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Literatura "Gótica"

Deuses, Heróis e Lendas Gregas

Teses sobre Literatura, Arte e análise.

A Peste de Albert Camus ( comentários ) -

Fernando Pessoa e a Revista Orpheu

A Arte Moderna é Arte de Sonho - F. Pessoa

A Arte Moderna é Aristocrática -F. Pessoa

Os Graus da Poesia Lírica -F.Pessoa

As origens da tragedia em Nietzsche

Vidas de Vidro- Conto

Fernando Pessoa ( Cronologia e análise da Universidade Fernando Pessoa )

A Teoria do romance e a análise estético - cultural de M. Bakhtin - Irene A. Machado

Sexo e Literatura
A literatura erótica através dos tempos O erotismo dos manuais
Erotismo ou pornografia?
Obras inaugurais
Autores do erotismo

A chamada Literatura Erótica, nascida à margem da literatura aceita como grande arte, é um género cultivado por escritores geniais e outros nem tanto. Para compreendê-la e ao seu contexto é importante analisar as relações entre literatura e costumes.

Você encontrará neste link os principais textos e autores da literatura erótica, um género que, ao representar as formas de amor na arte das palavras, alcança constantemente o domínio do erótico e do pornográfico.
 

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Veja também a Literatura e poesia em Inglês ( abaixo e no seguinte link ); em Francês;  em Espanhol a mesmo em Italiano e Alemão, com algumas obras ( bastantes ) com possibilidades de download.

Veja também na Página de Luís Varela Pinto as suas traduções dos autores que se seguem:

 

Agatha Christie ( Biografia )

 O Assassínio de Roger Ackroyd

 

W. Somerset Maugham ( Biografia )

 Chuva

 A Cigarra e a Formiga

 Regresso a casa

O Instinto Criativo

 O Barco da Ira

 A Força das Circunstâncias

 

Edgar Allan Poe ( Biografia )

 O Poço e o Pêndulo

 A Queda da Casa de Usher

 

Ernest Hemingway ( Biografia )

 As Neves do Kilimanjaro

 Lá em cima no Michigan

 

Katherine Mansfield ( Biografia )

Uma Família Ideal

Casamento à la Mode

 

Tennessee Williams ( Biografia )

 Mutilado

 O Importante

 

Ray Bradbury ( Biografia )

A Última Noite do Mundo

 A Estrada

 Caleidoscópio

 

John Collier ( Biografia )

 Uma Pequena Recordação

 Pensamentos Verdes

 

Stanley Ellin ( Biografia )

Motivos Desconhecidos

 A Pergunta

 

Shirley Jackson ( Biografia )

 A Lotaria

 A Mulher de Greenwich Village

 

Jack London ( Biografia )

 A Lei da Vida

 Fazer uma Fogueira

 

Jean Stafford ( Biografia )

Pestezinhas

 

Marco Aurélio (Imperador Romano - Biografia))

Meditações

 

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O Defunto Projecto Alface Voadora deixou as suas folhas em aberto para que todos o leiam e compreendam porque razão não passou de projecto: queria ser um Órgão de Comunicação Cultural na Net...com redacção formada ( e paga ) e tudo. Pelos idos de 2001 finou-se ao fazer as contas e ao ter assim chegado à conclusão que nem em 3001 poderia vir a sobreviver. Mas estão lá ( aqui ) textos que são menos utópicos e menos absurdos que os fundadores ( e coveiros ) do Projecto Alface.

Por exemplo, leia este irónico ensaio bio / bibliográfico sobre Jean Paul Sartre da autoria de Paulo Nogueira.

  

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VIDAS DE VIDRO

Abu Abdala, tal como fazia todos os outros dias em Évora, estudava a obra de Al Gazali. Para o lado de fora da janela do seu quarto, naquela tarde quente de mais um Agosto alentejano, o mundo que via aparecia-lhe como um quadro pincelado com rebanhos acostados às árvores, como se, sendo eles os barcos daquele mar terreno, procurassem assim fugir à vermelhidão quente de um solo que expelia serpentes de vidro.

