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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME

Khalil Gibran - O Ensino



Então um Professor disse:

- Fala-nos do Ensino.

E ele respondeu:


- Nenhum homem vos pode revelar nada

que não repouse já meio adormecido

na manhã do vosso conhecimento.



O mestre que caminha à sombra do templo,

entre os discípulos,

não reparte a sua sabedoria

mas antes da sua fé e do seu amor.



Se for verdadeiramente sábio,

não vos convidará

a entrar na casa da sabedoria,

mas levar-vos-á

aos umbrais do vosso próprio espírito.



O astrónomo pode falar-vos

da sua compreensão do espaço,

mas não pode dar-vos a sua compreensão.



O músico pode cantar para vós

a melodia que enche todo o espaço,

mas não pode dar-vos o ouvido

que aprende o ritmo

nem a voz que lhe devolve o eco.



E o que é versado na ciência dos números,

pode falar nas relações dos pesos e medidas,

mas não pode levar-vos até lá.



Porque a visão de um homem

não pode emprestar as suas asas

a outro homem.



E assim como cada um de vós

se aguenta sozinho no conhecimento de Deus,

assim deve estar sozinho

no seu conhecimento de Deus

e na compreensão da terra.

 

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Aqui - Pablo Neruda


Vim aqui para contar os sinos
que vivem no mar,
que soam no mar,
dentro do mar.

Por isso vivo aqui.

 

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Maré Vasa - Pedro Homem de Mello

Expulsos do governo da cidade,
Descalços, pela noite vimos todos
Restituir-te, à flor dos nossos lobos,
A dádiva suprema da verdade.

Nós, o amor, ou antes: a pureza.
Nós, a virtude, ou antes: o sorriso.
Expulsos do terreno paraíso
E com a carne, para sempre, acesa.

E não foi mais que sonho o nosso crime!
E não foi mais que sopro o nosso abraço!
Mas todos Te seguimos, passo a passo,
À espera do remorso que redime...

Expiação de quê? De que pecados,
Se demos rumo eterno a tantas vidas?

Ó capitão das tropas esquecidas
Que, assim, deixais morrer os teus soldados!

 

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Regresso - Manuel Alegre

E contudo perdendo-te encontraste.
E nem deuses nem monstros nem tiranos
te puderam deter. A mim os oceanos.
E foste. E aproximaste.

Antes de ti o mar era mistério.
Tu mostraste que o mar era só mar.
Maior do que qualquer império
foi a aventura de partir e de chegar.

Mas já no mar quem fomos é estrangeiro
e já em Portugal estrangeiros somos.
Se em cada um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar em Portugal quem nunca fomos.

De Calicute até Lisboa sobre o sal
e o Tempo. Porque é tempo de voltar
e de voltando achar em Portugal
esse país que se perdeu de mar em mar.

 

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Como Ulisses te busco e desespero - Manuel Alegre


Como Ulisses te busco e desespero
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.

Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não tendo tudo são castigos.

Só não me canta Homero. Mas como U-
lisses vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar -- Pátria Sereia
Penélope que não te rendes -- tu

que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo o teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta Odisseia.

 

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Inicial - Pablo Neruda


O dia não é hora por hora.
É dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.
E só
seu sino
está ali entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá
quando levante sua língua de metal
onda após onda.

De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia
do mar, e um sino.

Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.
Isto acontece para todo o mundo,
continua o espaço.

E vive o mar.

Existem os sinos.

 

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Fantasia - Stefano Nardi

Menina, me conte uma mentira.
Suas mentiras suaves e delicadas
Adornam a minha vida
Reforçam os meus sonhos
Excitam o meu corpo
Provocam meus desejos.
Me fazem pensar que tenho amor, que transcendo a dor
Que posso me entregar, corpo e alma,
Embora eu seja apenas um deles.

 

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O Tímpano e a pupila - Luís Miguel Nava


Num dos pratos o mar, no outro um rio, agora
que o tempo se desossa,
que as pedras
que piso se me enterram na memória e os caminhos

se me aguçam na alma como lâminas, o pão
molhado nas feridas,
o pão
ele próprio já também uma ferida, agora

que o tempo, que já tanto
compararam a um rio, mais
não é do que uma leve exsudação nos muros,
nas mãos, agora

que o céu se encrespa e que pedaços
de mundo arremessados
com toda a força aos olhos revolteiam
na treva antes de se extinguirem,

mais magro do que a neve
caminho, a alma aberta como uma ferida,
ao longo da memória, onde se fundem
o tímpano e a pupila.

