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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME
Aqui ao meu lado o bom cidadão escolheu Sagres que é tudo tudo cerveja a pausa que refresca a longa pausa de um longo cigarro King Size.
atenção ao marketing.
Eu não gosto de cerveja mas tenho que gostar que os outros gostem de cerveja sobretudo da Sagres para não contrariar os fabricantes de cerveja.
atenção ao marketing.
Ninguém contraria os fabricantes de cerveja ninguém contraria os fabricantes da Opel e da Super Silver nem os fabricantes de alcatifas para panaceias nem as panaceias nem os códigos e os edredons macios nem as mensagens de Natal dos estadistas nem os negociantes de armas da Suiça nem o homem de capa negra que virou as costas ao Palmolive Está tudo perfeito e deito-me no conforto de um Lusospuma a ver as procissões passar mesmo sem anjos mesmo sem anjos que são agora selvagens e voam numa Harley.
Fernando Namora ( Extracto do poema )
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Hai - kais - Gabriela Marcondes
Minha mão vazia Esperando a sua Encontro que cria.
Harmonia sem acorde nota em contratempo A dissonância morde
Sair do protocolo Contornar a mesmice Bancar o voo solo.
Alma que sente frio distância que aprisiona A saudade está no cio.
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Haicai - Helena Kolody- Arco-íris
Arco-íris no céu. Está sorrindo o menino Que há pouco chorou.
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Haicai - Helena Kolody-Jornada
Tão longa a jornada! E a gente cai, de repente, No abismo do nada.
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Amor, é muito cedo E tarde uma palavra A noite uma lembrança Que não escurece nada
Voltaste, já voltaste Já entras como sempre Abrandas os teus passos E paras no tapete
Então que uma luz arda E assim o fogo aqueça Os dedos bem unidos Movidos pela pressa
Amor, é muito cedo E tarde uma palavra A noite uma lembrança Que não escurece nada
Voltaste, já voltei Também cheia de pressa De dar-te, na parede O beijo que me peças
Então que a sombra agite E assim a imagem faça Os rostos de nós dois Tocados pela graça.
Amor, é muito cedo E tarde uma palavra A noite uma lembrança Que não escurece nada
Amor, o que será Mais certo que o futuro Se nele é para habitar A escolha do mais puro
Já fuma o nosso fumo Já sobra a nossa manta Já veio o nosso sono Fechar-nos a garganta
Então que os cílios olhem E assim a casa seja A árvore do Outono Coberta de cereja.
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Cantata de paz - Sophia de Mello Breyner Andresen
Vemos, ouvimos e lemos Não podemos ignorar Vemos, ouvimos e lemos Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos Relatórios da fome O caminho da injustiça A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima Vergonha de nós todos Reduziu a cinzas A carne das crianças
D'África e Vietname Sobe a lamentação Dos povos destruídos Dos povos destroçados
Nada pode apagar O concerto dos gritos O nosso tempo é Pecado organizado.
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Se por não me lembrar de um crocodilo, Que matar-me intentou com falso pranto, Pudera sujeitar-me a rigor tanto, Que habitara com os mais no egípcio Nilo.
Se por não me acordar daquele estilo, Que foi já por meu mal infausto encanto, Pudera padecer, causando espanto, Quantos tormentos inventou Perilo.
Tudo passara enfim, tudo fizera Por não me vir jamais ao pensamento Quem fingindo chorou, matou fingido.
Mas que raro tormento não quisera, Quem julga só pelo maior tormento, A lembrança menor de um fementido.
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William Shakespeare - Quando observo que tudo quanto cresce
Quando observo que tudo quanto cresce Desfruta a perfeição de um só momento, Que neste palco imenso se obedece A secreta influição do firmamento;
quando percebo que ao homem, como à planta, Esmaga o mesmo céu que lhe deu glória, Que se ergue em seiva e, no ápice, aquebranta E um dia enfim se apaga da memória:
Esse conceito dea inconstante sina mais jovem faz-te ao meu olhar agora, Quando o tempo se alia com a Ruína
Para tornar em noite tua aurora. E crua guerra contra o Tempo enfrento, Pois tudo que te toma eu te acrescento.
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William Shakespeare - Devo igualar-te a um dia de verão?
Devo igualar-te a um dia de verão? Mais afável e belo é o teu semblante: O vento esfolha Maio inda em botão, Dura o termo estival em breve instante.
muitas vezes a luz do céu calcina, Mas o áureo tom também perde clareza: De seu belo a beleza enfim declina, Ao léu ou pelas leis da Natureza,
Só teu verão eterno não se acaba nem a posse de tua formosura; de impor-te a sombra a Morte não se gaba
Pois que esta estrofe eterna o Tempo dura. Enquanto houver viventes nesta lida, Há de viver meu verso e te dar vida.
