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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME

Fernando Namora - MARKETING

 

Aqui ao meu lado o bom cidadão

escolheu Sagres

que é tudo tudo cerveja

a pausa que refresca

a longa pausa de um longo cigarro King Size.

 

atenção ao marketing.

 

Eu não gosto de cerveja

mas tenho que gostar que os outros gostem de cerveja

sobretudo da Sagres

para não contrariar os fabricantes de cerveja.

 

atenção ao marketing.

 

Ninguém contraria os fabricantes de cerveja

ninguém contraria os fabricantes da Opel e da Super Silver

nem os fabricantes de alcatifas para panaceias

nem as panaceias nem os códigos e os edredons macios

nem as mensagens de Natal dos estadistas

nem os negociantes de armas da Suiça

nem o homem de capa negra que virou as costas ao Palmolive

Está tudo perfeito e deito-me no conforto de um Lusospuma

a ver as procissões passar mesmo sem anjos mesmo sem anjos

que são agora selvagens e voam numa Harley.

 

Fernando Namora ( Extracto do poema )

 

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Hai - kais - Gabriela Marcondes

 

Minha mão vazia

Esperando a sua

Encontro que cria.

 

Harmonia sem acorde

nota em contratempo

A dissonância morde

 

Sair do protocolo

Contornar a mesmice

Bancar o voo solo.

 

Alma que sente frio

distância que aprisiona

A saudade está no cio.

 

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Haicai - Helena Kolody- Arco-íris

 

Arco-íris no céu.

Está sorrindo o menino

Que há pouco chorou.

 

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Haicai - Helena Kolody-Jornada

 

Tão longa a jornada!

E a gente cai, de repente,

No abismo do nada.

 

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Fado do retorno - Lídia Jorge

 

Amor, é muito cedo

E tarde uma palavra

A noite uma lembrança

Que não escurece nada

 

Voltaste, já voltaste

Já entras como sempre

Abrandas os teus passos

E paras no tapete

 

Então que uma luz arda

E assim o fogo aqueça

Os dedos bem unidos

Movidos pela pressa

 

Amor, é muito cedo

E tarde uma palavra

A noite uma lembrança

Que não escurece nada

 

Voltaste, já voltei

Também cheia de pressa

De dar-te, na parede

O beijo que me peças

 

Então que a sombra agite

E assim a imagem faça

Os rostos de nós dois

Tocados pela graça.

 

Amor, é muito cedo

E tarde uma palavra

A noite uma lembrança

Que não escurece nada

 

Amor, o que será

Mais certo que o futuro

Se nele é para habitar

A escolha do mais puro

 

Já fuma o nosso fumo

Já sobra a nossa manta

Já veio o nosso sono

Fechar-nos a garganta

 

Então que os cílios olhem

E assim a casa seja

A árvore do Outono

Coberta de cereja.

 

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Cantata de paz - Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar

 

Vemos, ouvimos e lemos

Relatórios da fome

O caminho da injustiça

A linguagem do terror

 

A bomba de Hiroshima

Vergonha de nós todos

Reduziu a cinzas

A carne das crianças

 

D'África e Vietname

Sobe a lamentação

Dos povos destruídos

Dos povos destroçados

 

Nada pode apagar

O concerto dos gritos

O nosso tempo é

Pecado organizado.

 

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Soneto - Violante do Céu

 

Se por não me lembrar de um crocodilo,

Que matar-me intentou com falso pranto,

Pudera sujeitar-me a rigor tanto,

Que habitara com os mais no egípcio Nilo.

 

Se por não me acordar daquele estilo,

Que foi já por meu mal infausto encanto,

Pudera padecer, causando espanto,

Quantos tormentos inventou Perilo.

 

Tudo passara enfim, tudo fizera

Por não me vir jamais ao pensamento

Quem fingindo chorou, matou fingido.

 

Mas que raro tormento não quisera,

Quem julga só pelo maior tormento,

A lembrança menor de um fementido.

