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Zeca Afonso


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LISTA DE POETAS POR ORDEM ALFABÉTICA DO PRIMEIRO NOME

Esta página pretende ser uma modesta homenagem a esse grande homem que foi José Afonso. Nela iremos escrevendo e trazendo tudo aquilo que pudermos sobre este grande cantor e homem de intervenção.

Menino D'Oiro - Zeca Afonso

 

O meu menino é d'oiro

É d'oiro fino

Não façam caso

Que é pequenino

Não façam caso

Que é pequenino

O meu menino é d'oiro

D'oiro fagueiro

Hei-de levá-lo

No meu veleiro

Hei-de levá-lo

No meu veleiro

Venham aves do céu

Pousar de mansinho

Por sobre os ombros

Do meu menino

Do meu menino

Do meu menino

Venham comigo venham

Que eu não vou só

Levo o menino

No meu trenó

Levo o menino

No meu trenó

 

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No Lago do Breu - Zeca Afonso

 

No Lago do Breu

Sem luzes no céu

Sem bom Deus

Que venha abrasar

Os ateus

No Lago do Breu

No Lago do Breu

A noite não vem

Sem sinais

Que fazem tremer

Os mortais

No Lago do Breu

Mas quem não for mau

Não vá

Que o céu não se compra

Não vejo razão

P'ra ser

Quem teme e não quer

Viver

Sem luzes no céu

Só mesmo como eu

No Lago do Breu

No Lago do Breu

Meninas perdidas

Eu sei

Mas só nestas vidas

Me achei

No Lago do Breu

Mas quem não for mau

Não vá

Que o céu não se compra

Não vejo razão

Pra ser

Quem teme e não quer viver

Só mesmo como eu

No Lago do Breu

No Lago do Breu

A lua nasceu

Mas ninguém

Pergunta quem vai

Ou quem vem

No Lago do Breu

Mas quem não for mau

Não vá

Que o céu não se compra

Não vejo razão

Pra ser

Quem teme e não quer

Viver

Sem luzes no céu

Só mesmo como eu

No Lago do Breu

 

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Menino do Bairro Negro - Zeca Afonso

 

Olha o sol que vai nascendo

Anda ver o mar

Os meninos vão correndo

Ver o sol chegar

Menino sem condição

Irmão de todos os nus

Tira os olhos do chão

Vem ver a luz

Menino do mal trajar

Um novo dia lá vem

Só quem souber cantar

Vira também

Negro bairro negro

Bairro negro

Onde não há pão

Não há sossego

Menino pobre o teu lar

Queira ou não queira o papão

Há-de um dia cantar

Esta canção

Olha o sol que vai nascendo

Anda ver o mar

Os meninos vão correndo

Ver o sol chegar

Se até da gosto cantar

Se toda a terra sorri

Quem te não há-de amar

Menino a ti

Se não é fúria a razão

Se toda a gente quiser

Um dia hás-de aprender

Haja o que houver

Negro bairro negro

Bairro negro

Onde não há pão

Não há sossego

Menino pobre o teu lar

Queira ou não queira o papão

Há-de um dia cantar

Esta canção

 

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Canção do Mar - Zeca Afonso

 

Ó mar

Ó mar

Ó mar profundo

Ó mar

Negro altar

Do fim do mundo

Em ti nasceu

Ó mar

A noite que já morreu

O teu olhar

Ó mar

Ó mar

Ó mar profano

Ó mar

Verde mar

Em que me irmano

Em ti nasceu

Ó mar

A noite que já morreu

No teu olhar

 

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Maria - Zeca Afonso

 

Maria

Nascida no monte

À beira da estrada

Maria

Bebida na fonte

Nas ervas criada

Talvez

Que Maria se espante

De ser tão louvada

Mas não

Quem por ela se prende

De a ver tão prendada

Maria

Nascida do trevo

Criada na trigo

Quem dera

Maria que o trevo

Casara comigo

Prouvera

A Maria sem medo

Crer no que lhe digo

Maria

Nascida no trevo

Beiral do mendigo

Maria

Nascida no trevo

Beiral do mendigo

Maria

De todas primeira

De todas menina

Maria

Soubera a cigana

Ler a tua sina

Não sei

Se deveras se engana

Quem demais se afina

Maria

Sol da madrugada

Flor de tangerina

Maria

Sol de madrugada

Flor de tangerina

 