Estas, depois de se elevarem da pele rugosa da terra desapareciam naquele vazio que os filósofos e os poetas diziam comportar tudo não sendo coisa nenhuma. Assim afirmava Al Gazali - pensava Abdala: " O vazio é o espaço que não é coisa nenhuma e que pode comportar tudo o que há na terra." E, aquelas serpentes de calor tinham partido do ventre da terra e esgueiravam-se rasteiras por entre as placas crestadas do solo alentejano, que ele via da sua janela, para o vazio que tudo pode conter.

Talvez tivesse sido a sensação de um vazio igual ao vazio do espaço que o tinha feito deter ali, em Évora. Talvez ele mesmo se tivesse também sentido vazio por dentro, sem se aperceber desse vazio, antes de conhecer Al Gazali. E Alba... antes de conhecer Alba... também.

Talvez tivesse sentido um vazio como aquele que sentia agora , só que hoje tinha plena consciência disso; conhecia-o. Abdala era, pois, um ser consciente que tinha consciência do vazio que o preenchia. A sensação que sentia naqueles momentos em que reflectia sobre si mesmo e sobre o vazio que o ocupava parecia ser a sensação de conter em si um espaço sedento de preenchimento, que ele tentava suprir metodicamente dia a dia sem nunca chegar ao fim da sua tarefa. E no dia seguinte tudo recomeçava. Mas tudo começava do princípio - ou quase do princípio - não sabia muito bem.

Aquela cidade onde vivia, e as razões que o levavam a ali viver prestavam-se, e eram a razão, para toda a necessidade que sentia de responder às suas próprias perguntas com interpretações que acabavam por suscitar novas perguntas. Ou talvez fossem sempre as mesmas perguntas com novas formulações. Abdala não sabia. Abdala não sabia nada sobre aquilo que se passava consigo, senão que tinha um vazio para preencher e procurava as respostas em Al Gazali e o esquecimento em Alba.

Na verdade - perguntava-se infinitas vezes- que fazia ele, rico comerciante que conhecera durante muitos anos muitas rotas e muitas terras, que conhecera perigos e mares revoltos, que entrara em batalhas e que defendera o que ia possuindo, tantas vezes com a lâmina da sua espada (?) ; que fazia ele numa cidade que fora romana e goda, numa cidade onde tinham progredido os infiéis e onde viviam ainda aqueles que não tinham como verdade a palavra do Profeta?! Que fazia ele, Abdala, naquela cidade e porque estava ele ali havia já cinco anos quando nas suas anteriores viagens mais não fizera do que ficar o tempo suficiente para cobrar os dinheiros que investira nos mantimentos das guerras?!

Lá fora, para lá da janela aberta ao vento que teimava em ser quente da manhã ao entardecer, o castanho, o negro e o branco dos cachos que o gado formava misturavam-se com o cinzento escuro do sol acobertado pelas tendas verde seco formadas pelos ramos das árvores, que se estendiam - árvores e gado - pela planície imensa. Esta visão inspirava-lhe o estudo. Fazia-o sentir-se em casa numa casa que não era a sua. Era como se estivesse na longínqua costa africana, onde nascera.

Era como se a sua terra ficasse logo ali à sua frente naquelas tardes de Agosto e era como se ela existisse em dois lugares. Ali e para lá do pequeno grande mar que dividia as duas terras que eram uma só terra. Assim o dissera o Profeta - que a terra era só uma, mesmo que as distâncias a dividissem em muitas parcelas - e assim o sentia Abu Abdala.

Porque acreditava no Profeta e porque ia compreendendo Al Gazali. Este dizia que tudo se encontrava desarticulado no tempo e no espaço e que só esse facto permitia à omnipotência do Todo-poderosoo circular pelo Universo inteiro. Tudo se encontrava desligado entre si e só o saber e o poder do Magnífico articulava esse caos quando queria e onde queria e da forma que queria o seu infinito saber. Era nesse espaço que era só um que Alá se movia e nada havia para além desse espaço em que Alá se movia.

