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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME

MANUEL GUSMÃO - PAISAGENS

1

 

o verão estende a sua sombra até aos joelhos

em que a luz se dobra: a isso chamávamos Outono

 

2

Na campânula do nevoeiro o plátano

incendeia a cinza: oiro e vermelho

inverosímeis como uma tempestade

eléctrica no écran da janela;

uma floração delirante do olhar

afectado pelo crepúsculo

recordado na paixão.

Depois

a água gris lavará tudo

excessivamente.

 

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MANUEL GUSMÃO - PAISAGENS2

 

3

Uma cadeira sentada ao lado da mesa:

madeira, metal e pano ? branco, vermelho

e preto. Um livro luzente e minucioso.

Em frente

uma rede de pontos de água em explosão ?

pontos, traços vibrando curto: estrelas de chuva

contra o vago sim do sol e a maciça sombra

da colina.

 

? Acompanhas o invisível fluxo da terra

na paz vertical e no equilíbrio dos mundos.

 

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MANUEL GUSMÃO - PAISAGENS3

 

4

 

o cheiro da terra depois da chuva de Julho

no quintal do sul com a palmeira clara

vem até junto da roseira brava que neste pátio

dispara rápida a partir da parede antiga.

Dois plátanos no largo por essa palmeira:

a palmeira no sol das abelhas e da tijoleira.

A roseira brava pelo cheiro da terra erguido.

Campos contra campos: inclinada abres o fogo

da salamandra contra o teu rosto cintilante.

? Estás a envelhecer e há um risco na paisagem.

 

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MANUEL GUSMÃO - PAISAGENS4

 

5

O pátio com as palmeiras da infância

vem agora ao halogéneo da sala enquanto

a chuva vibra o pátio daqui.

O teixo aceso no livro é diferente

do candeeiro alto. Vem dizer

uma morte antiga

estilhaçada pelos ramos da palmeira

a que trago agora a amada distante.

Tu foges na fotografia: há um rasto

de sombra na pedra

 

que a saia roçou; na pedra onde a mão

se demorou um pouco mais. Há uma voz

que reconheces agora, duas palavras

depois: Ah! és tu. E há um arco

de pedra caiada branca, a moldura ocre.

A tijoleira do chão do pátio superior,

como no corredor da casa ao longo da sala,

mas com musgo, guarda os passos da criança

que desentendes. Deves ser tu

mas quem garante o nome?

 

Deves ter aprendido no passado a perder

coisas. E a inventá-las depois no pátio

entre a entrada em arco e a palmeira

do nascimento. De lá vem-te uma praia

sem mar perto, só uma poalha brilhante

e seca. Vais procurá-la sem medo

numa tarde que só devagar se morre

a um círculo de inverosímeis teixos.

O que agora vês deveria ter o cheiro

da terra depois da chuva de Julho

 

para que a palmeira viesse iluminada

de dentro do teixo aceso no livro.

? o que é que gostarias de pedir?

 

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MANUEL GUSMÃO - PAISAGENS5

 

6

O crepúsculo da manhã nascente sopra o esbraseamento

ténue e branco

em voo na linha do horizonte.

E por sobre límpidas

palidíssimas as luzes urbanas, acende os espelhos

das salinas: quatro águas que estremecem a manhã.

Por trás da casa, atrás de nós, o húmido marulho

de pássaros frágeis que destecem a sombra.

A teu lado, o corpo de quem te convida

à manhã do mundo.

 

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Maria Helena - Naturalidade

 

Sei lá porquê! O amor não tem porquê!

Um sorriso, um olhar alvoroçado

e o coração em festa e deslumbrado

por um lampejo que ninguém mais vê!

 

Alma que se reparte e espera e crê

e mais quer dar depois de tudo dado.

E porque a vida é beijo conquistado,

bendito seja o amor pela mercê!