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William Shakespeare - Como actor imperfeito que em meio à cena
Como actor imperfeito que em meio à cena O seu papel recita, Ou como o ser violento em fúria plena A que o excesso de forças debilita;
Também eu, sem confiança em mim, me esqueço No amor de os ritos próprios recitar, E na força com que amo me enfraqueço Rendido ao peso do poder de amar.
Oh! sejam pois meus livros a eloquência, Áugures mudos do expressivo peito, Que amor implorem, peçam recompensa,
Mais do que a voz que muito mais tem feito. Saibas ler o que o mudo amor escreve, Que o fino amor ouvir com os olhos deve.
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William Shakespeare - Lanço-me ao leito, exausto da fadiga
Lanço-me ao leito, exausto da fadiga, Repousa o corpo ao fim da caminhada; Mais eis que a outra jornada a mente obriga Quando é do corpo a obrigação passada.
A ti meu pensamento - na distância - em santa romaria então me leva, E fico, as frouxas pálpebras em ânsia, Olhando, como os cegos vêem na treva.
E a vista de minha alma ali desvenda Aos olhos sem visão tua figura, Que igual a jóia erguida em noite horrenda,
Renova a velha face à noite escura. Ai! que o dia o corpo, à noite a alma, Por tua e minha culpa têm calma.
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William Shakespeare - Se, órfão do olhar humano e da fortuna
Se, órfão do olhar humano e da fortuna, Choro na solidão meu pobres estado E o céu meu pranto inútil importuna, Eu entro em mim a maldizer meu fado;
Sonho-me alguém mais rico de esperança. Quero feições e amigos mais amenos, Deste o pendor, a meta que outro alcança, Do que mais amo contentado o menos.
Mas, se nesse pensar, que me magoa, De ti me lembro acaso - o meu destino, Qual cotovia na alvorada entoa
da negra terra aos longes céus um hino. E na riqueza desse amor que evoco, Já minha sorte com a dos reis não troco.
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William Shakespeare - Nem mármore, nem áureos monumentos
Nem mármore, nem áureos monumentos De reis hão de durar mais que esta rima, E sempre hão de brilhar nestes acentos Do que na pedra, pois o tempo a lima.
Pode a estátua na guerra ser tombada E a cantaria o vil motim destrua; Nem fogo ou Marte apagará com a espada Vivo registro da memória tua.
Há de seguir teu passo sobranceiro Vencendo a Morte e as legiões do olvido, E os pósteros, no juízo derradeiro,
Hão de a este louvor prestar ouvido. Pois até a sentença que levantes, Vives aqui e no lábio dos amantes.
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William Shakespeare - Não lamentes por mim quando eu morrer
Não lamentes por mim quando eu morrer Senão enquanto o surdo sino diz Ao mundo vil que o deixo e vou viver Em meio aos vermes que inda são mais vis.
Nem te recorde o verso comovido A mão que o escreveu, pois te amo tanto Que antes achar em tua mente olvido Quer ser lembrado e te causar o pranto.
Ah! peço-te que ao leres esta queixa Quando for minha carne consumida, Não te refiras ao meu nome e deixa
Que morra o teu amor com minha vida. Não veja o mundo e zombe desta dor Por minha causa, quando morto eu for.
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William Shakespeare - Que eu não veja empecilho na sincera
Que eu não veja empecilho na sincera União de duas almas. Não amor É o que encontrando alterações se altera Ou diminui se o atinge o desamor.
Oh, não! amor é ponto assaz constante Que ileso os bravos temporais defronta. É a estrela guia do baixel errante, De brilho certo, mas valor sem conta.
O Amor não é jogral do Tempo, embora Em seu declínio os lábios nos entorte. O Amor não muda com o dia e a hora,
Mas persevera ao limiar da Morte. E, se prova que num erro estou, Nunca fiz versos nem jamais se amou.
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William Shakespeare - Dos amores - de paz e desespero
Dos amores - de paz e desespero - Eu tenho que me inspiram noite e dia: Meu anjo bom é um homem puro e vero; O mau, uma mulher de tez sombria.
Para levar a tentação a cabo, O feminino atrai meu anjo e vive A querer tranformá-lo em diabo, Tentando-lhe a pureza com a lascívia.
Se há de meu anjo corromper-se em demo Suspeito apenas, sem dizer que seja; Mas sendo ambos tão meus, e amigos, temo
Que o anjo no fogo já do outro esteja. Nunca sabê-lo, embora desconfie, Até que o meu anjo contagie.