 

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Mar - Miguel Torga

Mar!
Tinhas um nome que ninguém temia:
Era um campo macio de lavrar
Ou qualquer sugestão que apetecia...

Mar!
Tinhas um choro de quem sofre tanto
Que não pode calar-se, nem gritar,
Nem aumentar nem sufocar o pranto...

Mar!
Fomos então a ti cheios de amor!
E o fingido lameiro, a soluçar,
Afogava o arado e o lavrador!

Mar!
Enganosa sereia rouca e triste!
Foste tu quem nos veio namorar,
E foste tu depois que nos traíste!

Mar!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de nos tentar
O teu encantamento!

 

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Mornas - Eugénio Tavares


Oh mar eterno sin fondo

sin fin

Oh mar de turbias olas

¡Oh mar!

De ti y de las bocas del mundo

hasta mí

sólo vienen dolores y desgracias

¡Oh mar!



Qué mal te hice yo, oh mar, oh mar

que al verme te pones a jadear, a jadear

quebrando esas olas tuyas

contra las rocas desnudas



Deja tu enfado un momento

Escucha

la voz de mi sufrimiento

en la lucha

que el amor enciende en mi pecho

deshecho

de tanto amar y penar

¡Oh mar!



Que hasta parece, oh mar, oh mar

un corazón jadeando, jadeando

en olas por acantilados

sus pesares quebrando



Tráeme noticias de mi amor,

amor,

que un día los vientos del cielo

¡oh dolor!

en sus brazos furiosos

llevaron

y a mi sonrisa, envidiosos,

robaron



No volvió ya a su hogar, su hogar

No lo vi ya más, oh mar, oh mar

Mar fría sepultura

de esta alma mía oscura



Me robaste la luz querida

del amor,

y me dejaste sin vida

en el horror

Oh alma de la tempestad,

amansa,

no me lleves la saudade

y la esperanza



Que esta saudade es quien, quien

me ampara, tan fiel, fiel

Es como la dulce madre

suavísima y cruel



Penas de esta aflicción

que agita

mi infeliz corazón,

bendita,

bendita sea la esperanza

que todavía

me va prometiendo bonanza

¡Tan bonita!

 

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Antero de Quental - Oceano Nox


Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,


Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...


Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?


Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

 

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Não me deixes ! - Gonçalves Dias


Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde ela bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!"

"Comigo fica ou leve-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"

 

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Mar - Federico Garcia Lorca


" El mar es el Lucifer del azul. El cielo caído por querer ser la luz.
Pobre mar condenado a eterno movimiento habiendo antes estado quieto en el firmamento!
Pero de tu amargura te redimió el amor.
Pariste a Venus pura, y quedóse tu hondura virgen y sin dolor.
Tus tristezas son bellas, mar de espasmos gloriosos.
Mas hoy en vez de estrellas tienes pulpos verdosos.
Aguanta tu sufrir, formidable Satán.
Cristo anduvo por ti, mas también lo hizo Pan.
La estrella Venus es la armonía del mundo. Calle el Eclesiastés!
Venus es lo profundo del alma...
Y el hombre miserable es un ángel caído.
La tierra es el probable paraíso perdido."

 

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O amar do mar - Carlos Seabra


Boca do mar
beijo de sal
lábios da praia
pele de areia

língua de rio
decote de dunas
seios de ilhas
abraço do sol

correntes de desejo
cheiro de algas
ondas de prazer
espuma que rebenta

gemidos das gaivotas
gozo das nuvens
céu que se funde
no azul do mar

 

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Poemas que eu escrevi na areia - Alda Lara


I

Meu bergantim, onde vens,
que te não posso avistar?
Bergantim! Meu bergantim!
Quero partir, rumo ao mar...

Tenho pressa! Tenho pressa!
Já vejo abutres voando
além, por cima de mim...
Tenho medo... Tenho medo
de não me chegar ao fim.
Meus braços estão torcidos.
Minha boca foi rasgada.
Mas os olhos, estão bem vivos,
e esperam, presos ao Céu...

Que haverá p'ra além da noite?
p'ra além da noite de breu?

Ah! Bergantim, como tardas...
Não vês meu corpo jazendo
na praia, do mar esquecido?...
Esse mar que eu quis viver,
e sacudir e beijar,
sem ondas mansas, cobrindo-o...

Quem dera viesses já...
que vai ficando bem tarde!
E eu não me quero acabar,
sem ver o que há para além
deste grande, imenso céu
e desta noite de breu...