 

Compreender a voz fria do luar

e ao longe ouvir as ondas e entendê-las

e a própria neve transformar em lume...

 

Sem porquê! Sem razão e sem pensar:

como no Céu se acendem as Estrelas

e na terra as violetas dão perfume.

 

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Maria Helena - Promessa

 

Depois, verás! O vento há de cantar

estranhas melodias ignoradas

e a tona, verde líquida do mar,

há-de encher-se de rosas encarnadas.

 

O sol será mais sol, mais tutelar

e aquecer terras frias, mãos geladas,

e os voos hão-de erguer-se pelo ar

no encantamento de asas libertadas.

 

Depois verás! Nem cruzes nem espinhos!

E há-de haver água em todos os caminhos

e em cada sombra o riso de um lamejo.

 

Há-de crescer o bem, secar o mal,

quando eu florir teus lábios de mortal

com a imortalidade do meu beijo.

 

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Maria Helena - Ressurreição

 

Não vês! Ergue-se a chama prisioneira

e que aos poucos morria de abandono.

O teu olhar pousou-se na roseira

e a roseira floriu, perto do Outono.

 

O meu sonho de luz em cachoeira

não tinha cor nem frémito nem dono

- que estava ainda no meio da ladeira

e agonizava de vazio e sono.

 

Porém, o sol rompeu no céu contente

e o meu corpo cansado de poente,

amanheceu numa alegria sã.

 

Não vês! Beija-me a boca ardente e louca

e dize-me depois se minha boca

não tem um gosto nítido a manhã...

 

Maria Helena - Transfiguração

 

Prende nas tuas mãos cansadas

de tanta solidão, de tanto frio,

enche-lhes o amaríssimo vazio

do arrojo de carícias realizadas.

 

Dá-lhes a cor lustral das madrugadas

dos dias quentes bárbaros de estio;

despe-as com devoção do tom sombrio

de tantas, tantas noites consumadas!

 

Em seguida, num místico lampejo

mas no calor ascensional das brasas,

beija os meus dedos trémulos e vãos,

 

que depois do milagre do teu beijo,

eu ficarei amor, com duas asas

onde Deus colocará duas mãos.

 

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Daniel Camacho - ....

 

Mais uma vez

ando às voltas,

tento percorrer o tempo

como ele me percorre a mim,

sozinho,

com medo,

longe do mundo,

mudo,

com vontade de gritar.

Escorrego no pátio

das lembranças

que me prendem ao passado

e percorro mais uma vez

as estradas que a minha mente

evita,

agita,

num plano paralelo

à irrealidade presente.

Permaneço intacto,

silencioso,

enquanto abro o livro

de folhas soltas,

de pensamentos tristes,

frágeis,

corrompidos pelo tempo

que aflora em minha alma,

que me percorre mais uma vez,

longe do mundo,

longe de tudo.

Escorre da nascente pobre

mais um dia,

solto,

vadio,

um olhar que invade o rio

onde afloram nossas águas,

nosso ventre de promessas

cegas,

velhas,

sem garra, nem vontade.

Mais uma vez,

a noite cresce primeiro

o tempo percorre-me

sem me deixar percorrê-lo,

queimam-se as palavras,

rasgam-se os verbos,

jaz a luz

na esquina da ilusão,

enquanto o tempo

transpira vazio,

nos contornos de um instante,

delirante,

na nudez do luar

perdido entre dois mares.

 

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Daniel Camacho - Sabor Amargo

 

Tanta indiferença que passeia pelas minhas entranhas,

tanta dor que não se acanha...

...por isso é que o ódio escorre por mim

uma raiva imensa que jorra como suor

do meu peito, insuportável decadência sem fim,

irreparável cedência dos poros inquietos sem pudor.

 

Incendiária a vontade que tenho,

de acabar com todos esses hipócritas baratos,

exterminar de uma vez por todas, esse mundo imperfeito e intacto,

explodir, penetrar bem fundo com um qualquer engenho...

