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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME

Vento Solar-Jorge Simões

 

O solo alongado do raio de sol

Sentado na aresta do violino

Vertido no espelhometal do sino

Sonante como uma aldeia, um domingo mole

Amansa a corrente que cai nessa blusa

Bamboleante de ninfa da floresta intensa

Imitando o som da catarata densa

Dentro do olhar que te torna musa

E é muito e é vasto e é verdadeiro

Vermelho na brisa cálida que aterra

Arquejante no colo quente da terra

Toda auto-imagem do solo primeiro

 

21 de Julho de 1993

 

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O Tempo Lá Fora-Jorge Simões

 

Telhados de telhas vermelhas ao sol

De brilhos gastos e baços ao sol

Buracos nas telhas vermelhas e teias

Que tecem aranhas nos sótãos ao sol

Nos sótãos, em arcas sujas e feias

Guardam-se imagens e perdem-se ideias

Que um dia teceram as mentes pensantes

Dos habitantes dessas colmeias

E traçam-se imagens fantasmagorizantes

De tempos de outrora, agora distantes

Quando aquele relógio, ao canto calado

Marcava compassos nos dias passantes

E feito de seda o vestido bordado

De palha amarelo aquele chapéu ratado

Com fitas e folhos em cores desmanchadas

Já foram de gente e são do sobrado

Caladas as vidas, vozes, gargalhadas

As rodas do lento tempo paradas

Restam as telhas e os raios de sol

E as sombras da lua no sótão lançadas

 

14 de Julho de 1994

 

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Mapa-Fundi- Jorge Simões

 

Passar além do papel - couché do mapa

Dos continentes, mares, ares, da capa

Chegar algures e acelerar sem direcção

Como na vida e travar fundo sem razão

E a esquerda de canetas, papéis e um velho cacto

E a direita do mapa, unidimensional, abstracto

Formam um alegre par, triste e pateta

Como na vida, esparramada junto à meta

Entro mapa - mundi dentro, louco e triste

Comendo e respirando a cor que lá existe

E engasga-me a impressão espinhosamente plana

Como na vida, da dor que nele se derrama

 

26 de Julho de 1994

 

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Filosofundo - Jorge Simões

 

Filosofar, filosofar sonhos dentro, até acordar

Ao som real (se não genial) do despertador

A rastejar, rastejar vida fora, até cabecear

E outra vez filosofar o que calhar sob o cobertor

Não é que a dor se apague com a luz da cabeceira

Quando nos apalpa o pensamento a escuridão

Mas é que sensual como a informal filosofeira

Só a curva recta igual ao litro da emoção

 

5 de Agosto de 1994

 

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Canção do Desterrado - Jorge Simões

 

Canta o desterrado algures, nalgum mapa

O canto sufocado da vida que lhe escapa

Entre rachas, raivas e entre rotas tortas

Dos dias compridos das fechadas portas

Bússolas, sextantes, réguas, nada usa

Cada ponto é outro com que não se cruza

E cada cruz é outra, como um avião

Ou um mapa falso rasgado na mão

 

16 de Outubro de 1994

 

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Transbordancial- Jorge Simões

 

Primadonafrase minha dona primavera

Primitiva vera prima toda doce como Eva

Minha fruta sumarenta minha ideia primeva

Flor de primo choro morno derramado em cada era

Como a hera que arrebata em si signos sons sinais

Sempre verdes sempre tenros sempre ternos sempre iguais

A nuncas e a sempres e a sementes que sempre crescem por demais

E a rios que rias e a mares que tomaras e a versos e rimas e sons mananciais

 

12 de Dezembro de 1994

 

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Poema do Desamor Apátrida - Jorge Simões

 

Flirtando ausências sólidas no fundo

No poço cá do espelho, feito um destroço

Estatelado contra as costas corcundas

De um velho magro, de ideias fundas

"Tenho oitocentos anos", diz

E quem te quer descrer? Bon... Well...

