Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!

 

 

poesia202entrada   poesia202topo

Lorca

Search the web

NOVIDADES

MAPA DO SITE

BUSCA NO SITE

LITERATURA

POESIA

BIOGRAFIAS E BIBLIOGRAFIAS

ESPANÕL

FRANÇAIS

ENGLISH

OPINIOES

GRUPOS - GROUPS

FORUNS MIL

PAGINAS AMIGAS

FORUM BRAVENET

JORNAL DE PAREDE

CHATS

JOGOS

E-MAIL

INSERÇÃO DE SITES

MUNDO NOTICIAS

MOTORES DE BUSCA

DOWNLOADS

WEBMASTERS

TRADUCOES

LISTA DE AUTORES

SOLIDARIEDADE

LISTA DE LINKS

 

LIVRO DE VISITAS

 LIVRE D' OR

 GUESTBOOK

 

 

 

 

LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME

Considerações sobre a poesia e a vida de Lorca

Ático Vilas - Boas da Mota

 

A poesia lorquiana cheira a flor de laranja,

e seu texto poético - espaço preto/branco -

vasto areal a estampar os rastros de

Andaluzia; por ele seguem, a pé, os ciganos,

os cegos cantadores, os meninos tagarelas, as

mulheres " pudientes", os "pregoneros", os

peregrinos da Espanha estóica, católica,

radical às vezes, pronta para o perdão

imediato, erecta, em direcção ao tempo sem

fronteiras, de pé . . . Granada, riso

escancarado, obsessão, gosto de laranja doce

servida em bandejas amargas: o apelo de

Tanátos!

 

Mas o poeta segue o seu caminho sem olhar para

trás; segue-o com sua "guitarra" e sua

solidão. O menino Federico e seu colar de

pássaros na garganta despertam os galos

para o cora! solidário!

 

Poeta e dramaturgo, nasceu a 5 de Junho de

1898 em Fuente Vaqueros, quando a Espanha

tentava florescer nas letras e nas artes.

 

Granada, sua província de sortilégios e muitos

apelos telúricos: berço e túmulo. Aprendeu as

primeiras letras com a própria mãe -

professora primária -, Vicenta Lorca, casada

com Federico García Rodriguez, ambos

provincianos e muito ligados à terra

granadina.

 

Precoce em tudo: na música, no desenho,

nas letras, na descoberta do mundo

circundante; joalheiro da palavra, sabia

trabalhar o verso para que ele pudesse, quando

lido ou ouvido, reluzir ou tilintar no espelho

e no alforge da poesia pura.

 

O vanguardismo de García Lorca coloca-o em uma

posição vantajosa em relação aos demais

seguidores dos ismos estético-literários, pelo

simples fato de ele se colocar acima das

camisas-de-forças dos ideários de cada um

daqueles movimentos. Versátil, sabia

aproveitar praticamente as lições de quase

todas as tendências e escolas literárias para

desembocar no artesanato da palavra, seu

ofício maior.

 

Em cada verso, ourives miraculoso, procurava

extrair todos os efeitos surpreendentes das

gemas e dos faiscantes engastes de ouro; com

seus resíduos barrocos, suas incursões pela

comarca do romantismo e do simbolismo; seu

ultraísmo e, sobretudo, suas investidas a

Ruben Darío, pois sabia tirar proveito das

lições da lírica popular e encontrar, no

romance, água pura para dessedentar-se e ar

puro para respirar demoticamente.

 

Igualou-se a muitos outros poetas de sua

geração no posicionamento contra a poesia fria

e descritiva do ultraísmo; tratou de acolher

em seus versos as revigorantes sugestões

populares e inspirou-se nos cancioneiros do

século XV, sem, no entanto, abandonar a

preferência pelas metáforas do modernismo

atrevido e do próprio ultraísmo sequioso pela

volta às fontes essenciais da poesia, tendo a

metáfora como seu núcleo gerador, detectável

no Romancero gitano (1928) e no Poema del

Cante Jondo (1931).

 

Não se pode negar a García Lorca o papel de um

dos mais representativos poetas espanhóis

das três primeiras décadas de nosso século,

com expressiva repercussão até os dias

actuais. Inegavelmente foi aquele que, dentre

todos os de sua geração, conseguiu alcançar

os patamares da fama, despertar maior

entusiasmo entre os de sua geração.