Não quero morrer serena
em cada hora que passa
sem conseguir avistar-te...
Com meu olhar enxergando
apenas a noite escura,
e as aves negras, voando...

II

Meu bergantim foi-se ao mar...
Foi-se ao mar e não voltou,
que numa praia distante,
meu bergantim se afundou...

Meu bergantim foi-se ao mar!
levava beijos nas velas,
e nas arcas, ilusões,
que só a mim me ofereci...

Levava à popa, esculpido,
o perfil, leve e discreto,
daqueles que um dia perdi.

Levava mastros pintados,
bandeiras de todo o mundo,
e soldadinhos de chumbo
na coberta, perfilados.

Foi-se ao mar meu bergantim,
Foi-se ao mar... nunca voltou!

.........................
E por sete luas cheias
No areal se chorou...

 

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Pedra do Sono - João Cabral de Melo Neto


El mar soplaba campanas,

las campanas secaban las flores,

las flores eran cabezas de santos.



Mi memoria llena de palabras,

mis pensamientos buscando fantasmas,

mis pesadillas atrasadas de muchas noches.



De madrugada mis pensamientos puros

volaban como telegramas;

y en las ventanas encendidas toda la noche

el retrato de la muerte

hizo esfuerzos desesperados para huir.

 

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Bocage - Opera Omnia


«Adamastor cruel! De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente os domadores!

Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Co'a esposa e co'os filhos filhinhos abraçado,
Qual Mavorte com Vénus e os Amores.

Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.

Bem te vingaste em nós do afoito Gama!
Pelos nossos desastres és famoso.
Maldito Adamastor! Maldita fama!»

 

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Miguel Torga - Tormenta


Noite medonha, aquela!
O mar tanto engolia a caravela
Como a exibia à tona, desmaiada!
No abismo do céu nem uma estrela!
E a cruz de Cristo, agonizar na vela,
Suava sangue sem poder mais nada!
A fúria cega dum tufão raivoso
Vinha das trevas desse Tenebroso
E varria a quimera dos convés…
O mastro grande que Leiria deu
Era um homem de pinho, mas caiu
Quando um raio o abriu de lés a lés…

Novo guardados rumos da Nação,
O piloto guiava a perdição
Como um pai os destinos do seu lar…
Até que o lar inteiro se desfez.
Até que o pai chegou também a vez
De fazer uma prece e descansar…

O gajeiro sem gávea, dessa altura
Que a alma atinge aos rés da sepultura,
Olhou ainda a bruma em desafio…
Mas a Sereia Negra que cantava
No coração do mar, tanto chamava,
Que ele deu-lhe aquele olhar cansado e frio.

O naufrágio alargou-se ao mar inteiro.
E o corpo morto de um herói, primeiro
Cruzado da unidade deste mundo,
No dorso frio duma onda irada,
Mandou aos mortos, com a mão na espada,
Boiar o sonho, que não fosse ao fundo.

 

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Adélia Prado - Sedução


A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

 

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Onde o Mar Acaba - Egito Gonçalves


Que sea otro el tema, donde el mar comienza.

¿La aventura es el mar o esa forma

que se forma después, que va a vivir

en la memoria de los días? Una isla recuerdo

adonde el mar me llevó y del conocimiento

me abrió varias puertas. El océano

comenzaba antes, acababa después, allí

sólo proseguía, meciéndome en sus noches

de velas recogidas, de fáciles piñas,

de altos mástiles tocados de añoranza

cintilante como la estela de la luna.

Más tarde supe que estaba sin trabajo

pues no había Indias ni de infantas

el premio de una sonrisa. Pero combates

había para otros, torpedos y cañones

lejos no andaban. De aquella guerra

sólo yo fingía ser. Anclado velero

pensaba yo la isla, verde como el eslogan,

en ella sin las náuseas que sobre el mar

me atacaba en los navíos de la Insulana.

Marinero yo no era. El mundo antiguo

se vivía en los libros, reproducciones offset

multiplicaban los atlas, algunos poetas

bañarían en Grecia sus poemas. Yo,

estaba allí, parado en el tiempo, donde

el mar comenzaba y acababa, esperando

que en la plaza de la Matriz el reloj del sueño

tañese su regreso. Mi casa

estaba a oriente, allí acabaría

para mí el mar, y, sólo cuando desde la playa

lo viese, la imaginación podría murmurar

que a mis pies comenzaba y del viaje

sería excluido. Un rostro sin secretos

que las mareas negras enferman y me saluda

cuando el avión desciende y los motores despedazan

un mar de nubes que se deshace y recomienza.