E crescem-lhe verrugas no nariz

Quando inventa Adamastores de papel

Sólida tristeza traz no dorso

Feita infantilidade, dor e esforço

O gigantone anão, o carregador

De vagas emoções de desamor

E eu flirto só comigo e só com ele

Assando na fogueira que me assa a pele

 

16 de Fevereiro de 1996

 

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Viagem - Jorge Simões

 

Gargalhadas sonoras de claros dias

Positivos de alegrias, guias de viagem

Escrevem-se em dobras de leitos perfeitos

E nos peitos de mulheres - superstar

(A serpentear vou rumo à maçã

E engulo só imagens do ecrã)

 

1 de Março de 1996

 

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Direitos Liberais - Jorge Simões

 

Liberal carne, esparramada sobre a estrada social!

Conduzia à direita a 130 e vi, desfeita no meio da via,

A carcaça estarrecida de um cão já verde e de indefinida raça

Com o focinho meio perdido num charco ressequido cor de vinho.

No retrovisor foi-se perdendo aquele horrendo uivador

Não mais luzidio nem abandonado ao frio de direitos iguais

Do patrão, do recibo, da factura, da existência dura de qualquer cão

Desfeito, pouco a pouco, por uma festa na testa ou um murro no peito.

Então, já na minha fortaleza, no sofá junto à mesa, carreguei no botão

(Passava o noticiário económico na televisão)

E esqueci, contente, com um prato de massa à frente, aquele deprimente cão...

 

15 de Março de 1996

 

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Ruído do Antes e Depois - Jorge Simões

 

Rac-rac, o bicho da madeira

No silêncio-grito destas salas

Vai ritmando escritas na cadeira

Feito um Bach insólito, uma Callas

Não sei se é porque o outro, tão cantante

Com os seus contratos e a sua revolução

Já se foi, lembrando os tempos de estudante

Que o rac-rac parece uma canção

Ou se a história, pura e simplesmente

Quando me frisam: "Sei os meus direitos!"

Me soa a coisa ouvida antigamente

Quando eram moda os versos imperfeitos

Falta dizer que o bicho-comilão

Roendo onde pode e onde alcança

Não chega nunca a ser bicho-papão

Mas tão somente canto da mudança

 

7 de Maio de 1996

 

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Bullshit All Over The World - Jorge Simões

 

"Bullshit all over my life!", pensei quando a lead singer se chegou à frente do ecrã e exclamou "Peace and love!"

É que descobri que aqueles dois dedos separados não eram mais que um par de cornos

E que ninguém nos traz de volta seja o que for dos dias de sol que julgamos poder ter vivido

É perguntar aos liberalistas que mandam no nosso dia-a-dia

E aos arrumadores de carros e aos bêbados e aos loucos e às putas

E aos trucidados de corpo e alma de todas as guerras e misérias

E ao vomitado que nos esguicha do fundo da grande superfície das nossas batalhas virtuais

E aos grandes comerciantes de emoções que vendem cores, formas sons e todas as pazes e amores do universo

E escrever em palavras demais o que se resumiria num mero slogan essencial: Bullshit all over the world!

 

1996

 

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Manhã Cinzenta - Jorge Simões

 

Manhã cinzenta, dolorosa...

Tímida, escondida, deslocada

E finada ao desabrochar

Como o voo das aves a despencar.

Manhã cinzenta, nem sequer chorosa...

Contida por nuvens, desencontrada

Como os sonhos de anjos e demónios

Erróticos, errantes e erróneos.

 

4 de Maio de 1997

 

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O Fim da Idade de Sonhar - Jorge Simões

 

Onde morrem esses sonhos que se afogam em areais

Esses sonhos suicidados de sonhados por demais?

(pois não vejo sepulturas se procuro um cemitério

E conheço muitos sonhos que se somem por mistério).

Em tempos, ontem ainda, eram rios a correr...

Que foi feito desses sonhos que me fizeram viver?

Nomes, lugares, ideais, tudo tão certo e traçado...

