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LISTA DE POETAS POR ORDEM
ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME Remorso Póstumo de Charles
Baudelaire ( Os poemas que se seguem deste autor fazem parte desta recolha
e publicação ).
Dedico este poema a mim mesmo - Baudelaire
Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Em teu negro e marmóreo mausoléu, e não
Tiveres por alcova e refúgio senão
Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;
Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa
E teus flancos sensuais de lânguida exaustão,
Impedir de querer e arfar teu coração,
E teus pés de correr por trilha aventurosa,
O túmulo, no qual em sonho me abandono
— Porque o túmulo há sempre de entender o poeta —,
Nessas noites sem fim em que nos foge o sono,
Dir-te-á: “De que valeu cortesã indiscreta,
Ao pé dos mortos ignorar o seu lamento?”
— E o verme te roerá como um remorso lento.
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O Possesso - Baudelaire
Cobriu-se o sol de negro véu. Como ele, ó Lua
De minha vida, veste o luto de agonia;
Dorme ou fuma a vontade; sê muda e sombria,
E no abismo do Tédio esplêndida flutua;
Eu te amo assim! Se agora queres, todavia,
Como um astro a emergir da penumbra que o acua,
Pavonear-te no palco onde a Loucura actua,
Pois bem! Punhal subtil em teu estojo esfria!
Acende essa pupila no halo dos clarões!
Acende a cupidez no olhar dos grosseirões!
Em ti tudo é prazer, morboso ou petulante;
Seja o que for, escura noite ou rubra aurora;
Uma por uma, as fibras do meu corpo arfante
Gritam: Ó Belzebu, meu coração te adora!
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Destruição - Baudelaire
Sem cessar a meu lado o Demónio se agita,
E nada ao meu redor como um ar impalpável;
Eu o levo aos meus pulmões, onde ele arde e crepita,
Inflando-os de um desejo eterno e condenável.
Às vezes, ao saber do amor que a arte me inspira,
Assume a forma da mulher que eu vejo em sonhos,
E, qual tartufo afeito às tramas da mentira,
Acostuma-me a boca aos seus filtros medonhos.
Ele assim me conduz, alquebrado e ofegante,
Já aos olhos de Deus afinal tão distante,
Às planícies do Tédio, infindas e desertas,
E lança-me ao olhar imerso em confusão
Trajes imundos e feridas entreabertas
— O aparato sangrento e atroz da Destruição!
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O Fim da Jornada - Baudelaire
Sob uma luz trémula e baça,
Se agita, brinca e dança ao léu
A Vida, ululante e devassa.
Assim também, quando no céu
A noite voluptuosa sonha,
Tudo acalmando, mesmo a fome,
Tudo apagando, até a vergonha,
Diz o Poeta que a dor consome:
“Afinal, minha alma e meus ossos
Finalmente imploram por sossego;
O coração feito em destroços,
Procuro em meu leito aconchego
E às vossas cortinas me apego,
Ó treva oferta aos corpos nossos”
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O Jogo - Baudelaire
Nos fanados divãs das prostitutas velhas,
Os cílios de azeviche, o olhar meigo e fatal,
Cheias de tiques, e que fazem das orelhas
Cair um tilintar de pedra e de metal;
Rostos sem lábio em torno de uma mesa de jogo,
Lábios sem cor, tíbias mandíbulas sem dente,
E mãos convulsas que uma febre deixa em fogo,
Palpando o bolso escasso e o seio inda fremente;
Sob o teto encardido, agonizantes lustres
E lamparinas a jorrar grandes clarões
Sobre trevosas frontes de poetas ilustres
Que ali vêm esbanjar os suores e emoções;
Eis a cena de horror que num sonho nocturno
Ante meu claro olhar eu vi se desdobrando,
Eu mesmo, posto a um canto do antro taciturno,
Me vi, sombrio e mudo, imóvel, invejando,
Invejando a essa gente de pertinaz paixão,
Às velhas putas o seu fúnebre esplendor,
E todas a vender de si algo em leilão,
Uma beleza, outra o patético pudor!
E me assustei por invejar essa agonia
De quem se lança numa goela escancarada,
E que, já farto de seu sangue, trocaria
A morte pela dor e o inferno pelo nada!
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Tristezas da Lua - Baudelaire
Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;
Como uma bela, entre coxins e devaneios,
Que afaga com a mão discreta e vaporosa,
Antes de adormecer, o contorno dos seios.