 

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William Shakespeare - Quando observo que tudo quanto cresce

 

Quando observo que tudo quanto cresce

Desfruta a perfeição de um só momento,

Que neste palco imenso se obedece

A secreta influição do firmamento;

 

quando percebo que ao homem, como à planta,

Esmaga o mesmo céu que lhe deu glória,

Que se ergue em seiva e, no ápice, aquebranta

E um dia enfim se apaga da memória:

 

Esse conceito dea inconstante sina

mais jovem faz-te ao meu olhar agora,

Quando o tempo se alia com a Ruína

 

Para tornar em noite tua aurora.

E crua guerra contra o Tempo enfrento,

Pois tudo que te toma eu te acrescento.

 

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William Shakespeare - Devo igualar-te a um dia de verão? 

 

Devo igualar-te a um dia de verão?

Mais afável e belo é o teu semblante:

O vento esfolha Maio inda em botão,

Dura o termo estival em breve instante.

 

muitas vezes a luz do céu calcina,

Mas o áureo tom também perde clareza:

De seu belo a beleza enfim declina,

Ao léu ou pelas leis da Natureza,

 

Só teu verão eterno não se acaba

nem a posse de tua formosura;

de impor-te a sombra a Morte não se gaba

 

Pois que esta estrofe eterna o Tempo dura.

Enquanto houver viventes nesta lida,

Há de viver meu verso e te dar vida.

 

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William Shakespeare - Como actor imperfeito que em meio à cena

 

Como actor imperfeito que em meio à cena

O seu papel recita,

Ou como o ser violento em fúria plena

A que o excesso de forças debilita;

 

Também eu, sem confiança em mim, me esqueço

No amor de os ritos próprios recitar,

E na força com que amo me enfraqueço

Rendido ao peso do poder de amar.

 

Oh! sejam pois meus livros a eloquência,

Áugures mudos do expressivo peito,

Que amor implorem, peçam recompensa,

 

Mais do que a voz que muito mais tem feito.

Saibas ler o que o mudo amor escreve,

Que o fino amor ouvir com os olhos deve.

 

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William Shakespeare - Lanço-me ao leito, exausto da fadiga

 

Lanço-me ao leito, exausto da fadiga,

Repousa o corpo ao fim da caminhada;

Mais eis que a outra jornada a mente obriga

Quando é do corpo a obrigação passada.

 

A ti meu pensamento - na distância -

em santa romaria então me leva,

E fico, as frouxas pálpebras em ânsia,

Olhando, como os cegos vêem na treva.

 

E a vista de minha alma ali desvenda

Aos olhos sem visão tua figura,

Que igual a jóia erguida em noite horrenda,

 

Renova a velha face à noite escura.

Ai! que o dia o corpo, à noite a alma,

Por tua e minha culpa têm calma.

 

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William Shakespeare - Se, órfão do olhar humano e da fortuna

 

Se, órfão do olhar humano e da fortuna,

Choro na solidão meu pobres estado

E o céu meu pranto inútil importuna,

Eu entro em mim a maldizer meu fado;

 

Sonho-me alguém mais rico de esperança.

Quero feições e amigos mais amenos,

Deste o pendor, a meta que outro alcança,

Do que mais amo contentado o menos.

 

Mas, se nesse pensar, que me magoa,

De ti me lembro acaso - o meu destino,

Qual cotovia na alvorada entoa

 

da negra terra aos longes céus um hino.

E na riqueza desse amor que evoco,

Já minha sorte com a dos reis não troco.

 

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William Shakespeare - Nem mármore, nem áureos monumentos  

 

Nem mármore, nem áureos monumentos

De reis hão de durar mais que esta rima,

E sempre hão de brilhar nestes acentos

Do que na pedra, pois o tempo a lima.

 

Pode a estátua na guerra ser tombada

E a cantaria o vil motim destrua;

Nem fogo ou Marte apagará com a espada

Vivo registro da memória tua.

 

Há de seguir teu passo sobranceiro

Vencendo a Morte e as legiões do olvido,

E os pósteros, no juízo derradeiro,

 

Hão de a este louvor prestar ouvido.

Pois até a sentença que levantes,

Vives aqui e no lábio dos amantes.

 

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William Shakespeare - Não lamentes por mim quando eu morrer  

 

Não lamentes por mim quando eu morrer

Senão enquanto o surdo sino diz

Ao mundo vil que o deixo e vou viver

Em meio aos vermes que inda são mais vis.

 

Nem te recorde o verso comovido

A mão que o escreveu, pois te amo tanto

Que antes achar em tua mente olvido

Quer ser lembrado e te causar o pranto.