Isso era ontem... Ou antes? O traço ficou borrado.

Onde acabam esses sonhos... Em oceanos opacos

Em câmaras-frogoríficas, no fundo de sacos aos cacos?

 

5 de Agosto de 1998

 

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Tarot - Jorge Simões

 

Quando eu atiro o tarot

Tudo mostra estagnação

Tudo revela complot

Tudo parece o truão.

Num sonho crepuscular

Eu vejo-me marioneta

Dançando sob o luar,

Na Casa de Deus invertida

No Mago a fazer o pino

No Carro de roda partida.

E erro só, um otário

Com o Louco bem na cabeça

E a Roda toda ao contrário.

Quando eu retiro o tarot

Nada parece avançar...

Tudo parece ficar

Tudo de pernas para o ar.

 

21 de Agosto de 1998

 

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Pede e Ser-te-á Dado - Jorge Simões

 

Trago uma confusão infinita na cabeça...

De forma alguma campiana, vaga e existencial

Mas sim um verdadeiro caos do meu tempo

Entrechocando colisões de galáxias neuronais

E espaço-tempos literalmente recurvados sobre si.

É por isso que erro em wormholes sombrios e apertados,

Tanto que a frente é o único caminho possível

E quantas vezes ela não passa de um vídeo do que está atrás!...

Grande Relojoeiro das órbitas excêntricas:

Como resolveremos a desequação das promessas incumpríveis?

 

23 de Agosto de 1998

 

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Desoróscopo - Jorge Simões

 

Hoje não lerei mais as previsões na revista

Nem o horóscopo, nem o tempo, nem a tendência bolsista...

Lê-se melhor na garoa, na nuvem cinzenta que abafa

Lê-se no tampo da mesa, no rótulo da garrafa

No açúcar derramado, no cinzeiro bafiento

Que o tempo disseca os momentos, preciso, incisivo, lento.

Chega-me de uma criança o guincho límpido e claro

Na mesa mesmo ao meu lado, junto ao fumo do cigarro...

E lê-se nos olhos abertos, no "o" da boca abaulada

Um quê qualquer de fortuna aberta e desmesurada

Que me sufoca num beijo lançado à toa no ar

Na impressão rarefeita de que o hoje está a acabar.

 

13 de Setembro de 1998

 

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O Riso do Alexandre (ao meu filho pequenino) - Jorge Simões

 

O teu riso escancarado

É um sol inesquecível

Um eco calado e invisível

Do que nós próprios fomos

E de tudo o que ainda somos.

O teu sol, círculo perfeito

E os olhos em meia-lua

São a cama onde me deito.

Na tua

Macieza inocente

Imersa em perfume dormente.

E o teu fogo, pleno Agosto

Esquissado em fino tecido

É um rosto claro e sentido...

Mais que a funda água cantante

E o invernal fogo crepitante.

 

14 de Outubro de 1998

 

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As Barras da Interrogação - Jorge Simões

 

Que me diga quem souber falar dos céus:

Quantos pêlos tem a barba branca de Deus?

E quem tiver certezas acerca do outro lado:

Quantos cornos tem realmente o diabo?

E quem me souber explicar com segurança e tino:

Por quantas estradas segue afinal o Destino?

Que me revele quem conhecer a revelação:

Com quantas barras se constrói uma prisão?

 

16 de Outubro de 1998

 

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A Solidão - Jorge Simões

 

A solidão eterna das pessoas que dizem "Os amigos são o mais importante!"

A solidão interna das pessoas que afirmam "É um mundo cão!"

As pessoas...

Uns que fumam.

Uns que tomam café.

Uns que fixam o ecrã.

Uns que pensam.

E Deus que é Um...

 

19 de Outubro de 1998

 

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O Cheiro - Jorge Simões

 

Quando as luzes se desfazem subrepticiamente

E das feições não resta sequer o tacto

Quando tudo se começa a confundir na mente

Porque te somes e ignoro se teremos mais contacto

Quando o teu abraço dúbio fica mais dúbio ainda

E as palavras se esborratam no fundo do tinteiro

Resta só de ti, doce amiga desavinda,

O abstracto, intenso, alucinado cheiro...