 

Não importa que a crítica especializada, ao

rastrear a produção inicial de García Lorca,

nela tenha encontrado flagrantes influências

de Juan Ramón Jiménez e algo do modernismo em

sua primeira obra: Libro de poemas (1921). Ele

conseguiu superar os modelos e os inspiradores

iniciais de sua carreira literária.

 

Não pretendemos, com tal afirmação, negar os

vínculos que ele manteve com os diversos

movimentos estéticos europeus e,

principalmente, com aqueles nascidos ou

assimilados pela Espanha, pois, ao terminar a

grande guerra europeia, as teorias giram em

torno da desumanização da arte, através da

palavra dos prosadores da chamada geração de

1925: Ramón Gómez de Ia Serna, Jarnés Antonio

Espina, MaX Aub; entre os poetas, os da

chamada geração de 1927: Gerardo Diego,

Salinas, Guillén, Alberti, desta sobressaindo

a figura carismática de Lorca, influenciado e,

por sua vez, influenciador.

 

Como separar a vida da obra de García Lorca se elas constituem o verso e o reverso da mesma medalha?

 

Seu corpo jamais pôde ser encontrado e,

provavelmente, baixou a vala comum. O terrível

dia de seu fuzilamento já foi descrito por

muitos escritores, repórteres, testemunhas,

porém nenhuma descrição talvez supere a de

José Bergamín:

 

?. . . lo asesinaron cobardemente. Sacándolo a

la madrugada de la casa y fusilándolo en la

carretera, dejánlo allí en la cuñeta".

 

A maioria dos registros históricos tem sido

cruel para com os demais fuzilados, inclusive

deixando de mencionar a todos os sacrificados.

 

Não é mister repetir que existe um desrespeito

humano também em referência a um companheiro

de infortúnio - um pobre e anónimo professor

de aldeia -, mencionado nos textos apenas pelo

apelido de "El cojo".

 

Não faltam críticos que atribuam a alta

ressonância da obra lorquiana ao seu destino

trágico cuja repercussão ultrapassou as

fronteiras espanholas. Não partilhamos desta

opinião.

 

A obra de Federico García Lorca sustenta-se

por si mesma e vem, até os nossos dias,

varando o tempo graças ao seu valor

intrínseco. Bastaria consultar a extensa série

de estudos consagrados à sua produção global,

quer na Espanha, quer no Exterior.

 

Bastaria consultar as páginas do volume

publicado em Barcelona, 1937, por Emilio

Prados:

 

Homenaje al poeta García Lorca contra de su

muerte, com expressivas contribuições, entre

outros autores, de António Machado, José

Bergamín, Pablo Neruda e a maior parte dos

poetas jovens da Espanha, seguido de uma

selecção da obra de García Lorca (poemas,

prosa, textos teatrais, música, desenhos

etc.).

 

Em Buenos Aires publicou-se Homenaje a

Federico García Lorca (1937), de Norberto

Frontini, enriquecida com páginas de diversos

autores do mundo hispânico.

 

A obra de García Lorca ressalta do mesmo modo

por sua recorrência ao doce país da

infância, apesar de ter sido ela marcada por

graves e consecutivas enfermidades. Frágil,

mas obediente aos conselhos maternos,

conseguiu superar as crises.

 

Entre uma provação e outra, estudou solfejo e

piano. Fez o curso secundário em Granada e

ingressou, em 1914, na Universidade de

Granada, pela qual se diplomou em direito

(1923), ali estudando também filosofia com

Fernando de los Ríos que o estimulou a

trasladar-se para Madrid.

 

Por esse tempo aproximou-se dos grandes nomes

da vanguarda artística espanhola, no campo das

letras, da música e das artes plásticas,

chegando a tornar-se amigo íntimo de Salvador

Dalí e Manuel de Falla, desenvolvendo e

realizando, desta forma, sua vocação precoce

em direcção à música, à poesia e ao teatro.

 

As revistas madrilenas lhe abriram as portas.

A partir de 1925, passou a colaborar em

vários periódicos da capital, sobretudo em La

Gaceta Literaria e na Revista de Ocidente.