Se Ele quisesse - e nisso tinha Abu Abdala fé - haveria de manter desligadas as suas duas vidas. Haveria de deixá-las no vazio do caos, uma em cada lado da sua vida, uma em cada lado do seu corpo e da sua alma. Na sua imensa magnitude, O Glorioso manteria desligada aquela vida que ele tinha em Évora da outra vida que tinha tido - e que por intermédio de um outro que era simultaneamente ele - ainda mantinha, de corpo ausente, no porto de Ceuta.

Lá viviam as suas quatro mulheres e os seus filhos e era lá que a sua vida retomaria o seu curso normal. Évora, a sua vida em Évora, contava apenas no presente e esquecia o passado e o futuro. Havia um dia de cada vez e cada um desses dias era mais doloroso que o anterior. Eram dias com um curto passado de dor e com um curto futuro de mais dor, que se repetiam incessantemente sem formarem um todo que reflectisse aquilo que Abdala entendia como sendo a vida. Por quanto tempo ainda se manteria aquele presente assim?!

Depois Abu Abdala pensava em Alba e o seu coração doía-lhe. Alba era o presente, um presente sem um futuro longo - ele sabia-o (!) - mas do qual se não queria, mesmo querendo, desligar-se. Doía-lhe pela espera, doía-lhe pela noite que tardava e doía-lhe pensar que na manhã seguinte, ou mesmo antes, tudo recomeçaria de novo.

Seriam as perguntas sem resposta, haveria as dúvidas e a espera, uma nova espera tão longa quanto o tempo que durava o dia para ser noite. E era a leitura de Al Gazali que acontecia no seu pensamento e lhe adiava ou fazia esquecer essas dores - mesmo por poucos minutos que fosse de cada vez.

E haviam ainda outras dores que não conseguia descrever exactamente e outras perguntas que repetia diariamente, várias vezes, como se tivesse medo de as esquecer. Teria ele agido bem (? ), teria o Cádi julgado bem (?). As dores vinham não sabia donde e estas perguntas que se repetiam como penitências ou orações que demonstravam a sua perplexidade perante si mesmo, perante um Abdala que nem sempre reconhecia, eram feitas perante um mundo que inicialmente lhe tinha sido tão linear e de repente, ou pouco a pouco, se tornara tão confuso.

Tinham - as dores e as dúvidas - ambas o seu lugar bem dentro de si, algures entre a parte que era o seu corpo e a parte que era a sua alma , e daí saíam para o seu pensamento e para as palavras que se dizia a si mesmo.

Gazali fazia a união entre estas duas coisas, o corpóreo e o anímico. Ele, Abdala, tinha considerado - antes de o compreender - que elas eram inconciliáveis ou que eram dois entes separados que só se reuniam fugazmente quando da morte do corpo para logo se separarem. Uma, o corpo era pó, simplesmente pó; a alma subia e reencontrava-se em definitivo com o seu criador donde partia para novas tarefas em novas terras e com novas gentes num ciclo sem fim.

No pensamento de Alba tudo se encontrava ligado e toda a vida terrena tinha correspondência com outras vidas que teriam lugar noutros locais imagináveis, onde as pessoas, após a morte neste mundo, não se transformavam em pó e viviam uma sucessão de vidas que duravam eternamente com os corpos renascidos e renovados sucessivamente.

As noites com Alba eram as noites em que se encontrava consigo mesmo em toda a amplitude da união entre o seu corpo e a sua alma. O corpo, inicialmente parecendo separado, partido da alma como um vaso quebrado, perdido no remoinho do sexo e do prazer, exalava depois um amor tão forte que ultrapassava as suas potencialidades enquanto ser físico e deixava de ser apenas corpo para se unir à sua alma, única entidade com qualidades para compreender esse sentimento, essa mistura de alegria e êxtase, essa mistura de ser físico e ser transcendente, essa mistura de humano e de beatitude.