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Ó Cavador do Alentejo - Zeca Afonso

 

Ó cavador do Alentejo

Quem te viu e quem te vê

Há muito tempo que te não vejo

Cantar sem saber porquê

Ó terras do sossego

Baleizão meu bem querer

Há muito que te não nego

Os meus olhos pra te ver

O povo Catarina o povo

Sem ter pão para comer

E o grão do teu trigo novo

Baleizão a apodrecer

Manhãs de sol no chão sagrado

- Catarina há-de saber -

Ó terras ao campo amado

Quem vos poderá valer

 

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Santa Maria a Sem-Par *-Zeca Afonso

 

Algarve o nome está lembrando

Algarve e a brisa passa a cantar

E as sombras leva-as o vento voltando

Silêncio dizem as ondas do mar

Morenas em bandos sobre açoteias

Janelas abertas sobre um palmar

Já vejo de longe as altas ameias

Já vejo Santa Maria a Sem-Par

Algarve jardim de rosas vermelhas

Algarve brancura de pedra e cal

Cidade dentro dum pátio sem telhas

Dormindo debaixo dum laranjal

Nas praias, dedos de finas areias

Teu nome lembram ao vento a passar

Já vejo de longe as altas ameias

Já vejo Santa Maria a Sem-Par

 

*Não foi gravado. Destinou-se a um festival de canções no Algarve.

 

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Ó Altas fragas da Serra *-Zeca Afonso

 

Ó altas fragas da serra

Donde o penedo caiu

Ninguém diga o que não sabe

Nem afirme o que não viu

Ó altas fragas da serra

Donde a penedo tombou

Ninguém diga o que não sabe

Nem afirme o que inventou

Ó negras sombras tão negras

Que estais em volta a rondar

Coitado de quem no mundo

Passa

A noite e o dia a penar

Ó sombras negras da noite

Ó vento em volta a ventar

Coitado de quem no mundo

Não

Se cansa de procurar

Coitado de quem não vê

Que a noite

Há-de um dia terminar

Tremei o donos da terra

Abri janelas em par

 

* Letra e música glosam uma quadra aprendida na infância.

 

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Coro dos Caídos - Zeca Afonso

 

Cantai bichos da treva e da aparência

Na absolvição por incontinência

Cantai cantai no pino do inferno

Em Janeiro ou em Maio é sempre cedo

Cantai cardumes da guerra e da agonia

Neste areal onde não nasce o dia

Cantai cantai melancolias serenas

Como trigo da moda nas verbenas

Canta cantai guisos doidos dos sinos

Os vossos salmos de embalar meninos

Cantai bichos da treva e da opulência

A vossa vil e vã magnificência

Cantai os vossos tronos e impérios

Sobre os degredos sobre os cemitérios

Cantai cantai ó torpes madrugadas

As clavas os clarins e as espadas

Cantai nos matadouros nas trincheiras

As armas os pendões e as bandeiras

Cantai cantai que o ódio já não cansa

Com palavras de amor e de bonança

Dançai ó Parcas vossa negra festa

Sobre a planície em redor que o ar empesta

Cantai ó corvos pela noite fora

Neste areal onde não nasce a aurora

 

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Ó Vila de Olhão - Zeca Afonso

 

Ó vila de Olhão

Da Restauração

Madrinha do povo

Madrasta é que não

Com papas e bolos

Engana o burlão

Os que de lá são

E os que pra lá vão

E os que pra lá vão

E os que pra lá vão *

Ó flor da trapeira

Ó rosa em botão

Tuas cantaneiras

Bem bonitas são

Larga ó pescador

O que tens na mão

Que o peixe que levas

É do teu patrão

É do teu patrão

É do teu patrão

Limpa o teu suor

No camisolão

Que o peixe que levas

É do cais de Olhão

Vem o mandarim

Vem o capitão

Paga o pagador

Não paga o ladrão

Não paga o ladrão

Não paga o ladrão

Ó vila de Olhão

Da Restauração

Madrinha do povo

Madrasta é que não

Quem te pôs assim

Mar feito num cão

Foi o tubarão

Foi o tubarão

Foi o tubarão

Mulher empregada

Diz o povo vão

Que aquela empreitada

Não dá nada não

Ó vila de Olhão

Da Restauração

Madrinha da povo

Madrasta é que não

Madrasta é que não

Madrasta é que não

Ó pata descalça

Deixa-me da mão

Que os da tua raça

Já não pedem pão

Passa mais um dia

Todos lembrarão

Passa mais de um ano

Já não pedem pão

Ó vila de Olhão

Da Restauração

Madrinha do povo

Madrasta é que não

 