...podem ser palavras raras

essas que nos dão estalos, que nos fazem tremer como varas!

Estou farto de me esbarrar com mentiras,

as inegáveis verdades, a ignorância que à volta do mundo gira!!!

 

Dos fracos não reza nem uma gota de história,

e eu estou farto de ser bom...

...vou ser mau, pelo menos desta vez,

encarnar o outro lado da glória,

ser mau, fingir, mentir, ser outra pessoa,

jogar com outras vidas, pô-las à toa

como um barquinho à vela no meio de uma tempestade,

eu seria a tempestade, cruel, cheia de ansiedade...

...para ver o afundar do barco, fraco, impotente,

pelo menos desta vez não seria eu o comandante daquela gente!

 

Estou cansado de ter que controlar este vazio,

tirar o casaco para abrigar quem tenha frio,

estou cansado de dar a minha vida por quem não a merece,

de não esquecer quem me esquece!

Mas desta vez revoltar-me-ei sem remorsos

terão que ser outros a fazer os meus esforços,

é chegada a altura de receber algo em troca por todos os meus sacrifícios,

não era com esta intenção que eu era bom

mas o mal que insuportavelmente resistia sempre no mesmo tom,

tirou-me com passos mágicos daquele hospício...

...sim daquele hospício, cheio de falsas liberdades,

recheado de idiotas causas, fingidas verdades!!!

 

Não suporto o ar feliz com que nos tentam enganar

aqueles olhares viciados, cheios de nada,

julgam que estão bem! Coitados...

...ainda não caíram ao mar,

no abismo incontido da inveja,

no profundo e ordinário egoísmo,

o amargo desamor que nos beija,

os heróicos actos de terrorismo.

 

Não consigo conter-me mais,

escorrem por mim sorrisos fingidos, banais,

irritantes buzinas que soam como loucas,

travagens súbitas, revoltas roucas...

...mas finalmente e felizmente libertei-me do medo,

o medo de encarar a vida de frente sem inventar histórias,

apaguei dos registos, a angústia da derrota,

agora que enfrentei tudo isto, nada mais importa

apenas oiço, respiro e provo o sabor amargo da vitória.

 

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Daniel Camacho - Excertos da Noite

 

Acordo às três da manhã

num quarto húmido e vazio,

acendo um cigarro encostado à parede

observando o silêncio completo e frio...

Sufoco a ardente e extrema tristeza

e vejo a vida corromper-se naquele recinto fechado,

devorada pela lucidez da solidão,

no meio da loucura, da ilusão.

Enveneno-me inquietando o corrupto cadáver

e ardo, sem estremecer, lentamente na fogueira,

vendo as incompreensíveis e enormes sombras,

erguerem-se no quarto...outrora vazio,

com toda a melancolia a percorrer-me o sangue,

os secretos gritos devorarem o vocabulário do medo!

Acordo ancorado à solidão,

sem razões para apelar a uma mudança repentina,

pois o mar rouba terra ao seio desnudo das águas,

fiel à metamorfose da vida que estala entre os dedos...

...a vida esfuma-se nos seus próprios fundamentos,

nas muralhas da razão, onde as palavras enredam inocência...

...enlouquecendo num excerto de angústia

com voz obscura devorada pela tradição.

 

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DANIEL CAMACHO - Um poema é...

 

Um poema é uma pintura,

feito com amor e com ternura,

um poema é uma escultura,

carregado de emoção e aventura,

Um poema é uma história,

feita de glórias e memórias,

um poema é um ritual,

escrito numa folha dum jornal,

Um poema é uma canção,

que vadia como um lobo solitário,

um poema é uma recordação,

que navega no fundo de um aquário.

Poemas são segredos,

poemas são medos,

poemas são brinquedos,

que nos escapam entre os dedos.

Poemas são dados ilustrados,

que semeiam ilusões,

poemas são noites e dias separados,

são tiros, descobertas e traições.

