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IR  À  GIUSEPPE  GARIBALDI
CHAMADA  NACIONALISTA

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12/09/1962
Campinas • SP
Brasil
Redação

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Porto dos Excluídos
GENOCÍDIO ITALIANO

Don ANTONIO MARAGNO LACERDA
Prêmio UNICEF 2001

 

       A Itália impôs perverso regime despatriótico aos italianos. De expulsão, deportação , espoliação e trabalho escravo. O Brasil foi cúmplice e escravagista. Este fatricídio esparramou pelo Brasil, milhares de italianos - os "senza radice", cuja descendência até hoje procura uma identidade, e origem.
A Itália dividida em Estados Soberanos, só obteve unificação graças a Vitor Emanuel II, ao revolucionário Giuseppe Garibaldi (esquecido noBrasil) e posteriormente ao gênio de um Gabriele D'Annunzio, que aqui ninguém conhece.

1827. Essa época começa a ver o exagero de um tipo diferente de escravidão, onde se tira a liberdade de falar, de ouvir, as propriedades e a própria memória. Pessoas pacíficas tiveram a cidadania arrancada; não pôr um novo regime, ou uma revolução intestina, ou uma guerra - mas pôr uma ordem discriminatória do próprio Estado. Os que perambulavam em busca de trabalho, vivendo de restos, os "manja-gatos", os grupos famintos passaram a se amontoar às portas das igrejas fechadas. A Pátria lhes tinha retirado tudo. Trabalho, terras, comida e agora lhes negava Santuário. Ex-proprietários, comerciantes, agricultores, famílias inteiras, muitas crianças e jovens,

Igreja Redonda • Rovigo • Veneza


foram transformados em trabalhadores braçais- sem trabalho. Perambulavam de aldeia em aldeia, nas cidades, nos vilarejos, a procura de um sustento, um teto, um pouco de comida, e de roupa para substituir os farrapos de algodão. Eram atacados pôr toda espécie de doenças. A fome não era a pior delas. Haviam os salteadores. Os "imbogliones" que na conversa levavam deles o que podiam. Na lábia.

1884. A Arena romana estava aberta. O estado devorador enxotava os cidadãos, encurralando-os sob a chuva, sob a neve. Pisava-os com pés daqueles que expulsava. Apoderava-se das pessoas através delas mesmas. O estado era o próprio chão que passava sobre a multidão. Tinha de faze-la partir. De qualquer jeito. Valiam as promessas de uma América onde a vida era um "paradiso". E o povo se amontoava nos portos.

Nas alfândegas, os agentes do Estado, intermediários da imigração, verdadeiros mercadores de escravos, pintavam as cores da América, onde sobrava tudo que ali faltava. Analfabetos, inexperientes, os "braciànte" chegavam a zona portuária dias antes do embarque. Quem tivesse algum dinheiro, ficava nos botecos do cais, as "tavernelles".

Em cidades portuárias como Nápoli e Genova chegavam com tudo que podiam carregar. As conferências de Alfândega eram rigorosas. Os agentes procuravam artigos proibidos de deixar o país. Geralmente bens de família em prata e ouro. Não havia um registro oficial de embarque e origem. Fantasmas não tem origem.

E eles embarcavam no "Izabella", "Clementina", "Mobely" "Itália", "Werneck", "Öeste", "Bermiro" "Ädria", "Colúmbia", "Maria Pia", "Regina Margarita", "Solferino",Ändré Dória", "Savoia", "Pulcevere", "Birmania", "Las Palmas", "La Valleja", e "Matteo Brizo", que recebiam o valor das passagens da Sociedade Promotora da Imigração.