E a filosofia mística de Al Gazali funcionava então em si como uma escada que o aproximava cada vez mais de um ponto algures situado naquilo que ele era e desejava para si e que gostava de receber do presente: um indício, um sinal, algo que lhe dissesse que o seu caminho estava certo, que a sua renovação como ser estava próxima, que o passado e o presente e o futuro se uniam em harmonia num só tempo e que o Magnânimo, em toda a sua infinita sabedoria, organizara nele as partes dispersas do seu ser e o presenteava com o caminho do Além, com a união Nele sem mais julgamentos, sem mais culpas, sem mais dúvidas.

Abdala sabia que a palavra do Magnífico uma vez dita era eterna e que o Corão dizia claramente que nenhum homem podia ter mais de quatro mulheres e ele tinha respeitado tudo isso até à sua chegada a Évora. Depois conhecera Alba, uma infiel romano-goda filha de Rultiva. Tinha as pernas fortes e os peitos cheios e o seu ventre liso e redondo aparecera-lhe como uma oferta após a longa batalha. O corpo dele, Abdala, já não era jovem quando a conhecera e menos jovem era agora que já tinham passado cinco anos.

Não sabia exactamente como tudo se tinha passado nem era importante que o soubesse. Nunca mais deixara Alba e nem a poderia ter deixado. O seu corpo rejuvenescia a cada encontro com ela e tudo se passava como se a sua alma pusesse o seu corpo à prova e ele fosse sempre resistindo.

Talvez fosse também a maneira alegre como ela vivia, talvez fosse também porque ela o fazia esquecer as dúvidas do dia, talvez fosse porque ele, Abdala, tivesse medo de envelhecer, tivesse medo de sentir com a idade uma maior proximidade da morte, talvez tivesse sido... não sabia, Abdala não sabia. No fundo pensava que não queria mesmo saber... Era também por isso que lia Al Gazali.

Há coisas que não têm explicação racional e que só podem ser explicadas através da Religião. A importância deste como filósofo demonstrava-se pela contestação da importância de se ser filósofo. Na sua obra " A Prudência dos Filósofos" demonstrava a supremacia do misticismo sobre a filosofia e dizia que a filosofia era permissiva contra a religião, que os filósofos, como Ibn Hamedine que ele também lera, detêm um saber incompleto porque não podem provar a existência de Deus, as suas qualidades e o seu conhecimento. Só a religião consegue isso tudo e consegue explicar aquilo que os filósofos como Ibn Hamedine consideram inexplicável.

Abdala não se considerava digno de pertencer à tribo do Profeta- como o era seguramente Al Gazali - mas tinha reconhecido havia muito que aquilo que sentia com Alba não era obra da razão e que só este filósofo e o seu misticismo podiam responder às perguntas que fazia sobre as suas paixões. Talvez tudo fosse e tivesse sido desígnio de Alá. Mas, se o era, porquê as suas dúvidas constantes, porquê os seus pesadelos logo após a partida de Alba e quando a noite começava a ser dia?! Porquê a incerteza da espera, todos os dias?! Porquê o receio de que, um dia, Alba se cansasse dele, reparasse finalmente no seu corpo mais velho e lhe dissesse aquilo que ele tanto temia?!

Talvez através de Al Gazali ele chegasse à conclusão que tudo era uma penitência, um castigo designado por Alá. E ele achava que tinha muito de que penitenciar-se. Mas era a espera de Alba uma penitência?! As penitências não têm compensação neste mundo e ele recebia-a todos os dias, como a iria receber agora que, olhando os campos abertos e a tarde a cair, via os rebanhos movendo-se em direcção ao povoado, ali logo, no princípio da paisagem que via através da sua janela. Ali onde ficava o oásis repleto de frutos e de gente. Depois havia Al Gazali. Tão bela e tão profunda leitura melhor se sentiria como uma recompensa. Ou seria piedade de Alá?

Abdala pensava assim quando a disposição o empurrava para esse lugar onde as dúvidas renasciam repetindo-se e se multiplicavam cada vez mais. Mas vinha a tarde e vinha a noite e tudo se modificava. Com Alba eram as noites que encurtavam o tempo e faziam com que o sol entrasse mais depressa pela janela da alcova. Quando havia o pesadelo após a partida de Alba debruçava-se à janela e olhava aquele mundo que o transportava em instantes para a sua terra natal onde deveria estar o outro que era ele não o sendo ao mesmo tempo.