 

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Daniel Camacho - Nada

 

De repente dou conta do meu ser, da minha existência, quebro o silêncio rarefeito que me vigia os passos, que me prende a voz, sugo a saudade inerte, a ausente palpitação de qualquer coisa, que navega dentro de mim...e reparo no nada, no vazio inquieto que suporta a nossa dor, o suor cansado que nos cobre o rosto, as cores, os sons, o sol posto. É tão bom poder sentir, olhar de frente o nada, mas saber que se vê tudo, pois o nada só é nada, se for tudo.

Só agora reparei como é bela a noite, a lua que a ilumina, os lampiões que a acompanham, mas não tristes e sós, a pedra recalcada, os caminhos desertos da calçada, que nos acompanham e nos abrigam a voz. É bom poder sentir o nada, quando se sente o nada dá-se valor ao tudo, que afinal não é mais que quase nada...

As sombras cansadas fazem parte de nós, mas não são nada sozinhas, pois tudo o que as faz sorrir, é o nada que as olha e as despe, sem se sentir. Quando acordares olha de frente o nada, e diz-me se sentiste o vazio percorrer o teu olhar, preencher cada espaço sem tempo, o nada que acontece, e diz-me se o nada existe, se me disseres que não, perguntar-te-ei o que é a existência? se me disseres que sim é porque olhas e consegues ver...

 

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Daniel Camacho - 16:44 e as luzes já estão acesas

 

16:44 e as luzes já estão acesas.

a neblina repentina, adoece e entristece

ainda mais a pedra da calçada

que se inverte no Inverno de tantas vagas.

 

Os velhos sentados em frente

ao jardim inacabado, estendem

as mãos cheias de rugas e feridas

que o tempo suga enquanto há vida,

e enquanto as marés que vão e vêem com a música das centenas de histórias que têm para

contar, apaga-se de súbito no infinito

das lembranças que tanto afogo, fogo maldito. Tão tristes ficam os dias assim,

cinzentos, sombrios, ridículos e imbecis,

embora possuam o agradável aroma

do consumismo atroz que nos consome

sempre nesta altura e noutras tantas,

mas mesmo assim sem mantas,

deitados num canto fora do mundo,

de mãos esticadas, os velhos de barbas

e luvas rasgadas, apenas recebem uns pingos de chuva em troca da devota devoção

que desde crianças os apunhalou a traição.

 

Os velhos, tão parecidos com os novos

eles são. Nobre palavra que os distancia

e diferencia da verdade e falsidade do comum dos mortais. Morte ao início que se afasta do seu fim. 17:00, o tempo não para, porque haverei eu de parar? Anoitece cada vez mais cedo e a sede que tenho acesa no peito, cedo se apagará, tal qual o Sol e a vida que corre a torto e a direito,

acena-nos e diz-nos bom proveito.

 

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Teresa Mariz Bruttin - Era contigo

 

Era contigo amor

Eram teus os meus minutos

As minhas horas

Os meus dias

Era tua a minha existência

Não quis

Não sei se quis

se quis

Hoje sei

que era contigo amor

Que a casualidade

te traga a mim

Por um momento

perder-me nesse sorriso

Esquecer-me na poesia

dessas palavras

Era contigo amor

Lá fora

o Inverno traz frio

Aqui dentro

o vento sopra

E não traz

a tua imagem !