 

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Um homem na cidade - José Carlos Ary dos Santos

Agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força da vontade
de trabalhar nunca se cansa.

Vou pela rua
desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que se deságua no Rossio.

Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta.

Vou pela estrada
deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresça na vela da canoa.

Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.

E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.

O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem que me quer bem!

Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis que me quer bem!

 

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Sosígenes Costa - Case Comigo, Mariá

Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?
Se até o peixlnho é casado...
Não sabes que o mar é casado
com uma filha do rei?
Mariá, o mar é casado
com a filha loura do rei.
Mariá, por que não te casas
se o próprio mar é casado?

Ouem é a mulher do mar?
É a sereia?
É a areia, Mariá.
É a princesa dos seios de concha.

Mandei ao mar uma rosa, Mariá,
porque ele vai se casar.
O mar pediu que a sereia, Mariá,
viesse me visitar
e agradecer o presente.
Ouando foi isto? No passado, Mariá.

Sabes que fez a sereia, Mariá?
Deu-me um punhado de areia;
esta cidade de areia,
nossa terra, Mariá.

Aquela moça da praia, Mariá,
é namorada do mar.
Só vive olhando pra as ondas
e o mar vive a suspirar.

Aquela areia da praia
veio do Engenho de Areia, Mariá.
Que bela é a mulher do mar,
em cima daquela coroa!

Areia da Pedra Branca
desceste o rio correndo.
Tu viste a Ilha das Pombas,
ah! tu viste Mariá.



Adeus, Coroa da Palha,
que eu vou aos tombos da sorte,
rolando aos tombos da vida,
caindo e me levantando.
Só me salvo se cair
nos braços de Mariá.


Donde viria esta areia?
Da serra da Pedra Redonda.
Veio de Minas, Mariá,
rolando no Rio das Pedras
e só entrou na Bahia
quando passou dando um pulo
na cachoeira do Salto.


Deu um pulo no Salto Grande
a areia, a mulher do mar.
Em cima do Salto, está Minas.
Embaixo do Salto a Bahia.
Lá em cima a água é mineira,
caindo embaixo é baiana, Mariá.


Ah! como é linda esta roda
às sete horas da noite,
à hora em que a lua cheia
acabou de sair do mar,
iluminando Belmonte
com todas as suas ruas de areia.


A lua nasce chorando
lágrimas de prata na areia.
Apanhem numa redoma este pranto,
guardem bem guardada esta jóia
que um dia será adorada.
É a lágrima azul da saudade.
Que foi? O que teve? Nada.
Apenas uma lágrima salgada
caiu dos meus olhos na areia.


Marlá, por que não te casas?
Me diga; por que não te casas
comigo, se eu quero te dar,
se eu quero te dar, Mariá,
num beijo o meu coração?


Crianças cantando roda
nas ruas brancas da areia,
naquelas ruas tão longas
como as estradas de areia.


Cantando desde a Atalaia
até a Ponta de areia.
Cantando lá na Biela,
na rua do Camba e nas Baixas
e em todas as ruas de areia.


Ah! lá no Pontal da Barra
é que brilha a lua na areia,
nas areias da Barrinha
e na estrada da Barra Velha.
Mariá, por que não te casas?
Se tu casares comigo,
sabes o que te darei, Mariá?
Sabes o que te darei, Mariá?
Quantos beijos tu quiseres,
cem beijos se tu quiseres,
Mariá, meu coração.
Deitado dontigo na areia,
dar-te-ei meu coração.


Não é só o mar que é casado, Mariá.
O peixinho também é casado.
E o passarinho é casado.
Também quero ser casado
mas contigo, Mariá.


Mariá. case comigo,
já que o mar casou com a areia.


Mariá, por que não te casas,
se o mar também é casado?

 

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Poesia reunida - Adélia Prado


A formosura do teu rosto obriga-me
e não ouso em tua presença
ou à tua simples lembrança
recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a tua cara,
como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só tua mão,
a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e torna apetecível:
cadeiras, desembocaduras de esgotos,
idéia de morte, gripe, vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas,
rispidez de teu lábio que suporto com dor,
e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em mim sonhou comigo
e passou o dia esquisito,
o coração em sobressaltos à campainha da porta,
disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que amor seja a palavra.
"Penso em você" – me diz e estancarei os féretros,
tão grande é a minha paixão.

 

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António Ramos Rosa - Uma Voz na Pedra


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra

 

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Consciencialização - Agostinho Neto

Medo no ar!