No dorso de cetim das tenras avalanchas,
Morrendo, ela se entrega a longos estertores,
E os olhos vai pousando sobre as níveas manchas
Que no azul desabrocham como estranhas flores.
Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,
Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer
Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,
No côncavo das mãos torna essa gota rala,
De irisados reflexos como um grão de opala,
E bem longe do sol a acolhe no peito.
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A Alma do Outro Mundo - Baudelaire
Como os anjos de ruivo olhar,
À tua alcova hei de voltar
E junto a ti, silente vulto,
Deslizarei na sombra oculto;
Dar-te-ei na pele escura e nua
Beijos mais frios que a lua
E qual serpente em náusea fossa
Te afagarei o quanto possa.
Ao despontar o dia incerto,
O meu lugar verás deserto,
E em tudo o frio há de se pôr.
Como os demais pela virtude,
Em tua vida e juventude
Quero reinar pelo pavor.
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O Amor À Mentira - Baudelaire
Quando te vejo andar, minha bela indolente,
Em meio aos sons da orquestra que se perdem no ar,
Movendo os passos harmoniosa e lentamente,
E passeando esse tédio de teu fundo olhar;
Quando contemplo, sob a luz do gás que a cora,
Tua pálida fronte em mórbido recato,
Onde as flamas da noite acendem uma aurora,
Ou teus olhos iguais aos olhos de um retrato,
Digo-me: Como é bela! E que frescor tão puro!
O diadema maciço, halo de áureo esplendor,
E o coração, tal como um pêssego maduro,
Impõe, como seu corpo, a sabia arte do amor.
És o fruto do Outono entre dentes vorazes?
És urna fúnebre a implorar prantos e dores,
Perfume que nos faz sonhar longínquos oásis,
Almofada sensual ou corbelha de flores?
Eu sei que há olhos cheios de melancolia,
Que nada escondem por debaixo de seus véus;
Belos escrínios, mas sem jóias de valia,
Mais fundos e vazios do que vós, ó Céus!
Mas basta seres esta dádiva aparente
Para alegrar quem vive apenas na incerteza.
Que me importa se és tola ou se és indiferente?
Máscara, ornato, salve! Amo a tua beleza!
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A Morte dos Amantes - Baudelaire
Vamos ter leitos de subtis odores,
Divãs que às fundas tumbas são iguais,
E sobre a mesa as mais estranhas flores,
Brotando para nós no azul em paz.
Ambos queimando os últimos ardores,
Meu coração e o teu, flamas sensuais,
Reflectirão em dobro as suas cores
Em nossas almas, dois gémeos cristais.
Por uma tarde mística e envolvente,
Trocaram um só lampejo ardente,
Como o soluço em cada adeus contido;
Pouco depois um Anjo, abrindo as portas,
Há de avivar, alegre e enternecido,
Os cristais já sem brilho e as chamas mortas.
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XXIV - Baudelaire
Eu te amo como se ama a abóbada nocturna,
Ó taça de tristeza, ó grande taciturna
E mais ainda te adoro quando mais te ausentas
E quanto mais pareces, no ermo que ornamentas
Multiplicar irónica as celestes léguas
Que me separam das imensidões sem tréguas.
Ao assalto me lanço e agito me na liça,
Como um coro de vermes junto a carniça
E adoro, ó fera desumana e pertinaz,
Até essa algidez que mais bela te faz!
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A Morte dos Pobres - Baudelaire
A Morte é que consola e nos faz viver;
É o alvo deste vida e a única esperança
Que, como um elixir, nos dá fé e confiança,
E forças para andar até o anoitecer.
Em meio à tempestade e à neve a se desfazer,
É a luz que em nosso lívido horizonte avança;
É a pousada que um livro diz como se alcança,
E onde se pode descansar e adormecer.
É um Arcanjo que tem nos dedos imantados
O sono e eterno e o dom dos sonhos extasiados,
E arruma o leito para os nus e os desvalidos;
É dos Deuses a glória e o místico celeiro,
É a sacola do pobre e o seu lar verdadeiro,
O pórtico que se abre aos Céus desconhecidos!
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O Abismo - Baudelaire
Pascal em si tinha um abismo se movendo.
— Ai!, tudo é abismo! — sonho, acção, desejo intenso,
Palavra! E sobre mim, num calafrio, eu penso
Sentir do Medo o vento às vezes se estendendo.
Em volta, do alto, embaixo, a profundeza, o denso
Silêncio, a tumba, o espaço cativante e horrendo...
