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LISTA DE POETAS POR ORDEM
ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME
O solo alongado do raio de sol Sentado na aresta do violino Vertido no espelhometal do sino Sonante como uma aldeia, um domingo mole Amansa a corrente que cai nessa blusa Bamboleante de ninfa da floresta intensa Imitando o som da catarata densa Dentro do olhar que te torna musa E é muito e é vasto e é verdadeiro Vermelho na brisa cálida que aterra Arquejante no colo quente da terra Toda auto-imagem do solo primeiro
21 de Julho de 1993
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Telhados de telhas vermelhas ao sol De brilhos gastos e baços ao sol Buracos nas telhas vermelhas e teias Que tecem aranhas nos sótãos ao sol Nos sótãos, em arcas sujas e feias Guardam-se imagens e perdem-se ideias Que um dia teceram as mentes pensantes Dos habitantes dessas colmeias E traçam-se imagens fantasmagorizantes De tempos de outrora, agora distantes Quando aquele relógio, ao canto calado Marcava compassos nos dias passantes E feito de seda o vestido bordado De palha amarelo aquele chapéu ratado Com fitas e folhos em cores desmanchadas Já foram de gente e são do sobrado Caladas as vidas, vozes, gargalhadas As rodas do lento tempo paradas Restam as telhas e os raios de sol E as sombras da lua no sótão lançadas
14 de Julho de 1994
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Passar além do papel - couché do mapa Dos continentes, mares, ares, da capa Chegar algures e acelerar sem direcção Como na vida e travar fundo sem razão E a esquerda de canetas, papéis e um velho cacto E a direita do mapa, unidimensional, abstracto Formam um alegre par, triste e pateta Como na vida, esparramada junto à meta Entro mapa - mundi dentro, louco e triste Comendo e respirando a cor que lá existe E engasga-me a impressão espinhosamente plana Como na vida, da dor que nele se derrama
26 de Julho de 1994
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Filosofar, filosofar sonhos dentro, até acordar Ao som real (se não genial) do despertador A rastejar, rastejar vida fora, até cabecear E outra vez filosofar o que calhar sob o cobertor Não é que a dor se apague com a luz da cabeceira Quando nos apalpa o pensamento a escuridão Mas é que sensual como a informal filosofeira Só a curva recta igual ao litro da emoção
5 de Agosto de 1994
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Canção do Desterrado - Jorge Simões
Canta o desterrado algures, nalgum mapa O canto sufocado da vida que lhe escapa Entre rachas, raivas e entre rotas tortas Dos dias compridos das fechadas portas Bússolas, sextantes, réguas, nada usa Cada ponto é outro com que não se cruza E cada cruz é outra, como um avião Ou um mapa falso rasgado na mão
16 de Outubro de 1994
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Primadonafrase minha dona primavera Primitiva vera prima toda doce como Eva Minha fruta sumarenta minha ideia primeva Flor de primo choro morno derramado em cada era Como a hera que arrebata em si signos sons sinais Sempre verdes sempre tenros sempre ternos sempre iguais A nuncas e a sempres e a sementes que sempre crescem por demais E a rios que rias e a mares que tomaras e a versos e rimas e sons mananciais
12 de Dezembro de 1994
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Poema do Desamor Apátrida - Jorge Simões
Flirtando ausências sólidas no fundo No poço cá do espelho, feito um destroço Estatelado contra as costas corcundas De um velho magro, de ideias fundas "Tenho oitocentos anos", diz E quem te quer descrer? Bon... Well... E crescem-lhe verrugas no nariz Quando inventa Adamastores de papel Sólida tristeza traz no dorso Feita infantilidade, dor e esforço O gigantone anão, o carregador De vagas emoções de desamor E eu flirto só comigo e só com ele Assando na fogueira que me assa a pele
16 de Fevereiro de 1996
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Gargalhadas sonoras de claros dias Positivos de alegrias, guias de viagem Escrevem-se em dobras de leitos perfeitos E nos peitos de mulheres - superstar (A serpentear vou rumo à maçã E engulo só imagens do ecrã)
1 de Março de 1996
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Direitos Liberais - Jorge Simões
Liberal carne, esparramada sobre a estrada social! Conduzia à direita a 130 e vi, desfeita no meio da via, A carcaça estarrecida de um cão já verde e de indefinida raça Com o focinho meio perdido num charco ressequido cor de vinho. No retrovisor foi-se perdendo aquele horrendo uivador Não mais luzidio nem abandonado ao frio de direitos iguais Do patrão, do recibo, da factura, da existência dura de qualquer cão Desfeito, pouco a pouco, por uma festa na testa ou um murro no peito. Então, já na minha fortaleza, no sofá junto à mesa, carreguei no botão (Passava o noticiário económico na televisão) E esqueci, contente, com um prato de massa à frente, aquele deprimente cão...
