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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME
 

A banda - Chico Buarque

1966

 

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou

O faroleiro que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas parou

Pra ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu

A lua cheia que vivia escondida surgiu

Minha cidade toda se enfeitou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

 

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Pedro Pedreiro - Chico Buarque

1965

 

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa

E a gente vai ficando pra trás

Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento

Desde o ano passado

Para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal

Todo mês

Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento

Para o mês que vem

Esperando a festa

Esperando a sorte

E a mulher de Pedro

Está esperando um filho

Pra esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem

Manhã, parece, carece de esperar também

Para o bem de quem tem bem

De quem não tem vintém

Pedro pedreiro esta esperando a morte

Ou esperando o dia de voltar pro norte

Pedro nã sabe mas talvez no fundo

Espera alguma coisa coisa mais linda que o mundo

Maior do que o mar

Mas pra que sonhar

Se dá o desespero de esperar demais

Pedro pedreiro quer voltar atrás

Quer ser pedreiro pobre e nada mais

Sem ficar esperando, esperando, esperando

Esperando o sol

Esperando o trem

Esperando o aumento para o mês que vem

Esperando um filho pra esperar também,

Esperando a festa

Esperando a sorte

Esperando a morte

Esperando o norte

Esperando o dia de esperar ninguém

Esperando enfim nada mais além

Da esperança aflita, bendita, infinita

Do apito do trem

Pedro pedreiro pedreiro esperando

Pedro pedreiro pedreiro esperando

Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem

Que já vem, que já vem, que já vem (etc.)

 

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Agora falando sério - Chico Buarque

1969

 

Agora falando sério

Eu queria não cantar

A cantiga bonita

Que se acredita

Que o mal espanta

Dou um chute no lirismo

Um pega no cachorro

E um tiro no sabiá

Dou um fora no violino

Faço a mala e corro

Pra não ver a banda passar

Agora falando sério

Eu queria não mentir

Não queria enganar

Driblar, iludir

Tanto desencanto

E você que está me ouvindo

Quer saber o que está havendo

Com as flores do meu quintal?

O amor-perfeito, traindo

A sempre - viva, morrendo

E a rosa, cheirando mal

Agora falando sério

Preferia não falar

Nada que distraísse

O sono difícil

Como acalanto

Eu quero fazer silêncio

Um silêncio tão doente

Do vizinho reclamar

E chamar polícia e médico

E o síndico do meu prédio

Pedindo pra eu cantar

Agora falando sério

Eu queria não cantar

Falando sério

Agora falando sério

Preferia não falar

Falando sério

 

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Deus lhe pague - Chico Buarque

1971

 

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí ''

Pela vida no bar e o futebol pra aplaudir

Um crime pra comentar e um samba pra distrair

Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui

O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir

Pelo domingo que é lindo, novel, missa e gibi

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir

Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir

Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair

Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir

Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir

E pelo grito demente que nos ajuda a fugir

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir

E pelas moscas - bicheiras a nos beijar e cobrir

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir

Deus lhe pague

 

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Construção - Chico Buarque

1971

 

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho seu como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contramão atrapalhando o sábado

 

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Gota d'água - Chico Buarque

1975

 

Já lhe dei meu corpo, minha alegria

Já estanquei meu sangue quando fervia

Olha a voz que me resta

Olha a veia que salta

Olha a gota que falta

Pro desfecho da festa

Por favor

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa

E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água

 

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Tanto mar ¹ - Chico Buarque

1975

 

Sei que estás em festa, pá

Fico contente

E enquanto estou ausente

Guarda um cravo pra mim

Eu queria estar na festa, pá

Com a tua gente

E colher pessoalmente

Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar

Tanto mar, tanto mar

Sei também que é preciso, pá

Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá

Cá estou doente

Manda urgentemente

Algum cheirinho de alecrim

 

¹ (primeira versão)

Letra original, vetada pela Censura;

gravação editada apenas em Portugal, em 1975

 

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Mulheres de Atenas - Chico Buarque - Augusto Boal