 

Ah! peço-te que ao leres esta queixa

Quando for minha carne consumida,

Não te refiras ao meu nome e deixa

 

Que morra o teu amor com minha vida.

Não veja o mundo e zombe desta dor

Por minha causa, quando morto eu for.

 

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William Shakespeare - Que eu não veja empecilho na sincera  

 

Que eu não veja empecilho na sincera

União de duas almas. Não amor

É o que encontrando alterações se altera

Ou diminui se o atinge o desamor.

 

Oh, não! amor é ponto assaz constante

Que ileso os bravos temporais defronta.

É a estrela guia do baixel errante,

De brilho certo, mas valor sem conta.

 

O Amor não é jogral do Tempo, embora

Em seu declínio os lábios nos entorte.

O Amor não muda com o dia e a hora,

 

Mas persevera ao limiar da Morte.

E, se prova que num erro estou,

Nunca fiz versos nem jamais se amou.

 

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William Shakespeare - Dos amores - de paz e desespero 

 

Dos amores - de paz e desespero -

Eu tenho que me inspiram noite e dia:

Meu anjo bom é um homem puro e vero;

O mau, uma mulher de tez sombria.

 

Para levar a tentação a cabo,

O feminino atrai meu anjo e vive

A querer tranformá-lo em diabo,

Tentando-lhe a pureza com a lascívia.

 

Se há de meu anjo corromper-se em demo

Suspeito apenas, sem dizer que seja;

Mas sendo ambos tão meus, e amigos, temo

 

Que o anjo no fogo já do outro esteja.

Nunca sabê-lo, embora desconfie,

Até que o meu anjo contagie.

 

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Teresa Rita Lopes - Agora que morreste Mãe

 

Agora que morreste Mãe

 

E só em mim te tenho

Sou mais que o meu tamanho

Porque sou tu também

Tuas mãos afagam as minhas mãos

De quem são estes gestos esta pele?

Nunca me deste irmãos

Só contigo reparto o meu farnel

De quotidianos fardos e alegrias

Breves e desta brasa em chaga

Que é a tua ausência nos meus dias

Órfãos mas sempre ao colo desta mágoa

De não te ter de te ter sido esquiva

De não te ter nunca aberto as portas

Do meu ser de nunca te ter dado vivas

O que hoje já só são carícias mortas

 

Teresa Rita Lopes, Cicatriz

 

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Teresa Rita Lopes - Dia a dia

 

Dia

a

 dia

 noite

 a

 noite

 pedra

 a

 pedra

 palha

 a

 palha

 tronco

 a

 tronco

 cuspo

 a

 cuspo

 gesto

 a

 gesto

 passo

 a

 passo

 flor

 a

 flor

 se faz um ninho

 um caminho

 um amor

 

 Teresa Rita Lopes, Cicatriz

 

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Teresa Rita Lopes - Junto a um muro velho

 

 Junto a um muro velho

 A uma casa ruída

 A velha amendoeira diz que não

 À morte

 E fica

 De repente

 Menina e noiva

 Ao mesmo tempo.

 O vento ri-se dela

 Arranca-lhe as pétalas

 - Mas são tantas que não se nota -

 Escarnece-a:

 - "És uma velha louca de véu e grinalda!"-

 Para enxotar os insultos machistas do velho

 Vento

 Acudo-lhe com estes versos:

 - "Não ligues! É inveja!

 Estás tão linda assim de noiva, avozinha!"

 

 Teresa Rita Lopes, Caminhos de Alcoutim

 

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 Alexandre O'Neill - Divertimento com sinais ortográficos

 

 ...

 Em aberto, em suspenso

 Fica tudo o que digo.

 E também o que faço é reticente...

 :

 Introduzimos, por vezes,

 Frases nada agradáveis...

 .

 Depois de mim maiúscula

 Ou espaço em branco

 Contra o qual defendo os textos

 ,

 Quando estou mal disposta

 (E estou-o muitas vezes...)

 Mudo o sentido às frases,

 Complico tudo...

 !

 Não abuses de mim!

 ?

 Serás capaz de responder a tudo o que pergunto?

 ( )

 Quem nos dera bem juntos

 Sem grandes apartes metidos entre nós!