Em minhas noites, Deus, o sábio dedo erguendo,
Desenha um pesadelo multiforme e imenso.
Tenho medo do sono, o túnel que me esconde,
Cheio de vago horror, levando não sei aonde;
Do infinito, à janela, eu gozo os cruéis prazeres,
E meu espírito, ébrio afeito ao desvario,
Ao nada inveja a insensibilidade e o frio.
— Ah, não sair jamais dos Números e Seres!
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As Queixas De Um Ícaro - Baudelaire
Os rufiões das rameiras são
Ágeis, felizes e devassos;
Quanto a mim, fracturei os braços
Por ter-me alçado além do chão.
É graças aos mais raros astros,
Que o céu envolvem num lampejo,
Que, agora cego, já não vejo
Dos sóis senão os turvos rastros.
Eu quis do espaço em toda parte
Achar em vão o fim e o meio;
Não sei sob que olho de ígneo veio
Minha asa eu sinto que se parte;
E porque o belo ardeu comigo,
Perdi a glória e o benefício
De dar meu nome ao precipício
Que há de servir-me de jazigo.
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A Prece de Um Pagão - Baudelaire
Não deixes esfriar tua chama!
Minha alma entorpecida aquece,
Volúpia, inferno de quem ama!
Escuta, diva, a minha prece!
Deusa no espaço derramada,
Flama que dentro de nós desperta,
Atende a esta alma enregelada,
Que um brônzeo cântico te oferta.
Volúpia, abre-me a tua teia,
Toma o perfil de uma sereia
Feita de carne e de veludo,
Ou verte enfim teu sono mudo
No vinho místico e disforme,
Volúpia, espectro multiforme!
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A Beleza - Baudelaire
Eu sou bela, ó mortais! como um sonho de pedra,
E meu seio, onde todos vem buscar a dor,
É feito para ao poeta inspirar esse amor
Mudo e eterno que no ermo da matéria medra.
No azul, qual uma esfinge, eu reino indecifrada;
Conjugo o alvor do cisne a um coração de neve;
Odeio o movimento e a linha que o descreve,
E nunca choro nem jamais sorrio a nada.
Os poetas, diante do meu gesto de eloquência,
Aos das estátuas mais altivas semelhantes,
Terminarão seus dias sob o pó da ciência;
Pois que disponho, para tais dóceis amantes,
De um puro espelho que idealiza a realidade.
O olhar, meu largo olhar de eterna claridade!
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As Metamorfoses do Vampiro - Baudelaire
E no entanto a mulher, com lábios de framboesa,
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,
Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
— “A boca húmida eu tenho e trago em minha ciência
De no fundo de um leito afogar a consciência.
Sou como, a quem vê sem véus a imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,
Quando um homem sufoco à borda dos meus lábios
Ou quando o seio oferto ao dente que mordisca,
Ingénua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e envolventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!”
Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula
À procura de um beijo, uma outra eu vi então
Em cujo ventre o pus se unia à podridão!
Os dois olhos fechei em trémula agonia,
E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
A meu lado, em lugar do manequim altivo,
No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,
Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,
Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos
Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,
Que nas noites de Inverno ao vento se balança.
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A Varanda - Baudelaire
Mãe das recordações, amante das amantes,
Tu, todo o meu prazer! Tu, todo o meu dever!
Hás de lembrar-te das carícias incessantes,
Da doçura do lar à luz do entardecer,
Mãe das recordações, amante das amantes!
As tardes à lareira, ao calor do carvão,
E as tardes na varanda, entre róseos matizes.
Quão doce era o seu seio e meigo o coração!
Dissemo-nos os dois as coisas mais felizes
As tardes à lareira, ao calor do carvão!
Quão soberbo era o sol nessas tardes douradas!
Que profundo era o espaço e como a alma era langue!
Curvado sobre ti, rainha das amadas,
Eu julgava aspirar o aroma de teu sangue.
Quão soberbo era o sol nessas tardes douradas!
A noite se adensava igual a uma clausura,
E no escuro os meus olhos viam-te as pupilas;
Teu hálito eu sorvia, ó veneno, ó doçura!
E dormiam teus pés em minhas mãos tranquilas.
A noite se adensava igual a uma clausura!
Sei a arte de evocar as horas mais ditosas,
E revivo o passado imerso em teu regaço.
Para que procurar belezas voluptuosas
Se as encontro em teu corpo e em teu cálido abraço?
Sei a arte de evocar as horas mais ditosas!