 

23 de Novembro de 1998

 

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Ritmo, Som e Comboio - Jorge Simões

 

A vida, aqui dentro, é um verme encadeado

Que estende o largo tempo em carris montado

E nós... Pequenos pedaços de tripa à deriva

Retalhos balouçados da locomotiva:

Somos escritores, actores, seres vulgares, vagabundos

Como aquele que adormece em sonhos fundos

Ou aquela que toma o seu café espresso

Ou o outro que revira a mala do avesso

Ou até o empregado que vende sandes secas

E a menina que brinca com as suas bonecas.

Segue o comboio obsessivo... E tanto

Que não se me varre este som, este canto

(Where the streets have no name, where the streets have no name)

Da memória presente e do tempo que a queime

(Where the streets have no name, where the streets have no name)

E enrodilha-se o som na teima que eu teime

(Where the streets have no name, where the streets have no name)

Quando o céu não tem estrelas, quanto mais hall of fame!...

 

28 de Abril de 1999

 

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Um Ser Bizarro - Jorge Simões

 

Há sempre um macho adulto que comanda o grupo

Passa os braços sobre os ombros delas e segue adiante.

"Fui escolhida!", pensam-lhes os genes. E não é pouco

Ser-se cortejada assim pelo macho dominante.

E há sempre alguém que é diferente e enervante

Por não seguir o chefe nem passar o braço...

Ninguém sabe o que pretende esse ser errante.

Tratar-se-á de espaço? Mas para quê o espaço?

Olhá-lo nos olhos pode ser um embaraço...

Tem sempre opinião que dos outros difere

E afirma o que se pensa mas não se gere.

Ele é estrangeiro e fala um idioma baço...

Baço e quase ingénuo de loucura e empenho

Que aqui se dedica a quem se afasta do rebanho.

 

4 de Maio de 1999

 

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Sol Nascente no Pireu - Jorge Simões

 

Eu vi o sol incendiar a deserta e vasta madrugada!

"É um efeito da poluição", sossegou-me Laurence em francês.

Mas quem me dera vê-la, senti-la mais uma vez,

Aquela bola vermelha a derramar-se na enseada...

Agora, o Pireu perdeu os contornos de ciência-ficção

E descansa, mortiço, na noite parda das realidades

Como descansa a noite eterna em todas as cidades,

No regaço denso e perdido da recordação.

 

12 de Junho de 1999

 

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Boulevard Clochard - Jorge Simões

 

Eu vi-o espreguiçar-se, coçar-se, assoar-se, bocejar...

O clochard perdido no labirinto chique do boulevard.

Retirou do bolso um espelho pequeno e meio partido

E um pente desdentado como o brinco ratado no ouvido

(Passava uma limousine na manhã abençoada por um deus ateu)

E ele fitou-me longamente, olhou o espelho e disse-me: "Sou eu".

 

17 de Junho de 1999

 

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Idade da Maçã - Jorge Simões

 

Recordo-me bem da manhã...

Da clara alvorada esperançosa

Da crença inocente e mimosa

Antes da serpente e da maçã.

Recordo-me bem, a seguir,

Da dor aguda da mordida

De abrir os olhos para a vida

E já não ver nem sentir.

Depois, já não me recordo

(Pois todos os dias remordo

Em seco o ácido fruto).

E todos os dias acordo

Para a noite que navego a bordo

Da minha nau de escorbuto.

 

18 de Outubro de 1999

 

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Ondas Vagas - Jorge Simões

 

As ondas redondas do mar bravio

Que se estilhaçam por horas a fio

Mal chegam à praia já estão de ida

Logo se afastam e é já sentida

A imensa nostalgia hipnotizante

Que enrolam na minha alma itinerante...

De luzes vagas nelas refractadas

Das cinzentidões nelas espalhadas.