15 de Março de 1996
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Ruído do Antes e Depois - Jorge Simões
Rac-rac, o bicho da madeira No silêncio-grito destas salas Vai ritmando escritas na cadeira Feito um Bach insólito, uma Callas Não sei se é porque o outro, tão cantante Com os seus contratos e a sua revolução Já se foi, lembrando os tempos de estudante Que o rac-rac parece uma canção Ou se a história, pura e simplesmente Quando me frisam: "Sei os meus direitos!" Me soa a coisa ouvida antigamente Quando eram moda os versos imperfeitos Falta dizer que o bicho-comilão Roendo onde pode e onde alcança Não chega nunca a ser bicho-papão Mas tão somente canto da mudança
7 de Maio de 1996
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Bullshit All Over The World - Jorge Simões
"Bullshit all over my life!", pensei quando a lead singer se chegou à frente do ecrã e exclamou "Peace and love!" É que descobri que aqueles dois dedos separados não eram mais que um par de cornos E que ninguém nos traz de volta seja o que for dos dias de sol que julgamos poder ter vivido É perguntar aos liberalistas que mandam no nosso dia-a-dia E aos arrumadores de carros e aos bêbados e aos loucos e às putas E aos trucidados de corpo e alma de todas as guerras e misérias E ao vomitado que nos esguicha do fundo da grande superfície das nossas batalhas virtuais E aos grandes comerciantes de emoções que vendem cores, formas sons e todas as pazes e amores do universo E escrever em palavras demais o que se resumiria num mero slogan essencial: Bullshit all over the world!
1996
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Manhã cinzenta, dolorosa... Tímida, escondida, deslocada E finada ao desabrochar Como o voo das aves a despencar. Manhã cinzenta, nem sequer chorosa... Contida por nuvens, desencontrada Como os sonhos de anjos e demónios Erróticos, errantes e erróneos.
4 de Maio de 1997
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O Fim da Idade de Sonhar - Jorge Simões
Onde morrem esses sonhos que se afogam em areais Esses sonhos suicidados de sonhados por demais? (pois não vejo sepulturas se procuro um cemitério E conheço muitos sonhos que se somem por mistério). Em tempos, ontem ainda, eram rios a correr... Que foi feito desses sonhos que me fizeram viver? Nomes, lugares, ideais, tudo tão certo e traçado... Isso era ontem... Ou antes? O traço ficou borrado. Onde acabam esses sonhos... Em oceanos opacos Em câmaras-frogoríficas, no fundo de sacos aos cacos?
5 de Agosto de 1998
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Quando eu atiro o tarot Tudo mostra estagnação Tudo revela complot Tudo parece o truão. Num sonho crepuscular Eu vejo-me marioneta Dançando sob o luar, Na Casa de Deus invertida No Mago a fazer o pino No Carro de roda partida. E erro só, um otário Com o Louco bem na cabeça E a Roda toda ao contrário. Quando eu retiro o tarot Nada parece avançar... Tudo parece ficar Tudo de pernas para o ar.
21 de Agosto de 1998
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Pede e Ser-te-á Dado - Jorge Simões
Trago uma confusão infinita na cabeça... De forma alguma campiana, vaga e existencial Mas sim um verdadeiro caos do meu tempo Entrechocando colisões de galáxias neuronais E espaço-tempos literalmente recurvados sobre si. É por isso que erro em wormholes sombrios e apertados, Tanto que a frente é o único caminho possível E quantas vezes ela não passa de um vídeo do que está atrás!... Grande Relojoeiro das órbitas excêntricas: Como resolveremos a desequação das promessas incumpríveis?
23 de Agosto de 1998
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Hoje não lerei mais as previsões na revista Nem o horóscopo, nem o tempo, nem a tendência bolsista... Lê-se melhor na garoa, na nuvem cinzenta que abafa Lê-se no tampo da mesa, no rótulo da garrafa No açúcar derramado, no cinzeiro bafiento Que o tempo disseca os momentos, preciso, incisivo, lento. Chega-me de uma criança o guincho límpido e claro Na mesa mesmo ao meu lado, junto ao fumo do cigarro... E lê-se nos olhos abertos, no "o" da boca abaulada Um quê qualquer de fortuna aberta e desmesurada Que me sufoca num beijo lançado à toa no ar Na impressão rarefeita de que o hoje está a acabar.