Juras de amor, perfumes, beijos infinitos,
De um fundo abismo onde não chegam nossas sondas
Voltareis, como o sol retorna aos céus benditos
Depois de mergulhar nas mais profundas ondas?
— Juras de amor, perfumes, beijos infinitos!
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O Vampiro - Baudelaire
Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste,
Tu que, qual furiosa manada
De demónios, ardente, ousaste,
De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
— Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão,
Como ao baralho o jogador,
Como à carniça ao parasita,
Como à garrafa ao bebedor
— Maldita sejas tu, maldita!
Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao veneno, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.
Ai de mim! Com mofa e desdém,
Ambos me disseram então:
“Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque a escravidão,
Imbecil! — se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro”
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XXV- Baudelaire
Porias o universo inteiro em teu bordel,
Mulher impura! O tédio é que te torna cruel.
Para teus dentes neste jogo exercitar,
A cada dia um coração tens que sangrar.
Teus olhos, cuja luz recorda a dos lampejos
E dos rútilos teixos que ardem nos festejos,
Exibem arrogantes uma vã nobreza,
Sem conhecer jamais a lei de sua beleza.
Ó monstro cego e surdo, em cruezas fecundo!
Salutar instrumento, vampiro do mundo,
Como não te envergonhas ou não vês querer
Murchar no espelho teu fascínio de mulher?
A grandeza do mal que crês saber tanto
Não te obriga jamais a vacilar de espanto
Quando a mão natureza, em desígnios velados,
Recorre a ti, mulher, ó deusa dos pecados
— A ti, vil animal —, Para um génio forjar?
Ó lodosa grandeza! Ó desonra exemplar!
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A Serpente que Dança - Baudelaire
Em teu corpo, lânguida amante,
Me apraz contemplar,
Como um tecido vacilante,
A pele a faiscar.
Em tua fluida cabeleira
De ácidos perfumes,
Onde olorosa e aventureira
De azulados gumes,
Como um navio que amanhece
Mal desponta o vento,
Minha alma em sonho se oferece
Rumo ao firmamento
Teus olhos que jamais traduzem
Rancor ou doçura,
São jóias frias onde luzem
O ouro e a gema impura.
Ao ver-te a cadência indolente,
Bela de exaustão,
Dir-se-á que dança uma serpente
No alto de um bastão.
Ébria de preguiça infinita,
A fronte de infanta
Se inclina vagarosa e imita
A de uma elefanta.
E teu corpo pende e se aguça
Como escuna esguia,
Que às praias toca e se debruça
Sobre a espuma fria.
Qual uma inflada vaga oriunda
Dos gelos frementes,
Quando a água em tua boca inunda
A arcada dos dentes
Bebo de um vinho que me infunde
Amargura e calma,
Um líquido céu que se difunde
Astros em minha alma!
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Monsieur le président- Boris Vian
Monsieur le président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour aller à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter
Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins
Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
«Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir»
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer
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La java des bombes atomiques- Boris Vian
Mon oncle, un fameux bricoleur
faisait en amateur
des bombes atomiques
sans avoir jamais rien appris;
c'était un vrai génie,
question travaux prati-ques.
Il s'enfermait toute la journée
au fond d'son atelier
pour faire ses expériences,
et le soir il rentrait chez nous
et nous mettait en transe
en nous racontant tout.
Pour fabriquer une bombe "A",
mes enfants, croyez-moi,
c'est vraiment de la tarte
La question du détonateur
s'résout en un quart d'heure,
c'est de celles qu'on écarte.
En c'qui concerne la bombe "H",
c'est pas beaucoup plus vache,
mais un'chose me tourmente,
c'est que celles de ma fabrication
n'ont qu'un rayon d'action
de trois mètres cinquante.
Y a quéqu'chose qui cloche là-d'dans.
J'y retourne immédiatement.
Il a bossé pendant des jours
tâchant avec amour
d'améliorer l'modèle.
Quand il déjeunait avec nous,
il dévorait d'un coup
sa soupe au vermicelle.
On voyait à son air féroce
qu'il tombait sur un os,
mais on n'osait rien dire,
et pis un soir pendant l'repas
v'là tonton qui soupire
et qui s'écrie comme ça:
A mesure que je deviens vieux,
je m'en aperçois mieux,
j'ai le cerveau qui flanche
Soyons sérieux, disons le mot,
c'est même plus un cerveau,
c'est comme de la sauce blanche.