Alfandega

Olhavam pela amurada e sabiam duas coisas. Que se afastavam para sempre de sua pátria e estavam indo para um lugar ignoto chamado Brasil. Alguns, temerários, já pensavam em voltar. Era tanta a saudade da terra! E voltavam mesmo. Pior do que partiram. Para comer a mesma minestra e polenta e morrer de pelagra.
Ah! Itália cantada em prosa e verso. Essa não os abençoava. Pobre daquele que fosse artesão. Ficaria retido no porto. O Brasil precisava de "muscolo" para as enxadas do café.
Os viajantes da Nau dos Excluidos eram de Trento, de Veneza, da Sardenha, dos Alpeninos, da Sicilia, da Calábria, Tarento, Bréscia, Brindisi, Lombardia; onde quer que fossem encontrados.

Das famílias numerosas, algumas com 12 filhos, as vezes o mais fraco, morria. Era jogado em alto mar. Sem serviço fúnebre, porque nenhum religioso cristão era louco a ponto de embarcar na Nau dos Excluídos. E o capitão, ia lá se importar com Deus, naquele inferno?

Da mesma forma que não havia registro-origem na partida, não havia na chegada, onde um funcionário português servia de conferente. E falava nas regras, que em gíria "candonga", portuária tinham de ser cumpridas. Encaminhava os "senza radice"a Hospedaria dos Imigrantes. Conferia se havia sobrado algum bem valioso na bagagem, e requisitava-os. As vezes requiria até os farrapos que levavam na mala. Era ordem do Diretor. Os "Diretores", Barões do Café, infundiam grande respeito àquela gente. Depois eram encaminhados a Estação, ironicamente chamada da Luz. Que Luz? Deixemo-nos de devaneios. O trem resfolegava. O italiano chorava. As suas lágrimas caiam e os seus soluços não chegavam ao céu.

O destino, e que destino, as fazendas de café, onde famílias inteiras eram amontoadas em casebres. Para dormir quatro a seis em colchões de palha. Ou no chão batido. Então eles percebiam que haviam trocado a neve e a chuva da Itália, pela garoa de S. Paulo, e pela cerração das terras do sul. O estômago era o mesmo - vazio.

Imigrantes

A existência de milhares de colonos era e ainda é ignota. Quem se importa com aquele que não tem uma raiz, uma identidade? Nas fazendas o feitor , ou capataz, fazia no livrão, a caneta de tinteiro, a anotação definitiva.

- Nome?
- Io sono ammalato.
- Certo. Iso Malato

A nossa língua tem recurso para tudo.

Hoje a comunidade de origem italiana é estimada em 24 milhões de pessoas. Existem comunidades Vênetas e Trentinas, que permanecem com algumas características regionais de proveniência. O medo ancestral, fá-los ficar fechados, como uma panela de pressão. São verdadeiros guetos. Casam-se entre primos, com desastrosos resultados genéticos e antropológicos.
Os Círculo Italiani Uniti, numerosos outrora, hoje, se resumem a cerca de 130 consolidados. Os laços de solidariedade ficaram nas raízes perdidas.

É um povo trabalhador. Mas poucos foram agraciados pela Fortuna. Algumas famílias que compraram títulos nobiliárquicos, e anos depois esfarelaram o patrimônio.
Hoje, como antes, impera a lei da "chiusa"; o cala-te boca. Há um grande segredo a ser mantido. Não ter raízes de origem. São da pátria madrasta e da pátria postiça. Uma coisa incoerente. Mas são os fatos.

Os monumentos ao imigrante italiano são um escarnio. Alguns vieram até da Itália, em mármore de Carrara. Em homenagem aos "senza radice", que apesar de exceções, permanecem anônimos. Milhares estão a procura de parentes na Itália e de uma identidade-Santuário que a pátria lhes negou. Outros "oriundi" cumprem o mesmo destino de seus avós e ancestrais na Italia. Palmilham as estradas brasileiras no movimento dos Sem Terra.

 

"In memoriam", dos "senza radice", e dos "oriundis" que não sabem o endereço dos parentes que ficaram.

O "Dossiê" Ö PORTO DOS EXCLUÍDOS' de Antônio MARAGNO de Lacerda, ( escritor e jornalista), acha-se na Suíça para publicação em francês e italiano.