13 de Setembro de 1998
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O Riso do Alexandre (ao meu filho pequenino) - Jorge Simões
O teu riso escancarado É um sol inesquecível Um eco calado e invisível Do que nós próprios fomos E de tudo o que ainda somos. O teu sol, círculo perfeito E os olhos em meia-lua São a cama onde me deito. Na tua Macieza inocente Imersa em perfume dormente. E o teu fogo, pleno Agosto Esquissado em fino tecido É um rosto claro e sentido... Mais que a funda água cantante E o invernal fogo crepitante.
14 de Outubro de 1998
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As Barras da Interrogação - Jorge Simões
Que me diga quem souber falar dos céus: Quantos pêlos tem a barba branca de Deus? E quem tiver certezas acerca do outro lado: Quantos cornos tem realmente o diabo? E quem me souber explicar com segurança e tino: Por quantas estradas segue afinal o Destino? Que me revele quem conhecer a revelação: Com quantas barras se constrói uma prisão?
16 de Outubro de 1998
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A solidão eterna das pessoas que dizem "Os amigos são o mais importante!" A solidão interna das pessoas que afirmam "É um mundo cão!" As pessoas... Uns que fumam. Uns que tomam café. Uns que fixam o ecrã. Uns que pensam. E Deus que é Um...
19 de Outubro de 1998
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Quando as luzes se desfazem subrepticiamente E das feições não resta sequer o tacto Quando tudo se começa a confundir na mente Porque te somes e ignoro se teremos mais contacto Quando o teu abraço dúbio fica mais dúbio ainda E as palavras se esborratam no fundo do tinteiro Resta só de ti, doce amiga desavinda, O abstracto, intenso, alucinado cheiro...
23 de Novembro de 1998
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Ritmo, Som e Comboio - Jorge Simões
A vida, aqui dentro, é um verme encadeado Que estende o largo tempo em carris montado E nós... Pequenos pedaços de tripa à deriva Retalhos balouçados da locomotiva: Somos escritores, actores, seres vulgares, vagabundos Como aquele que adormece em sonhos fundos Ou aquela que toma o seu café espresso Ou o outro que revira a mala do avesso Ou até o empregado que vende sandes secas E a menina que brinca com as suas bonecas. Segue o comboio obsessivo... E tanto Que não se me varre este som, este canto (Where the streets have no name, where the streets have no name) Da memória presente e do tempo que a queime (Where the streets have no name, where the streets have no name) E enrodilha-se o som na teima que eu teime (Where the streets have no name, where the streets have no name) Quando o céu não tem estrelas, quanto mais hall of fame!...
28 de Abril de 1999
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Há sempre um macho adulto que comanda o grupo Passa os braços sobre os ombros delas e segue adiante. "Fui escolhida!", pensam-lhes os genes. E não é pouco Ser-se cortejada assim pelo macho dominante. E há sempre alguém que é diferente e enervante Por não seguir o chefe nem passar o braço... Ninguém sabe o que pretende esse ser errante. Tratar-se-á de espaço? Mas para quê o espaço? Olhá-lo nos olhos pode ser um embaraço... Tem sempre opinião que dos outros difere E afirma o que se pensa mas não se gere. Ele é estrangeiro e fala um idioma baço... Baço e quase ingénuo de loucura e empenho Que aqui se dedica a quem se afasta do rebanho.
4 de Maio de 1999
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Sol Nascente no Pireu - Jorge Simões
Eu vi o sol incendiar a deserta e vasta madrugada! "É um efeito da poluição", sossegou-me Laurence em francês. Mas quem me dera vê-la, senti-la mais uma vez, Aquela bola vermelha a derramar-se na enseada... Agora, o Pireu perdeu os contornos de ciência-ficção E descansa, mortiço, na noite parda das realidades Como descansa a noite eterna em todas as cidades, No regaço denso e perdido da recordação.
12 de Junho de 1999
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Boulevard Clochard - Jorge Simões
Eu vi-o espreguiçar-se, coçar-se, assoar-se, bocejar... O clochard perdido no labirinto chique do boulevard. Retirou do bolso um espelho pequeno e meio partido E um pente desdentado como o brinco ratado no ouvido (Passava uma limousine na manhã abençoada por um deus ateu) E ele fitou-me longamente, olhou o espelho e disse-me: "Sou eu".