 ^

 Dou guarida e afecto

 A vogal que procure um tecto.

 

 Alexandre O'Neill, Abandono Vigiado

 

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 Alexandre O'Neill - Há palavras que nos beijam

 

 Há palavras que nos beijam

 Como se tivessem boca.

 Palavras de amor, de esperança,

 De imenso amor, de esperança louca.

 Palavras nuas que beijas

 Quando a noite perde o rosto;

 Palavras que se recusam

 Aos muros do teu desgosto.

 De repente coloridas

 Entre palavras sem cor,

 Esperadas inesperadas

 Como a poesia ou o amor.

 

(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído

 No papel abandonado)

 

Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.

 

Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca

 

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Alexandre O'Neill - Minuciosa formiga

 

Minuciosa formiga

Não tem que se lhe diga:

Leva a sua palhinha

Asinha, asinha.

 

Assim devera ser eu

E não esta cigarra

Que se põe a cantar

E me deita a perder.

 

Assim devera eu ser:

De patinhas no chão,

Formiguinha ao trabalho

E ao tostão.

Assim devera eu ser

Se não fora não querer.

 

Alexandre O'Neill, Feira Cabisbaixa

 

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Maria Cândida Mendonça - A Máscara

 

 Parei

 Espreitei

 Entrei

 Comprei

 Saí

 Subi

 Abri

 Sorri

 Peguei

 Coloquei

 Atei

 Ajeitei

 Desci

 Apareci

 Rugi

 E ri

 Um leão

 Que aflição!

 Mas não...

 É o João!

 

 Maria Cândida Mendonça, O Livro do Faz-de-Conta

 

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Maria Alberta Menéres - A dança do B

 

 Um dia, o boi, o burro, o besouro,

 O borrego, o búfalo e a borboleta

 Repararam que os seus nomes

 Começavam todos por b.

 

Disseram ao mesmo tempo:

 Que bonito!

 

 O bacalhau, o berbigão, o besugo

 E o búzio, lá no mar,

 Repararam que os seus nomes

 Também começavam por b.

 

Disseram todos assim:

Que bonito!

 

Veio logo uma baleia de longe,

A gritar. Esperem,

Esperem aí por mim!

 

Maria Alberta Menéres, Um Peixe no Ar

 

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Maria Alberta Menéres - Dúvida

 

 O carvão é preto.

 Quando arde é vermelho.

 Qual é afinal

 A cor do carvão?

 

 Minha mãe, de noite

 Não entendo nada:

 Será que as cores nascem

 Só de madrugada?

 

 Minha mãe, quem sabe

 Se a voz do amarelo

 Não é doce apenas

 Na imaginação?

 

 Maria Alberta Menéres, Conversa com Versos

 

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Francisco Sá de Miranda - Comigo me desavim

 

 Comigo me desavim:

 Vejo-me em grande perigo!

 Não posso viver comigo

 Nem posso fugir de mim!

 

Antes que este mal tivesse

 Da outra gente fugia:

 Agora já fugiria

 De mim, se de mim pudesse!

 

 Que cabo espero, ou que fim

 Deste cuidado, que sigo

 Pois trago a mim comigo

 Tamanho inimigo em mim!

 

 Francisco Sá de Miranda (séc. XV), Cancioneiro Geral

 

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António Luís Moita - Conceito pequenino

 

 A tudo se empresta aroma.

 De tudo aroma se extrai.

 O trigo que o homem sonha

 Precede, vivo, o trigal.

 

 Nasce o trigo e cresce o pão

 Que no sonho se transforma.

 Só com raízes no chão

 Tem asas livres o homem.

 

 António Luís Moita, Cidade sem Tempo

 

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Adolfo Casais Monteiro - A palavra impossível

 

 Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim

 vida que não se troca por palavras.

 Deram-mo para eu guardar dentro de mim

 As vozes que só em mim são verdadeiras.

 Deram-mo para eu guardar dentro de mim

 A impossível palavra da verdade.

 Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,

 Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,

 Para eu guardar dentro de mim,

 Para eu ignorar dentro de mim

 A única palavra sem disfarce -

 A Palavra que nunca se profere.

 

 Adolfo Casais Monteiro, Noite Aberta aos Quatro Ventos

 

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