1976

Leia, carregando aqui, uma análise sobre esta canção / poema

 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se arrumam

Suas melenas

Quando fustigadas não choram

Se ajoelham, pedem, imploram

Mais duras penas

Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas

Quando eles embarcam, soldados

Elas tecem longos bordados

Mil quarentenas

E quando eles voltam sedentos

Querem arrancar violentos

Carícias plenas

Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho

Costumam buscar o carinho

De outras felenas

Mas no fim da noite, aos pedaços

Quase sempre voltam pros braços

De suas pequenas

Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade

Nem defeito nem qualidade

Têm medo apenas

Não têm sonhos, só tê presságios

Lindas sirenas

Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas

E as gestantes abandonadas

Não fazem cenas

Vestem-se de negro, se encolhem

Se conformam e se recolhem

Às suas novenas

Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

 

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Cálice - Chico Buarque - Gilberto Gil

1973

 

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa

Melhor seria ser filho da outra

Outra realidade menos morta

Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano

Que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra a qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda

De muito suada a faca já não corta

Como é difícil, pai, abrir a porta

Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade

Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno

Nem seja a vida um fato consumado

Quero inventar o meu próprio pecado

Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça

Minha cabeça perder teu juízo

Quero cheirar fumaça de óleo diesel

Me embriagar até que alguém me esqueça

 

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Morena de Angola - Chico Buarque

1980

 

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Será que a morena cochila escutando o cochicho do chocalho

Será que desperta gingando e já sai chocalhando pro trabalho

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Será que ela tá na cozinha guisando a galinha à cabidela

Será que esqueceu da galinha e ficou batucando na panela

Será que no meio da mata, na moita, a morena inda chocalha

Será que ela não fica afoita pra dançar na chama da batalha

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Passando pelo regimento ela faz requebrar o sentinela

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Será que quando ela vai pra cama a morena se esquece dos chocalhos

Será que namora fazendo bochincho com seus penduricalhos

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Será que ela tá caprichando no peixe que eu trouxe de Benguela

Será que tá no remelexo e abandonou meu peixe na tigela

Será quando fica choca põe de quarentena o seu chocalho

Será que depois ela bota a canela no nicho do pirralho

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Eu acho que deixei um cacho do meu coração na Catumbela

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela

Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA

 

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Canções do Príncipe Fora da Lei (ou livre como um pássaro)

A Goethe Vocação de poeta No Sul A piedosa Beppa
Ao mistral "Sils Maria" Singrando para os mares novos Ó minha felicidade
Rimus Remedium Um louco desesperado Estas Almas incertas Canção de um carneiro de Teócrito
Declaração de Amor O barco misterioso    

 

A Goethe

O imperecível

É apenas um símbolo da tua produção!

Deus, o insidioso,

É obrepção de poeta…

A roda do universo

Roda de fim em fim:

O vingativo chama-lhe Lei,

E o louco Jogo.

O Jogo do mundo, imperioso,

Mistura o ser e a aparência…

A eterna loucura

Lança-nos nessa confusão.

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Vocação de poeta

Recentemente, ao repousar

Sob espessa folhagem

Ouvi bater, tiquetaque,

Suavemente, como um compasso.

Aborrecido, fiz uma careta,

Depois, abandonando-me,

Acabei, como um poeta,

Por imitar o mesmo tiquetaque.

Ouvindo assim, upa,

Saltar as sílabas

Desatei de repente a rir,

Durante um bom quarto de hora,

Tu poeta? Tu poeta?

Estarás assim mal da cabeça?

"Sim, senhor, você é poeta",

Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.

Quem espero eu sob este arbusto?

Quem estarei a espreitar como um ladrão?

Uma palavra? Uma imagem?

Logo a minha ruína aparece.

Nada do que rasteja, ou que saltite

Escapa ao impulso dos meus versos,

"Sim, senhor, você é poeta",

Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.

A rima é como flecha,

Que temor, que tremor,

Ao penetrar no coração,

Lagarto a contorcer-se!

Morrereis assim, pobres diabos,

Ou ficareis embriagados,

"Sim, senhor, você é poeta",

Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.

Versículos informes que se atropelam,

Pequenas palavras loucas, que efervescência

Até que, linha a linha,

Pendeis todas do meu tiquetaque.

Haverá espantalhos

A quem isso diverte? Os poetas serão impiedosos?

"Sim, senhor, você é poeta",

Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.

Troças, Pássaro? Apetece-te rir?

O meu cérebro já tão doente,

Estará o coração ainda pior?