17 de Junho de 1999
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Recordo-me bem da manhã... Da clara alvorada esperançosa Da crença inocente e mimosa Antes da serpente e da maçã. Recordo-me bem, a seguir, Da dor aguda da mordida De abrir os olhos para a vida E já não ver nem sentir. Depois, já não me recordo (Pois todos os dias remordo Em seco o ácido fruto). E todos os dias acordo Para a noite que navego a bordo Da minha nau de escorbuto.
18 de Outubro de 1999
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As ondas redondas do mar bravio Que se estilhaçam por horas a fio Mal chegam à praia já estão de ida Logo se afastam e é já sentida A imensa nostalgia hipnotizante Que enrolam na minha alma itinerante... De luzes vagas nelas refractadas Das cinzentidões nelas espalhadas. Vaga é a minha alma e o meu vagar Fixado nas ondas sem as olhar Cravado no fundo sem se ancorar. Vago é o meu sono como esse ir Como o ir que vem e o ir a partir Como a brusquidão vaga do sentir...
Janeiro de 2000
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Enterra o Focinho - Jorge Simões
Enterra o focinho bem na areia, cão Na linha da sombra que rebate o marulhar Onde o teu faro se pode perder no chão E os meus pensamentos se vão enterrar Fecha-me bem essas pálpebras castanhas Qual cólica mole e mal imaginada Longe do sol queimador de entranhas Longe da vida e da luz torrada Enterra o focinho e deixa-me ficar Crente que também posso ser assim Imerso em funduras, só a sonhar Enterra o nariz negro bem até ao fim Como uma rosca por desenroscar Total simbiose, totalmente em mim
12 de Janeiro de 2000
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Para o Alexandre - Jorge Simões
Tu és o sol que me rega de esperança De chuva da vida brotando em torrente Com o teu brilho intenso de criança Onde hoje me revejo antigamente São espelhos os teus olhos de diamante Fitando para lá de onde pareço estar Rompendo aquém e além do presente Na tela que ambos somos a pintar E improvisas abstracções de cores quentes Obrigando-me a um contínuo retocar Da minha paleta de tons indolentes E quando não estás, ouço-te cantar Belas monocordias sempre diferentes - "Pa-pa-pa-pa" - no tempo a passar...
24 de Fevereiro de 2000
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Cogumelos mexicanos esmagados no fundo de um prato estilhaçado! Calças de ganga coçadas, cabelos longos, o pó acumulado no relógio! Cogumelos mexicanos, mexicanos cogumelos, rock, rock, freak! Freak, o sonho retorcido, feito um trabalho forçado, E todos os que o caminho engoliu aquém e além de lá. A monotonia, a responsabilidade estética, a electricidade didáctica, A realidade que me escolheste quando me desabaste e me encolheste, E me transformaste num mono ao vento, estático... Simpático, simpático, simpático...
Março de 2000
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Desode Dolorida - Jorge Simões Caneta de dor toda reprimida, Cor mais que banal, essa cor da vida! Sobre o papel vácuo, todo branquidão, De margem a margem só resignação... Aonde me levas em um dia mais Em vinte e quatro partes todas iguais? Fálica caneta... E o papel à espera Da ode da treta à não - primavera.
17 de Março de 2000
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Apologia do Sono - Jorge Simões
Mergulha, poeta, da cabeça aos pés Nos braços de uma grande sonolência Que é tudo, mas tudo, o que tu não és Sendo entretanto a tua própria essência Dorme solto como um deus esquecido Criando do nada o imenso etéreo Onde possas achar o merecido Além urgente do dia funéreo Voa nas asas dessa outra ave Que desconhece o termo economia E ignora o que seja a sociologia Descobre desse lado teu a clave Que é totalmente feita de harmonia E te abre as portas para um novo dia
20 de Março de 2000
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Chuvisco e Cão Vadio - Jorge Simões
Pingam da minha caneta avariada De forma metódica, insistente e calada Gotas azuis de tédio e desfastio Como lá fora sobre o pelo de um cão vadio Ignoro se pensa ou se uiva mentalmente Recordando um osso amargo, uma cadela indiferente Mas sei que as gotas, ridículas e espaçadas Lhe dão um olhar triste em tristes caminhadas E o chuvisco cai, cai, cai como a existência Que o vejo percorrer com lenta persistência Espécie de cão de Pavlov que só interiorizou Da vida a recompensa do chuvisco que o molhou
25 de Maio de 2000 voltar ao índice 2 de Poetas Mil voltar ao índice geral de poesia
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