 

É a partir do ano de 1926, como já vimos, que

ele forma, com Salinas, Guillén, Alberti e

outros poetas jovens, o grupo dos chamados

poetas de vanguarda, seguindo as pegadas de

Juan Ramón Jiménez, que revolucionaria, de

fato, a poesia espanhola daquela época, ainda

marcada pela influência deste poeta.

 

Ático Vilas - Boas da Mota

trecho da Apresentação publicada no livro:

Federico Garcia Lorca - Obra Poética Completa

Editora Universidade de Brasília

Editora Martins Fontes

 

voltar ao 1º índice de poetas mil

voltar ao 2º índice de poetas mil

voltar ao índice geral de poesia

voltar à homepage

 

LORCA

ODE AO REI DE HARLEM

 

Com uma colher,

arrancava os olhos dos crocodilos

e batia no traseiro dos macacos.

Com uma colher.

 

Fogo de sempre dormia nos pedernais

e os escaravelhos embriagados de anis

olvidavam o musgo das aldeias.

 

Aquele velho coberto de setas

ia ao lugar onde choravam os negros

enquanto rangia a colher do rei

e chegavam os tanques de água podre.

 

As rosas fugiam pelos fios

das últimas curvas do ar,

e nos montões de açafrão

os meninos machucavam esquilinhos

com um rubor de frenesi manchado.

 

É preciso cruzar as pontes

e chegar ao rubor negro

para que o perfume do pulmão

nos golpeie as fontes com o seu vestido

de quente pinha.

 

É preciso matar o ruivo vendedor de aguardente,

todos os amigos da maçã e da areia,

e é necessário dar com os punhos fechados

nas pequenas judias que tremem cheias de borbulhas,

para que o rei de Harlem cante com a sua multidão,

para que os crocodilos durmam em longas filas

sob o amianto da lua,

e para que ninguém duvide da infinita beleza

dos espanadores, raladores, os cobres e caçarolas das cozinhas.

 

Ai, Harlem! Ai, Harlem! Ai, Harlem!

Não há angústia comparável a teus olhos oprimidos,

a teu sangue estremecido dentro do eclipse escuro,

a tua violência rubra surda-muda na penumbra,

a teu grande rei prisioneiro com um traje de porteiro!

 

Tinha a noite uma fenda e quietas salamandras de marfim.

As moças americanas levavam meninos e moedas no ventre,

e os rapazes desmaiavam na cruz do espreguiçamento.

 

Eles são.

Eles são os que bebem o whisky de prata perto dos vulcões

e tragam pedacinhos de coração, pelas geladas montanhas do urso.

 

Aquela noite o rei de Harlem

com uma duríssima colher

arrancava os olhos dos crocodilos

e batia no traseiro dos macacos.

Com uma colher.

Os negros choravam confundidos

entre guarda-chuvas e sóis de ouro,

os mulatos esticavam gomas, ansiosos por chegar ao torso branco,

 

e o vento empapava espelhos

e quebrava as veias dos bailarinos.

 

Negros, Negros, Negros, Negros.

 

O sangue não tem portas em vossa noite boca acima.

Não há rubor. Sangue furioso por baixo das peles,

vivo na espinha do punhal e no peito das paisagens,

sob as pinças e retamas da celeste lua de câncer.

 

Sangue que busca por mil caminhos mortes esfarinhadas e cinza de nardo,

céus hirtos em declive, onde as colónias de planetas

rodam pelas praias com os objectos abandonados.

 

Sangue que olha lento com o rabo do olho,

feito de espartos espremidos, néctares de subterrâneos.

Sangue que oxida o alísio descuidado em um rastro

e dissolve as mariposas nos vidros da janela.

É o sangue que vem, que virá

pelos telhados e açoteias, por todas as partes,

para queimar a clorofila das mulheres loiras,

para gemer ao pé das camas ante a insónia dos lavabos

 

e esfacelar-se numa aurora de tabaco e baixo amarelo.

 

É preciso fugir,

fugir pelas esquinas e encerrar-se nos últimos andares,

porque o tutano do bosque penetrará pelas frinchas

para deixar em vossa carne um leve rastro de eclipse

e uma falsa tristeza de luva desbotada e rosa química.  

