, geralmente, não possuem contato verificável com o mundo real. Na tela da TV, as imagens são empilhadas de forma que as "imitações passam a ser reais e o real assume muitas qualidades de uma imitação"(HARVEY); privilegiando-se, implicitamente, a esterilidade que incita à cópia e ao trabalho de superfície, no lugar da criação autêntica.
Ao estetizar, espetacularizar e simular a realidade, a TV mascara a complexidade dos fatos/idéias; apresentando as coisas com alto grau de simplicação, legitima a banalidade pós-moderna em todos os sentidos, desde o conhecimento à própria vida, estetizada inclusive em suas desgraças.
Cada gesto/imagem/fala apresentados na tela, são movidos por estes elementos;Porém aqui entra o papel da escola. Usando a TV como recurso pedagógico deveria munir os indivíduos com uma "capacidade analítica" para que pudessem discernir as ideologias subjacentes em cada ato televisivo (e contrariando o "determinismo" de Baudrillard, que afirma que isto é impossível), e suas conseqüências. Há também em cada gesto/imagem/fala (implítica/explicitamente), um viés político,econômico, e/ou sócio-cultural para uma análise "leve", que desperta "interesse", e que colocaria a escola na linha da "pós-modernidade de resistência".A Universidade caberia a pesquisa, principalmente sobre o controle do sistema de comunicação e a dependência cultural produzida pelo mesmo. Neste sentido a TV estaria colaborando na formação de sujeitos críticos, ao fornecer um rico material de análise através de suas contradições não-produtivas. A leitura ideológica propiciada pela TV, e desenvolvida pela escola, seria um excelente exercício para a construção da autonomia/cidadania, única forma de se neutralizar a conformidade, a esterilidade e a banalidade deste era. Do contrário a TV continuará deseducando; desinformando; deformando; sendo como diz a radical SUSAN SONTAG, uma "lobotomia frontal". E a escola também, por falta de uma ação renovada e inteligente.