Alba era a mais jovem filha de um chefe de clã vencido pouco depois da entrada de Tarik no sul e tinha quase trezentos anos de submissão tranquila. Por isso gozava de grande prestígio junto do Cádi de Córdoba e foi por isso que o casamento entre Abdala e a sua filha se realizou. Abdala ficara com cinco mulheres sem ter tido oportunidade de repudiar uma porque estava longe de Ceuta. "Bagdade fica longe "- dissera-lhe o Cádi - " e Ceuta também".

Esse pecado - o de ter uma quinta mulher, afastava-o da lei maometana, para sempre - bem repetira ele ao Cádi. Mas este era também um político, talvez mais político que religioso e era as duas coisas ao mesmo tempo. Não estava em condições militares para combater uma revolta do clã de Rultiva que poderia estender-se a outros clãs romano-godos e depois sempre era melhor tentar que Alba se convertesse ao islamismo, podendo com isso trazer todo o clã à lei de Maomé e depois outros clãs romano- godos.

Rultiva era um chefe e era desonroso que a sua filha vivesse em concubinagem. Depois havia a morte, a certeza da morte de Abdala, logo ali colocada por Rultiva. "Bagdade não nos julga e a Ceuta não podemos ir ". E sobre esta questão lavara as suas mãos: ele, Abdala, deveria ter pensado antes. Como se fosse possível pensar, racionalizar, perante a paixão que tinha por Alba. O Cádi não lia Al Gazali e não conhecia o reino das paixões.

Depois, no tempo que se seguiu a clausura que Abdala se impusera a si mesmo era raramente quebrada pela necessidade de tratar de negócios importantes que tinham lugar cada vez em menor número. Mas tinha Alba, continuava a ter Alba, que passava como antes o dia na sua tribo e apenas vinha à noite.

E uma noite, a lâmpada que alumiava fracamente a alcova tombou sobre o leito e o tecido púrpura que envolvia os seus corpos enlaçados consumiu-se em segundos. Alba, jovem, saltou do leito e puxou por ele mas o fogo já lhe tinha atingido a face. A cara ficou coberta de feridas dolorosas que levaram muito tempo a sarar e o fogo cegou-o.

Quando voltou a ver de novo e a face sarou sentiu-se ainda mais velho ao mirar-se ao espelho. Achou que devia partir e que tinha chegado finalmente a hora em que Alá o expulsava daquela vida em Évora e o mandava regressar à outra vida em Ceuta. Extremamente pio se foi tornando e mais religioso e místico se tornou Abu Abdala. Alba soube que ele tinha falecido em 1111, respeitado por todos e amado como um verdadeiro Santo.

Na história ficou que Abdala morreu no ano da fundação do Condado Portucalense e ainda uma nota do filósofo sufista de Múrcia, Ibn Arabi que diz na sua Epístola da Santidade: " Abu Abdala estudava assiduamente Al Gazali, mas uma noite, lendo a obra de Ibn Hamedine, onde se refuta Gazali, cegou de repente. Prostrou-se em seguida diante do Poderoso e jurou humildemente que não o tornaria a ler e que o faria desaparecer. Então Alá (Infinito é o seu Poder) devolveu-lhe a vista. "

Pseudónimo do autor: Config057 em data de 7/03/2002

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A PESTE

( Albert Camus)

Comentário:

Nesta obra trata-se da exclusão de toda a população de uma cidade, Orão, nos anos 40 devido a uma epidemia de peste bubónica. O autor dedica-se mais a retratar o comportamento das pessoas directamente e indirectamente relacionadas com o combate à peste, às formas como a mesma é combatida do que propriamente em retratar a exclusão de que a cidade é vítima.

Por outras palavras, trata-se, neste volume, de retratar sobretudo a vida em exclusão e em ambiente de exclusão do que colocar termos de comparação ou mesmo de revolta e rejeição contra a situação.