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Teresa Rita Lopes - Agora que morreste Mãe
Agora que morreste Mãe
E só em mim te tenho Sou mais que o meu tamanho Porque sou tu também Tuas mãos afagam as minhas mãos De quem são estes gestos esta pele? Nunca me deste irmãos Só contigo reparto o meu farnel De quotidianos fardos e alegrias Breves e desta brasa em chaga Que é a tua ausência nos meus dias Órfãos mas sempre ao colo desta mágoa De não te ter de te ter sido esquiva De não te ter nunca aberto as portas Do meu ser de nunca te ter dado vivas O que hoje já só são carícias mortas
Teresa Rita Lopes, Cicatriz
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Dia a dia noite a noite pedra a pedra palha a palha tronco a tronco cuspo a cuspo gesto a gesto passo a passo flor a flor se faz um ninho um caminho um amor
Teresa Rita Lopes, Cicatriz
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Teresa Rita Lopes - Junto a um muro velho
Junto a um muro velho A uma casa ruída A velha amendoeira diz que não À morte E fica De repente Menina e noiva Ao mesmo tempo. O vento ri-se dela Arranca-lhe as pétalas - Mas são tantas que não se nota - Escarnece-a: - "És uma velha louca de véu e grinalda!"- Para enxotar os insultos machistas do velho Vento Acudo-lhe com estes versos: - "Não ligues! É inveja! Estás tão linda assim de noiva, avozinha!"
Teresa Rita Lopes, Caminhos de Alcoutim
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Alexandre O'Neill - Divertimento com sinais ortográficos
... Em aberto, em suspenso Fica tudo o que digo. E também o que faço é reticente... : Introduzimos, por vezes, Frases nada agradáveis... . Depois de mim maiúscula Ou espaço em branco Contra o qual defendo os textos , Quando estou mal disposta (E estou-o muitas vezes...) Mudo o sentido às frases, Complico tudo... ! Não abuses de mim! ? Serás capaz de responder a tudo o que pergunto? ( ) Quem nos dera bem juntos Sem grandes apartes metidos entre nós! ^ Dou guarida e afecto A vogal que procure um tecto.
Alexandre O'Neill, Abandono Vigiado
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Alexandre O'Neill - Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)
Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca
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Alexandre O'Neill - Minuciosa formiga
Minuciosa formiga Não tem que se lhe diga: Leva a sua palhinha Asinha, asinha.
Assim devera ser eu E não esta cigarra Que se põe a cantar E me deita a perder.
Assim devera eu ser: De patinhas no chão, Formiguinha ao trabalho E ao tostão. Assim devera eu ser Se não fora não querer.
Alexandre O'Neill, Feira Cabisbaixa
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Maria Cândida Mendonça - A Máscara
Parei Espreitei Entrei Comprei Saí Subi Abri Sorri Peguei Coloquei Atei Ajeitei Desci Apareci Rugi E ri Um leão Que aflição! Mas não... É o João!
Maria Cândida Mendonça, O Livro do Faz-de-Conta
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Maria Alberta Menéres - A dança do B
Um dia, o boi, o burro, o besouro, O borrego, o búfalo e a borboleta Repararam que os seus nomes Começavam todos por b.
Disseram ao mesmo tempo: Que bonito!
O bacalhau, o berbigão, o besugo E o búzio, lá no mar, Repararam que os seus nomes Também começavam por b.
Disseram todos assim: Que bonito!
Veio logo uma baleia de longe, A gritar. Esperem, Esperem aí por mim!
Maria Alberta Menéres, Um Peixe no Ar
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Maria Alberta Menéres - Dúvida
O carvão é preto. Quando arde é vermelho. Qual é afinal A cor do carvão?
Minha mãe, de noite Não entendo nada: Será que as cores nascem Só de madrugada?
Minha mãe, quem sabe Se a voz do amarelo Não é doce apenas Na imaginação?
Maria Alberta Menéres, Conversa com Versos
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Francisco Sá de Miranda - Comigo me desavim
Comigo me desavim: Vejo-me em grande perigo! Não posso viver comigo Nem posso fugir de mim!
Antes que este mal tivesse Da outra gente fugia: Agora já fugiria De mim, se de mim pudesse!
Que cabo espero, ou que fim Deste cuidado, que sigo Pois trago a mim comigo Tamanho inimigo em mim!
Francisco Sá de Miranda (séc. XV), Cancioneiro Geral
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António Luís Moita - Conceito pequenino
A tudo se empresta aroma. De tudo aroma se extrai. O trigo que o homem sonha Precede, vivo, o trigal.
Nasce o trigo e cresce o pão Que no sonho se transforma. Só com raízes no chão Tem asas livres o homem.
António Luís Moita, Cidade sem Tempo
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Adolfo Casais Monteiro - A palavra impossível
Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim vida que não se troca por palavras. Deram-mo para eu guardar dentro de mim As vozes que só em mim são verdadeiras. Deram-mo para eu guardar dentro de mim A impossível palavra da verdade. Deram-me o silêncio como uma palavra impossível, Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível, Para eu guardar dentro de mim, Para eu ignorar dentro de mim A única palavra sem disfarce - A Palavra que nunca se profere.
Adolfo Casais Monteiro, Noite Aberta aos Quatro Ventos
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