 

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Teresa Mariz Bruttin - A tua Estrela

 

Não quero saber

o que vai no teu pensamento

Quem no teu pensamento mora

Com quem conversas

a todas as horas

Não quero saber

por onde caminhas

Quem te acompanha

Quem à tua sede

dá de beber

Quem em sonho te faz viver

Não quero saber

o que diz o teu olhar

Nada quero saber

Com medo de saber

que não sou eu

A tua Estrela

 

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Mafalda Veiga - Planície

 

O bando debandou

subindo do arvoredo

do vácuo que ficou

no fim do seu degredo

as asas abrem chagas

no acinzar do entardecer

e amansam a agonia

do dia a escurecer

 

ensombram a ribeira

e o verde da seara

e passam pela eira

em que o sol se pousara

nas gotas do orvalho

luarento e vacilante

refrescam o cansaço

e dormem um instante

 

Pássaros do sul

bando de asas soltas

trazem melodias

p'ra cantar às moças

em noites de romaria

em noites de romaria

 

no adejo da alvorada

oscila a minha mágoa

o céu à desgarrada

irrompe azul na água

e a passarada acorda

no sonhar de um camponês

e entrega-se no sul

do frio que à noite fez

 

é tempo da partida

e a cor no horizonte

adensa a despedida

e o borbotar da fonte

as asas abrem chagas

na poeira o sol acalma

num agitar inquieto

que me refresca a alma

 

pássaros do sul

bando de asas soltas

trazem melodias

pra cantar às moças

em noites de romaria

em noites de romaria

 

Canção de Mafalda Veiga

 

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Jeito de escrever - Irene Lisboa

 

Não sei que diga.

E a quem o dizer?

Não sei que pense.

Nada jamais soube.

 

Nem de mim, nem dos outros.

Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...

Seja do que for ou do que fosse.

Não sei que diga, não sei que pense.

 

Oiço os ralos queixosos, arrastados.

Ralos serão?

Horas da noite.

Noite começada ou adiantada, noite.

Como é bonito escrever!

 

Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto - o jeito.

Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.

No tempo vago...

Ele vago e eu sem amparo.

Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das horas. Mortas!

 

E por mais não ter que relatar me cerro.

Expressão antiga, epistolar: me cerro.

Tão grato é o velho, inopinado e novo.

Me cerro!

 

Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,

solta a outra, de pena expectante.

Uma que agarra, a outra que espera...

Ó ilusão!

E tudo acabou, acaba.

Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?

 

Silêncio.

Nem pássaros já, noite morta.

Me cerro.

Ó minha derradeira composição! Do não, do nem, do nada, da ausência e solidão.

 

Da indiferença.

Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.

Noite vasta e contínua, caminha, caminha.

Alonga-te.

A ribeira acordou.

 

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A MULHER NA LITERATURA PORTUGUESA

 

No Sec. XIX os românticos idealizam muito a mulher ( Dulce, Joaninha, respectivamente em Herculano e Garrett ) mas os autores de transicção para o Realismo ( Camilo, Júlio Dinis) começam a observar atentamente a psicologia feminina.

 

Certas heroínas de Camilo, enérgicas, virís, umas na defesa de um amor puro, outras ( mulheres "fatais" que são) na perfídia com que enredam os apaixonados, traduzem bem a realidade portuguesa; a Mariana do Amor de Perdição é uma figura bem castiça, a um tempo desenvolta, afeita a trabalhos, e capaz de ternura e humilde abnegação no amor.

 

Já diverge bastante o prisma queiroziano, segundo o qual a burguesinha lisboeta ( essa "burguesinha do Catolicismo" que perpassa nos versos de Cesário) é o produto fútil e indefeso de uma educação errada.

 

Depois de Eça de Queiroz, em cuja obra, com audácia sem precedentes, se faz avultar a sensualidade feminina, cada vez as figuras de mulher, na prosa de ficção, suscitam mais detida análise, quer do ponto de vista individual, quer do ponto de vista social.

 

E para essa análise corajosa e reivindicadora notavelmente estão contribuindo as mulheres que cultivam as letras.

 

No século XX e principalmente nas últimas décadas, não só aumentou extraordinariamente o número de escritoras como as suas obras ganharam uma força original, uma independência de observação e de juízo que não têm precedentes, já na poesia, de Florbela Espanca, de Fernanda de Castro, de Sophia de Mello Breyner Andresen etc.

 

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