As referências que se encontram a este tipo de revolta são-no feitas de forma individualizada (tentativas de fuga através das linhas protectoras do " cordão sanitário") e exploração dos estados de alma daqueles que, sendo, globalmente, exilados na sua terra, sentem que não merecem esse exílio apenas pelo facto de ali se encontrarem na altura da detecção da epidemia.

Contudo e importante de realçar é que o próprio autor, que durante a segunda guerra mundial foi jornalista no Combat, jornal de libertação da França contra a Alemanha, ele mesmo exclui a população indígena e refere até, com algum à vontade, o facto de Orão ser uma cidade francesa que mais parece uma vila qualquer de França do que propriamente referir a situação colonial de Orão.

Os 250 mil habitantes, na sua maior parte argelinos, não são sequer referidos durante todo o relato, havendo apenas uma referência à morte de um árabe por um francês, o que foi aliás objecto da sua obra anterior "O Estrangeiro".

Neste caso não funciona o "bode expiatório", não há referências ao possível aparecimento do surto de peste devido às condições económicas mais difíceis da população árabe e trata-se sobretudo de uma obra de resignação, em que as pessoas, apesar de esporádicos reencontros às portas de saída da cidade encerrada, aceitam com algum fatalismo a possibilidade e a eminência da morte.

Existe apenas uma referência, entre franceses, sobre um indivíduo sujeito a quarentena após a morte de um familiar e que após essa quarentena cumprida regressa e é considerado suspeito de "poder ter" a peste, ou pelo menos, mais suspeito que qualquer dos dois intervenientes no diálogo, isentos de suspeita (ou que se consideram como tal). O problema da peste é alargado a um estado de alma, identificado até a um estado geral, a um estado de espírito, em que, supostamente, a peste existiria no mundo inteiro sob diversas manifestações: como pena capital para os criminosos, por exemplo.

A exclusão é pouco sentida enquanto exclusão em face de outros, contudo o problema colocado pelo autor relaciona-se assim, mais, com a exclusão do indivíduo e a sua auto-exclusão em face da sociedade e não pela intervenção da sociedade para excluir o indivíduo, se esquecermos a exclusão da população árabe de todo o enredo histórico.

As razões que levam a esta exclusão, dentro dos excluídos, da população indígena, não foi até agora, e que eu tenha conhecimento, objecto de qualquer referência da parte quer da crítica quer de analistas do problema levantado por Camus na sua obra a Peste.

Por outro lado, esta ausência de contacto verbal, que pressupõe uma ausência de contacto físico, entre franceses colonialistas e população residente, é, de alguma forma bastante mais radical em Camus do que nos relatos que têm sido feitos sobre questões de relacionamento inter cultural e social entre populações residentes e colonizadores, entre os quais se estabelece uma hierarquia bastante rígida e que tem como exemplo o procedimento colonial inglês.

Igualmente, este afastamento entre as duas comunidades que nos aparece quase como real (ou pelo menos metido entre um parêntesis histórico) resulta também no facto de que não são manifestadas quaisquer reacções de culpabilização em relação à população árabe - residente sobre as origens da peste, o que seria de supor poder haver uma vez que as populações residentes detinham índices de infra – estruturas sanitárias bastante inferiores àquelas que eram distribuídas à população francesa colonizadora.

A Peste, de Albert Camus, faz contudo parte de uma curiosa forma de ver as situações da parte deste autor, em que o enclausuramento das personagens as coloca quase num clima irreal ou irrealizável. Já no Estrangeiro o mesmo problema se põe, não havendo, inclusive, no filme originado pelo referido livro, necessidade de introduzir qualquer elemento indígena como actor / representante da população desta forma marginalizada.

Esboço da autoria de Daniel Teixeira 1857.

Veja aqui links sobre Camus, o Existencialismo, o Absurdo e o Suicídio etc.

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FERNANDO PESSOA E A REVISTA ORPHEU

 

A revista Orpheu acolheu o movimento modernista denominado de "Paûlismo" que deriva do poema "Pauis" de Fernando Pessoa ( 1913 ), no qual se inclui ( por força das definições de Maria Aliete Galhoz em "O estudo Poético de Orpheu" publicado em 1959 ) Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Alfredo Pedro Guisado, Cortes Rodrigues ( aliás Violante de Cisneiros ) e ainda, um pouco à margem, mas com influências : Raul Leal e Ângelo de Lima.