 

É pelo silêncio sapientíssimo

quando os camareiros e os cozinheiros e os que limpam com a língua

as feridas dos milionários

buscam o rei pelas ruas ou nos ângulos do salitre.

 

Um vento sul de madeira, oblíquo no negro lodo,

cospe nas barcas partidas e crava pontilhas nos ombros;

um vento sul que leva

colmilhos, girassóis e alfabetos

e uma pilha de Volta com vespas afogadas.

 

O olvido estava expresso por três gotas de tinta sobre o monóculo,

o amor por um só rosto invisível à flor da pedra.

Medulas e corolas compunham sobre as nuvens

um deserto de talos sem uma única rosa.  

 

À esquerda, à direita, pelo Sul e pelo Norte,

levanta-se o muro impassível

para o topo, a agulha da água.

Não busqueis, negros, sua greta

para achar a máscara infinita.

Buscai o grande sol do centro

como se fôsseis uma pinha zumbidora.

O sol que se desliza pelos bosques

certo de não encontrar uma ninfa,

o sol que destrói números e não cruzou nunca com um sonho,

o tatuado sol que baixa pelo rio

e muge seguido de caimões.

 

Negros, Negros, Negros, Negros.

 

Jamais serpente, nem zebra, nem mula

empalideceram ao morrer.

O lenhador não sabe quando expiram

as clamorosas árvores que corta.

Aguardai sob a sombra vegetal de vosso rei

que cicutas e cardos e urtigas turbem postremas açoteias.

 

Então, negros, então, então,

podereis beijar com frenesi as rodas das bicicletas,

pôr pares de microscópios nas tocas dos esquilos

e dançar, finalmente, sem dúvida, enquanto as flores eriçadas

assassinam nosso Moisés quase nos juncos do céu.

 

Ai, Harlem disfarçada!

Ai, Harlem, ameaçada por gente de trajes sem cabeça!

Chega-me teu rumor,

chega-me teu rumor atravessando troncos e ascensores,

através de lágrimas cinzentas,

onde flutuam teus automóveis cobertos de dentes,

através dos cavalos mortos e dos crimes diminutos,

através de teu grande rei desesperado,

cujas barbas chegam ao mar.

 

publicado no livro:

"Federico Garcia Lorca - Obra Completa"

traduzido por William Agel de Melo

Editora Universidade de Brasília

Livraria Martins Fontes Editora

 

voltar ao 1º índice de poetas mil

voltar ao 2º índice de poetas mil

voltar ao índice geral de poesia

voltar à homepage

 

Pablo Neruda

Não o quero, amada. 

 

Não o quero, amada.

Para que nada nos prenda

para que não nos una nada.

Nem a palavra que perfumou tua boca

nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos

nem teus soluços junto à janela...

 

voltar ao 1º índice de poetas mil

voltar ao 2º índice de poetas mil

voltar ao índice geral de poesia

voltar à homepage

 

Pablo Neruda

Soneto de Amor

 

 

Talvez não ser é ser sem que tu sejas,

sem que vás cortando o meio-dia

como uma flor azul, sem que caminhes

mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

 

sem essa luz que levas na mão

que talvez outros não verão dourada,

que talvez ninguém soube que crescia

como a origem rubra da rosa,

 

sem que sejas, enfim, sem que viesses

brusca, incitante, conhecer minha vida,

aragem de roseira, trigo do vento,

 

e desde então sou porque tu é,

e desde então é, sou e somos

e por amor serei, serás, seremos.

 

voltar ao 1º índice de poetas mil

voltar ao 2º índice de poetas mil

voltar ao índice geral de poesia

voltar à homepage

 

Pablo Neruda

CARTA NO CAMINHO

 

Adeus, porém comigo serás, sempre irás dentro

de uma gota de sangue que circule em minhas veias ou fora,

beijo que me abrasa o rosto ou cinturão de fogo na cintura.

Doce minha, recebe o grande amor que me saiu da vida e que em ti não achava

território como o explorador perdido nas ilhas do pão e do mel.

Eu te encontrei depois da tormenta, a chuva lavou o ar,

na água, teus doces pés brilharam como peixes.

Adorada, me vou a meus combates.