Em cada esquina
sentinelas vigilantes incendeiam olhares
em cada casa
se substituem apressadamente os fechos velhos
das portas
e em cada consciência
fervilha o temor de se ouvir a si mesma

A historia está a ser contada
de novo

Medo no ar!

Acontece que eu
homem humilde
ainda mais humilde na pele negra
me regresso África
para mim
com os olhos secos.

 

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António Franco Alexandre - Os Objectos Principais


poderemos, um dia, amar estas vitrinas
como quem ama uma ideia imperdoável, ou uma
breve hesitação dos condutores
a meio do percurso? quero dizer,
estaremos vivos para o desbotar destas
folhas de plástico que brilham
uma vez cada noite; e para
o assobio das nuvens
ao passar sobre a roupa?
ou, fechando a gaveta, engoliremos o receio
destes bolos roubados
na prateleira de água?
ou será este o dilema que nos propõem
as minuciosas escavações telefónicas?
são questões ignorantes, delas depende o rumo
dos grandes navios japoneses à entrada da doca.

 

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Mar, Mar e Mar - Eugénio de Andrade


Tu perguntas, e eu não sei,
eu também não sei o que é o mar.

É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta, quando é de noite.
Os teus dentes, talvez os teus dentes,
miúdos, brancos dentes, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil,
afável, diáfano,
no entanto sem música.

É evidente que minha mãe me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.

Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura
um beijo entre conchas transparentes.

Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios abertos aos lábios da espuma.
É sangue,
sangue onde outra luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.

Um pedaço de lua insiste,
insiste e sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água,
alisados por uma brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.

Eu também não sei o que é o mar.
Aguardo a madrugada, impaciente,
os pés descalços na areia.

 

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Olhando o mar - Gilka Machado


Sempre que fito o mar
tenho a ilusão de achar-me diante
de um silêncio amplo, ondulante,
de um silêncio profundo,
onde vozes lutassem por gritar,
por lhe fugirem do invisível fundo.


Diante do mar eu fico triste,
nessa mudez de quem assiste
reproduções do próprio dissabor;
diante do mar eu sou um mar,
a outro de apor
e a se indeterminar.


O mar é sempre monotonia,
na calmaria
ou na tempestade.
Fujo de ti, ó mar que estrondas!
porque a tristeza que me invade
tem a continuidade
das tuas ondas...


Mas te amo, ó mar, porque minha alma e a tua
são bem iguais: ambas profundamente
sensíveis, e amplas, e espelhantes;
nelas o ambiente
atua
apenas superficialmente...


Calma de cismas, de êxtases, de sonhos,
desesperos medonhos,
ânsias de azul, de alturas...
- Longos ou rápidos instantes
em que me transfiguro, em que te transfiguras...
Nos nossos sentimentos sem represa,
nas nossas almas, quanta afinidade!
- Tu sentindo por toda a natureza!
- Eu sentindo por toda a humanidade!


Nos dias muito azuis, o meu olhar,
atento,
a descer e a se elevar,
supõe o mar um espreguiçamento
do céu e o céu um êxtase do mar.


Há nos ritmos da água
marinha uma poesia, a mais completa,
essa poesia universal da mágoa.


O mar é um cérebro em laboração,
um cérebro de poeta;
nas suas ondas, vêm e vão
pensamentos, de roldão.


O mar,
imperturbavelmente, a rolar, a rolar...
O mar... - Concluo sempre que metido
em sua profundeza e em sua vastidão:
- o mar é o corpo, é a objetivação
do espaço, do infinito.

 

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Vedete: il mare - António Baticã Ferreira



Vedete: il Mare ha un’influenza singolare

Su di me. Gli animali acquatici son tanti!

Varrebbe la pena inseguirli in alto mare;

Varrebbe la pena vederli balzare attraverso le onde.



Il Mare, quel mondo che gli uomini non abitano,

E’ immenso, così bello e così perfetto!

Il Mare ha un’influenza singolare

Su di me. Vorrei proprio andare a vedere le onde:

Varrebbe la pena guardarle correre

Follemente; varrebbe la pena

Vedere quale per prima entra nella baia.



Ah!, il Mare vasto, intanto, qui ci parla,

Sì, ci parla interiormente,

E noi comprendiamo la sua lingua:

E’ una lingua che si capisce.



(Ah!, che impressione ci fa il Mare!)

 

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Mar - Vinicius de Moraes


Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
Do mar.

Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
O silêncio.

E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte.

 

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