Por ora e por aqui vamo-nos ficar pelo poema Pauis, publicado na Renascença em 1913:

Pauis de roçarem ânsias pela minh´alma em ouro...

Dobre longínquo de Outros Sinos...Empalidece o louro

Trigo na cinza do poente...Corre um frio carnal por minh´alma...

Tão sempre a mesma, a Hora!...Balouçar de cimos de palma!...

Silêncio que as folhas fitam em nós. Outono delgado

Dum canto de vaga ave...Azul esquecido em estagnado...

Oh que mudo grito de ânsia põe garras na Hora!

Que pasmo de mim anseia por outra cousa, que o que chora!

Estendo as mãos para além, mas no estendê-las lá vejo

Que não é aquilo que quero, aquilo que desejo...

Címbalos de imperfeição... Ó tão antiguidade

A Hora expulsa de si -Tempo!...Onda de recuo que invade

O meu abandonar-me a mim próprio até desfalecer

E recordar tanto o Eu presente que me sinto esquecer!...

Fluído de auréola, transparente de Foi, oco de ter-se...

O Mistério sabe-me a eu ser outro...Luar sobre o não - conter-se.

A sentinela é hirta - a lança que finca no chão

É mais alta do que ela...Pr´a que é tudo isto?...Dia chão...

Trepadeiras de despropósito lambendo de Hora os Aléns!

Os horizontes fechando os olhos ao espaço em que são elos de erro!...

Fanfarras de ópios de silêncio futuros!...Longes trens...

Portões vistos de longe...através das árvores...tão ferro!

 

 

O problema dos heterónimos de Fernando Pessoa tem tido um autêntico culto de exegese pelo que nos permitimos inserir dois dos inúmeros links que entendemos desenvolver sobre a questão:

A Heteronomia

Os Heterónimos ou «Ficções de Interlúdio» vistos pelo próprio Fernando Pessoa

 

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Fernando Pessoa

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FERNANDO PESSOA ( Cronologia e análise da Universidade Fernando Pessoa )

O facto de não termos ainda nada de nosso ( autores da página ) muito significativo sobre Fernando Pessoa colocou-nos um dilema: num país onde para se chegar a grande em literatura é preciso fazer uma tese ou sobre Camões ou sobre Fernando Pessoa, os nossos leitores achariam concerteza imperdoável que deixássemos este espaço psico / literário em branco ou pouco povoado.

Assim, e para colmatar a brecha, resolvemos socorrer-nos da Universidade Fernando Pessoa que, por sua vez, se socorreu de outros trabalhos...

A propósito, e para finalizar : gostamos de Fernando Pessoa...

 

Cronologia da Vida e obra de Fernando Pessoa

Vida e obra de Fernando Pessoa

A Águia, a poesia modernista, o Orpheu e a Mensagem

A Águia: adesão e dissidência ( 1912/1914)

Paúlismo, Interseccionismo e Sensacionismo

Orpheu ( 1915/1916 -1º, 2º e 3º números )

A mensagem ( 1934 )

O poeta da modernidade: Desassossego e negação

Criação Literária e universalista: a dimensão europeia

O ideal universalista da Mensagem

O quinto império - o visionarismo profético

Os Lusíadas e a Mensagem

O Humanismo em Pessoa: " O eterno devir"

Textos da Mensagem

Fernando Pessoa Ortónimo: " Ele mesmo e o outro "

Textos do Cancioneiro

Fernando Pessoa: o poeta dos heterónimos

Explicações possíveis da heteronomia

Textos poéticos de Ricardo Reis

Textos poéticos de Álvaro de Campos

Textos poéticos de Alberto Caeiro

Unidade ou Diversidade

Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética

O Simbolismo Metafórico

Exegese em Pessoa

Bibliografia do Poeta

Bibliografia sobre o Poeta

 

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