Vaga é a minha alma e o meu vagar

Fixado nas ondas sem as olhar

Cravado no fundo sem se ancorar.

Vago é o meu sono como esse ir

Como o ir que vem e o ir a partir

Como a brusquidão vaga do sentir...

 

Janeiro de 2000

 

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Enterra o Focinho - Jorge Simões

 

Enterra o focinho bem na areia, cão

Na linha da sombra que rebate o marulhar

Onde o teu faro se pode perder no chão

E os meus pensamentos se vão enterrar

Fecha-me bem essas pálpebras castanhas

Qual cólica mole e mal imaginada

Longe do sol queimador de entranhas

Longe da vida e da luz torrada

Enterra o focinho e deixa-me ficar

Crente que também posso ser assim

Imerso em funduras, só a sonhar

Enterra o nariz negro bem até ao fim

Como uma rosca por desenroscar

Total simbiose, totalmente em mim

 

12 de Janeiro de 2000

 

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Para o Alexandre - Jorge Simões

 

Tu és o sol que me rega de esperança

De chuva da vida brotando em torrente

Com o teu brilho intenso de criança

Onde hoje me revejo antigamente

São espelhos os teus olhos de diamante

Fitando para lá de onde pareço estar

Rompendo aquém e além do presente

Na tela que ambos somos a pintar

E improvisas abstracções de cores quentes

Obrigando-me a um contínuo retocar

Da minha paleta de tons indolentes

E quando não estás, ouço-te cantar

Belas monocordias sempre diferentes -

"Pa-pa-pa-pa" - no tempo a passar...

 

24 de Fevereiro de 2000

 

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Evolução - Jorge Simões

 

Cogumelos mexicanos esmagados no fundo de um prato estilhaçado!

Calças de ganga coçadas, cabelos longos, o pó acumulado no relógio!

Cogumelos mexicanos, mexicanos cogumelos, rock, rock, freak!

Freak, o sonho retorcido, feito um trabalho forçado,

E todos os que o caminho engoliu aquém e além de lá.

A monotonia, a responsabilidade estética, a electricidade didáctica,

A realidade que me escolheste quando me desabaste e me encolheste,

E me transformaste num mono ao vento, estático...

Simpático, simpático, simpático...

 

Março de 2000

 

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Desode Dolorida - Jorge Simões

Caneta de dor toda reprimida,

Cor mais que banal, essa cor da vida!

Sobre o papel vácuo, todo branquidão,

De margem a margem só resignação...

Aonde me levas em um dia mais

Em vinte e quatro partes todas iguais?

Fálica caneta... E o papel à espera

Da ode da treta à não - primavera.

 

17 de Março de 2000

 

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Apologia do Sono - Jorge Simões

 

Mergulha, poeta, da cabeça aos pés

Nos braços de uma grande sonolência

Que é tudo, mas tudo, o que tu não és

Sendo entretanto a tua própria essência

Dorme solto como um deus esquecido

Criando do nada o imenso etéreo

Onde possas achar o merecido

Além urgente do dia funéreo

Voa nas asas dessa outra ave

Que desconhece o termo economia

E ignora o que seja a sociologia

Descobre desse lado teu a clave

Que é totalmente feita de harmonia

E te abre as portas para um novo dia

 

20 de Março de 2000

 

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Chuvisco e Cão Vadio - Jorge Simões

 

Pingam da minha caneta avariada

De forma metódica, insistente e calada

Gotas azuis de tédio e desfastio

Como lá fora sobre o pelo de um cão vadio

Ignoro se pensa ou se uiva mentalmente

Recordando um osso amargo, uma cadela indiferente

Mas sei que as gotas, ridículas e espaçadas

Lhe dão um olhar triste em tristes caminhadas

E o chuvisco cai, cai, cai como a existência

Que o vejo percorrer com lenta persistência

Espécie de cão de Pavlov que só interiorizou

Da vida a recompensa do chuvisco que o molhou

 

25 de Maio de 2000

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