Ah! Receia, teme o meu rancor.

Mesmo no íntimo da cólera,

O poeta rima a direito.

"Sim, senhor, você é poeta",

Diz Pic, o Pássaro, encolhendo os ombros.

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No Sul

Eis-me assim neste ramo torso,

A balançar o meu cansaço.

Um pássaro me convidou

Um ninho de pássaros me abriga.

Onde estou então? Tão longe, tão longe…

O branco mar adormeceu,

Vela purpúrea nela se pinta.

Uma rocha, figueiras, torre e porto,

Idílios, grasnar de patos…

Acolhe-me, ó inocência do Sul.

Caminhar sempre a passo…que existência!

Este " marchar" contínuo soa a alemão e a pesado.

Disse ao vento que me levasse,

O pássaro ensinou-me a plantar…

Passei o mar, para o Sul.

Razão! Ó razão importuna!

Levas-nos muito depressa ao nosso fim.

Mas ao voar aprendi o meu limite…

Já sinto coragem, e sangue, e novas seivas

Para uma vida nova e para novo jogo…

Pensar sozinho, sim, é a sabedoria,

Mas cantar sozinho…seria estúpido!

Ouvi pois uma canção em vossa honra,

E fazei silêncio em redor,

Pássaros maldosos.

Tão novos, tão falsos, tão vagabundos,

Pareceis-me feitos para o amor

E para todos os belos passatempos?

No Norte – hesito em confessá-lo -

Amei uma horrível velha:

Davam-lhe o nome de " Verdade".

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A piedosa Beppa

Enquanto o meu corpo for belo

É pecado ser piedosa,

É sabido que Deus gosta das mulheres,

E das bonitas sobretudo.

Ele perdoará, tenho a certeza,

Facilmente ao pobre fradezinho

Que tanto procura a minha companhia

Como muitos outros fradezinhos.

Não é um velhorro padre da Igreja

Não, é jovem, muitas vezes vermelho,

Muitas vezes, apesar da mais cinzenta tristeza,

Pleno de desejo e de ciúme.

Não gosto dos velhos,

Ele não gosta das velhas:

Que admiráveis e sábios

São os caminhos do Senhor!

A Igreja sabe viver,

Sonda os corações e os rostos,

Insiste em perdoar-me…

Quem não perdoará, então?

Três palavras na ponta da língua,

Uma reverência e ide embora:

O pecado deste minuto

Apagará o antigo.

Bendito seja Deus na Terra,

Gosta de raparigas bonitas

E perdoa de bom grado

Os tormentos do amor.

Enquanto o meu corpo for belo

É pena ser piedosa;

Case o diabo comigo

Quando eu já não tiver dentes.

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O barco misterioso

Na noite passada, quando tudo dormia,

E já se ouviam passar

Os suspiros incertos do vento,

O travesseiro não me deu repouso

Nem a dormideira, nem o que dá também

O sono solto: a boa consciência.

Enfim, renunciei ao repouso,

Corri para a praia,

A Lua brilhava, era a noite suave, e vi,

Na areia quente, o homem e o barco.

Dormitavam os dois, pastor e ovelha…

Sonolento, o barco afastou-se.

Uma hora passou, talvez bem umas duas,

Ou talvez um ano? De repente

Os meus sentidos naufragaram

Numa eterna inconsciência

E abriu-se um abismo, sem fundo…

Tinha acabado…

…Chega a manhã: em negras profundezas

Uma barca flutua, em repouso, calma, calma…

Que se passou ?, grita uma voz, logo cem.

Que houve? Sangue, um drama?...

Não…Dormíamos, estávamos todos a dormir…

Ah! Como era bom, dormíamos tão bem!

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Declaração de Amor

(e o poeta cai na armadilha)

Ó maravilha! Voará ainda?

Sobe e as suas asas não se mexem?

Quem é então que o leva e faz subir?

Que fim tem ele, caminho ou rédea, agora?

Como a estrela e a eternidade

Vive nas alturas de que se afasta a vida,

Compassivo, mesmo para com a inveja…

E quem o vê subir sobe também alto.

Ó albatroz! Ó minha ave!

Um desejo eterno me empurra para os cimos.

Pensei em ti e chorei,

Chorei mais e mais…Sim, eu amo-te!