Voilà des mois et des années
que j'essaye d'augmenter
la portée de ma bombe,
et je n'me suis pas rendu compte
que la seule chose qui compte
c'est l'endroit où c'qu'elle tombe.
Y a quéqu'chose qui cloche là-d'dans.
J'y retourne immédiatement.
Sachant proche le résultat
tous les grands chefs d'Etat
lui ont rendu visite.
Il les reçut et s'excusa
de ce que sa cagna
était aussi petite,
mais sitôt qu'ils sont tous entrés
il les a enfermés
en disant: "Soyez sages",
et quand la bombe a explosé
de tous ces personnages
il n'est plus rien resté.
Tonton devant ce résultat
ne se dégonfla pas
et joua les andouilles.
Au tribunal on l'a traîné
et devant les jurés
le voilà qui bafouille :
"Messieurs, c'est un hasard affreux,
mais je jure devant Dieu
qu'en mon âme en conscience,
en détruisant tous ces tordus
je suis bien convaincu
d'avoir servi la France."
On était dans l'embarras.
Alors on l'condamna
et puis on l'amnistia.
Et l'pays reconnaissant
l'élut immédiatement
chef du gouvernement.
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El prisionero -
Boris Vian
Por la carretera un soldado
Se arratraba esposado
Por la carretera un soldado
Con sus viejos zapatos
A lo largo del pueblo
Había varias mujeres
Al ver a aquél tan triste
A llorar se pusieron
Vete, soldado valiente, vete
Marcha a la carretera, vete
Te han hecho prisionero
Lo encierran en una fortaleza
Las muñecas no le han soltado
Lo encierran en una fortaleza
Por los pies bien colgado
Los hombres ya se acercan
Cuchillos afilados
La sangre en su piel desnuda
A saltar ya comienza
Habla, valiente soldado, habla
Como eres prisionero
Que hables es necesario
Si digo lo que no quiero decir
Podría marcharme
Si digo lo que no quiero decir
Van a liberarme
Pero si prefiero callarme
Nunca volveré a ver
Ni a mi madre ni a mi mujer
Y tampoco a mis hijos
Llora, soldado valiente, llora
Como eres prisionero
Que llores es necesario
Cuando delató a sus camaradas
Lo dejaron que se fuera
Cuando delató a sus camaradas
Lo dejaron que se fuera
Llevando su pobre vergüenza
Su cuerpo herido, su piel amoratada
Se fue a la carretera
Con sus viejos zapatos
Anda, valiente soldado, anda
Anda la carretera
Pues te han liberado
Cuando entra en su vivienda
El tiempo había pasado
Cuando entra en su vivienda
Una carta ha encontrado
Perdóname hombre mío
No puedo esperar siempre
Y pasar sin cariño
Muere, bravo soldado, muere
Más vale que mueras
Y serás enterrado...
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Elegia: Indo para o leito - John Donne
Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco põe não é
O cabelo, mas sim a carne em pé.
Deixa que minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernacao vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-lo. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: tira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.
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Lilitchka! - Vladimir Maiakoviski
Lilitchka! (em lugar de uma carta)
Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto -
um capítulo do inferno de Krutchónikh.
Recorda -
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atónito.
Hoje te sentas,
no coração - além.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez com zanga.
No teu "hall" escuro longamente o braço,
trémulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
- duro fardo por certo -
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos - rodopiante carnaval -
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.
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Um dia,
quem sabe - Maiakovski
Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.
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Canção na Plenitude - Lia Luft
Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
abrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés - mesmo se fogem - retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
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Funeral Blues -
W. Auden
Que parem os relógios, calem o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto - um laço no pescoço -
e os guardas usem finas luvas cor - de - breu.
Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar estrelas - são molestas,
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.
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Poeminha Amoroso - Cora
Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
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La flamme d'une chandelle -
Bachelard
"...Sozinho na noite, com um livro iluminado por uma candeia - livro e
candeia, dupla ilha de luz, contra duplas trevas do espírito e da noite -
eu estudo. Sou apenas o sujeito do verbo estudar.
Pensar, não ouso.
Somente os filósofos pensam antes de estudar. Mas a candeia se apagará
antes que o livro difícil seja compreendido. Nada se deve perder da
candeia, das grandes horas da vida estudiosa. Se levanto os olhos do livro
para olhar a candeia, ao invés de estudar, eu sonho. Então, as horas
ondulam no vale solitário. As horas ondulam entre a responsabilidade de um
saber e a liberdade dos devaneios; esta extremamente fácil liberdade de um
homem solitário."
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