Arranharei a terra para te fazer uma cova e ali teu Capitão te esperará com

flores sobre o leito. Não penses mais, amada,

no tormento que passou entre nós dois como um raio de fósforo nos deixando talvez,

a queimadura.

A paz chegou também porque regresso à luta em minha terra,

e como tenho o coração completo com a parte do sangue que me deste para sempre,

e como levo minhas mãos cheias do teu ser desnudo,

olha-me, pelo mar, que vou radiante, olha-me pela noite que navego,

e o mar e a noite, amor, serão os teus olhos.

Eu não saio de ti quando me afasto.

Agora vou te contar: vai ser tua a minha terra, vou conquistá-la,

não só para te dar, mas para dar a todos, para todo o meu povo.

Um dia o ladrão deixará a sua torre, e o invasor será expulso.

E todos os frutos da vida crescerão em minhas mãos acostumadas antes à pólvora.

E saberei acariciar as novas flores porque tu me ensinaste o que é ternura.

Doce minha, adorada, virás comigo lutar corpo a corpo,

porque em meu coração vivem teus beijos como bandeiras rubras,

e se caio, não só me recobrirá a terra, também o grande amor que me trouxeste,

que viveu circulando por meu sangue. Virás comigo,

e nessa hora te espero, nessa hora e em todas as horas,

em todas as horas te espero.

 

E quando venha a tristeza que odeio a golpear a tua porta,

diz a ela que te espero, e quando a solidão queira que mudes esse anel em que está meu nome escrito,

diz pra solidão falar comigo, que eu precisei partir porque sou um soldado,

e que ali onde eu estou, sob a chuva ou sob o fogo, amor meu, te espero.

Te espero no deserto mais duro e junto do limoeiro florescido,

em qualquer lugar onde esteja a vida, onde esteja nascendo a primavera, amor meu, te espero.

 

Quando digam: "Esse homem não te quer", recorda que meus pés estão sós nessa noite e procuram os doces e pequenos pés que adoro. Amor, quando te digam que eu já te esqueci, e quando seja eu mesmo quem diga, e quando eu te disser, não me creias, quem e como poderiam te cortar do meu peito e quem receberia meu sangue quando em teu ser me fosse dessangrando? Porém tampouco posso esquecer o meu povo. Vou lutar em cada rua, atrás de cada pedra. O teu amor me ajuda: és uma flor fechada que me enche cada vez com seu aroma e que súbita se abre dentro de mim como uma grande estrela. Amor meu, é de noite. Essa água negra, o mundo dormindo, me rodeiam. Já está chegando a aurora, enquanto vem, te escrevo para dizer que te amo. Para dizer: "te amo", cuida, limpa, levanta, defende nosso amor, alma minha. Aqui te deixo como se deixasse um punhado de terra com sementes. Do nosso amor nascerão vidas.

Em nosso amor beberão água. Talvez chegará um dia em que um homem e uma mulher, iguais a nós dois, tocarão este amor, que ainda terá força para queimar as mãos que o toquem. Quem fomos? O que importa? Tocarão este fogo e o fogo, doce minha, dirá teu simples nome e o meu, o nome que só tu soubeste porque só tu sobre a terra sabes quem sou, e porque ninguém me conheceu como uma, como só uma de tuas mãos, porque ninguém soube como, nem quando meu coração esteve ardendo: tão só teus olhos grandes pardos o souberam, tua vasta boca, tua pele, teus peitos, teu ventre, tuas entranhas e essa alma que eu despertei só para que ficasse cantando até o fim da vida. Amor, te espero.

Adeus, amor, te espero.

Amor, amor, te espero. E assim termina esta carta sem nenhuma tristeza: sobre a terra estão firmes os meus pés, minha mão escreve esta carta no caminho, e no meio da vida estarei sempre junto ao amigo, frente ao inimigo, com teu nome na boca e um beijo que jamais se separou da tua.

Pablo Neruda - ( Thiago de Mello) - Versos do Capitão -

 

voltar ao 1º índice de poetas mil

voltar ao 2º índice de poetas mil

voltar ao índice geral de poesia

voltar à homepage

 

 Amnesty International - Help us cast the light on huma rights violations around the world

 

 

 

 


UK Web Hosting

Desde 25 de Outubro 2003 e quando o contador Bravenet apresentava cerca de 72.500 visitas