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Canção de um carneiro de Teócrito

Jazo, roído pela doença,

E devorado pelos percevejos,

É, lá em cima, estas luzes, este rumor!

Ouço-os e estão a dançar…

Ela devia, a esta hora,

Deslizar até mim,

Espero-a como um cão…

Nada se anuncia.

Esse sinal-da-cruz a prometer…

Como pôde ela mentir?

-Correrá atrás de cada um

Como as nossas cabras?

De onde lhe vem o vestido de seda?

Ah! Ah! Minha altiva criança!

Há ainda então muitos bodes

Nesta floresta?

Ai de mim, como a espera amorosa

Me torna mau e venenoso!

Assim cresce, uma noite húmida,

Um cogumelo venenoso no jardim.

O amor rói-me, rói-me

Como lepra…

Nada mais posso comer,

Adeus, minhas cebolas!

A Lua já se deitou no mar,

Todas as estrelas estão cansadas,

O dia chega, dia cinzento…

Ah! Como eu queria morrer…

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Estas Almas incertas

Quero um mal de morte

A estas almas incertas.

Tortura-as a honra que vos fazem,

Pesam-lhes, dão-lhe vergonha os seus louvores.

Porque não vivo

Preso à sua trela,

Saúdam-me com um olhar agridoce.

Onde passa uma inveja sem esperança.

Ah! Porque não me amaldiçoam!

Porque não me viram francamente as costas!

Aqueles olhos suplicantes e extraviados

Hão-de enganar-se sempre a meu respeito.

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Um louco desesperado

Ai de mim! O que escrevi na mesa e na parede,

Com o meu coração de louco, com a minha mão

{de louco,

Devia decorar para mim mesa e parede?...

Mas vós dizeis:" As mãos de louco sarrabiscam;

É necessário purificar mesa e parede

De todos os riscos, até ao mais pequeno."

Dai-me licença! Vou dar-vos uma ajuda,

Aprendi a trabalhar com a esponja e a vassoura

Como crítico, como varredor.

Mas quando o trabalho estiver acabado,

Gostarei muito de vos ver, a vós supersábios,

Gag…de sabedoria, mesa e parede.

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Rimus Remedium

(ou: como se consolam os poetas)

Ó feiticeira do Tempo de líquidas salivas

As horas escoam-se da tua boca,

E sucedem-se lentamente

E em vão o meu nojo uiva:

"Maldito, maldito, seja o abismo

Da eternidade!"

O mundo…é de bronze:

Um touro furioso é surdo a todos os gritos.

A dor escreve nos meus ossos

Com punhais que saltam:

"O mundo não tem coração,

Seria uma loucura não gostar dele por isso."

Derrama, ó febre, as tuas dormideiras, o teu veneno,

{no meu cérebro!

Há muitíssimo tempo que interrogas a minha mão;

Há muitíssimo tempo que indagas a minha fronte.

Que queres tu? "Por…quanto?"

- Maldita sejas, rapariga abjecta!

Maldita seja a tua zombaria!

Não, volta.

Faz frio lá fora, ouço a chuva…

Devia ser talvez mais terno contigo?

-Olha, toma! Aqui tens ouro: como a moeda

{brilha!

Chamar-te a ti, felicidade

Chamar-te, febre, e abençoar-te?

A porta abre-se numa rajada

A chuva salta até ao meu leito.

Apaga-se-me o candeeiro…Tudo é desgraça…

Quem não dispuser agora de cem rimas

Aposto, ó sim, aposto!

Que vai deixar aí a pele!

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Ó minha felicidade

Revejo os pombos de São Marcos:

A praça está silenciosa; ali se repousa a manhã.

Indolentemente envio os meus cantos para o seio

{da sua suave frescura,

Como enxames de pombos para o azul

Depois torno a chamá-los

Para prender mais uma rima às suas penas.

- Ó minha felicidade! Ó minha felicidade!

Calmo céu, céu azul – claro, céu de seda,

Planas, protector, sobre o edifício multicor

De que gosto, que digo eu?...Que receio, que

{invejo…

Como seria feliz bebendo-lhe a alma!

Alguma vez lha devolveria?

Não, não falemos disso, ó maravilha dos olhos!

- Ó minha felicidade ! Ó minha felicidade!

Severa torre, que impulso leonino

Te levantou ali, triunfante e sem custo!

Dominas a praça, com o som profundo dos teus

{sinos…

Serias, em francês, o seu " accente aigu"!

Se, como tu, eu ficasse aqui,

Saberia a seda que me prende…

- Ó minha felicidade! Ó minha felicidade!

Afasta-te, música. Deixa primeiras as sombras en-

{grossar

E crescer até à noite escura e tépida.

É ainda muito cedo para ti, os teus arabescos de

{ouro

Ainda não cintilam no seu esplendor de rosa;

Resta ainda muito dia,

Muito dia para os poetas, fantasmas e solitários.

- Ó minha felicidade! Ó minha felicidade!

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Singrando para os mares novos

É lá abaixo que quero ir: e de ora em diante creio

{em mim

E nos meus talentos de piloto.

O mar abre-se para mim, no azul

Me leva o barco genovês.

Tudo cintila para mim com um esplendor novo,

Meio-dia repousa no espaço e no tempo…

Só o teu olhar, formidavelmente,

Me fita, ó eternidade!

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"Sils Maria"

Era aqui que eu esperava, que eu esperava, não

{esperando nada

Para além do bem e do mal, gozando com a luz,

Ora com a sombra, abstraindo de mim, todo o jogo,

{puro jogo,

Todo lago, todo meio-dia, tempo sem fim.

Quando, de repente, amiga, um foi dois…

E Zaratustra passou por mim.

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Ao mistral

(Canção para dançar)

Ó mistral, caçador de nuvens,

Matador de melancolia, varredor do céu,

Ó mugidor, como gosto de ti!

Não somos um e outro

Primo-nados de um mesmo seio,

À mesma sorte eternos predestinados?

É aqui, pelos atalhos lisos do rochedo,

Que acorro para ti dançando

Sob os teus assobios, sob os teus cantos;

Tu que, sem navio e sem remos,

Te lanças para os mares selvagens,

Ó tu, irmão mais livre

Da liberdade!

Mal desperto, ouvi um apelo,

Saltei até à falésia,

Até ao muro amarelo do mar.

Saúde! Já, semelhante às vagas

Adamantinas das torrentes luminosas,

Descias vitoriosamente da montanha.

Na arena unida dos céus

Vi galopar os teus cavalos,

Vi o carro que te arrasta,

Vi a tua mão fremente

Quando no dorso dos cavalos

Deixa cair o relâmpago do chicote…

Vi-te saltar do carro

Para acelerar a corrida,

Vi-te como flecha

Tombar inteiro no espaço,

Como raio de ouro que trespassa

As rosas da primeira aurora.

Dança agora sobre mil cristas,

Dorsos das vagas, vagas astutas…

Saúde a quem cria danças novas!

Dancemos portanto de mil maneiras,

E digam que a nossa arte é livre,

Gaia a nossa Ciência!

Arranquemos a todas as plantas

Uma flor para a nossa glória,

Duas folhas para os nossos louros,

Dancemos, tais trovadores,

No meio dos santos e das putas,

A dança entre o mundo e Deus!

Quem não sabe com os ventos

Dançar, e tropeça,

Troca os pés como um velho,

Obrigai-o a sair da roda!

Para trás todos os Tartufos

E carneiros da virtude.

Varramos em turbilhões

A poeira do caminho

No nariz de todos os doentes,

Espantemos os débeis!

Purifiquemos a costa inteira

Do hálito dos peitos acanhados,

Expulsemos os olhos sem coragem.

Expulsemos os que perturbam o céu

E neles espalham o escuro e as nuvens,

Clarifiquemos o reino dos céus!

Mujamos…livre espírito entre os espíritos livres,

A minha felicidade, como a tempestade,

Muge em duo a teu lado.

- Para que se conserve para sempre

A memória de tal felicidade,

Recebe como herança,

A coroa que tens aqui.

Atira-a cada vez mais alto,

Mais alto, mais longe, mais ao largo,

Lança-te ao assalto dos céus,

Pendura-a nas estrelas!

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Poesia recolhida em apêndice à " Gaia Ciência" de Frederico Nietzsche, da responsabilidade de LITET/1210 em 27 de Fevereiro de 2002.

 

 

 


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