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Les Baladins-Zeca Afonso

 

Les baladins

Sont venus un jour

Les trompettes et les tambours

Il y a des matelots des gamins

Aux coins des faubourgs

Vite venez

Venez mes enfants

Courez courez sans détour

Le brave jongleur va devant

Dites-lui bonjour

E i opa aiê

E i opa aiê

Sur cette ronde

Qui tombe tombez

Avec les singes

E i opa aiê

Ip ip aiê

Ip ip aiê

Nous n'avons rien

Et nous avons tout

C'est ce que dit le tambour

Il y a des tapis dans les champs

Les raisins sont murs

Pour vous donner

Nous avons volé

Des fruits de Mai bien dorés

Par les avenues des jardins

On les a gardés

E i opa aiê

E i opa aiê

Sur cette ronde

Qui tombe tombez

Avec les singes

E i opa aiê

Ip ip aiê

Ip ip aiê

Quand les citrons

Se laissent manger

Nos compagnons attendez

Les ours qui viennent

Puis on va danser

Vous allez voir

Cet après-midi

Un brigand un feu maudit

La belle qui dort enchantee

Puis on va danser

E i opa aiê

E i opa aiê

Sur cette ronde

Qui tombe tambez

Avec les singes

E i opa aiê

Ip ip aiê

Ip ip aiê

 

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Por aquele caminho-Zeca Afonso

 

Por aquele caminho

De alegria escrava

Cai um caminheiro

Com sol nas espáduas

Ganha o seu sustento

De plantar o milho

Aquece-o a chama

Dum poder antigo

Leva o solitário

Sob os pés marcado

Um rasto de sangue

De sangue lavado

Levanta-se o vento

Levanta-se a màgoa

Soltam-se as esporas

Duma antiga chaga

Mas tudo no rosto

De negro nascido

Indica que o negro

É um espectro vivo

Quem lhe dá guarida

Mostra-lhe a pintura

Duma cor que valha

Para a sepultura

Não de mão beijada

Para que não viva

Nele toda a raiva

Dessa dor antiga

Falta ao caminheiro

Dentro d'algibeira

Um grão de semente

D'outra sementeira

O sol vem primeiro

Grande como um sino

Pensa o caminheiro

Que já foi menino

 

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Vampiros - Zeca Afonso

 

No céu cinzento

Sob o astro mudo

Batendo as asas

Pela noite calada

Vem em bandos

Com pés veludo

Chupar o sangue

Fresco da manada

Se alguém se engana

Com seu ar sisudo

E lhes franqueia

As portas à chegada

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

A toda a parte

Chegam os vampiros

Poisam nos prédios

Poisam nas calçadas

Trazem no ventre

Despojos antigos

Mas nada os prende

Às vidas acabadas

São os mordomos

Do universo todo

Senhores à força

Mandadores sem lei

Enchem as tulhas

Bebem vinho novo

Dançam a ronda

No pinhal do rei

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

No chão do medo

Tombam os vencidos

Ouvem-se os gritos

Na noite abafada

Jazem nos fossos

Vítimas dum credo

E não se esgota

O sangue da manada

Se alguém se engana

Com seu ar sisudo

E lhes franqueia

As portas à chegada

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

 

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Pombas - Zeca Afonso

 

Pombas brancas

Que voam altas

Riscando as sombras

Das nuvens largas

Lá vão

Pombas que não voltam

Trazem dentro

Das asas prendas

Nos bicos rosas

Nuvens desfeitas

No mar

Pombas do meu cantar

Canto apenas

Lembranças várias

Vindas das sendas

Que ninguém sabe

Onde vão

Pombas que não voltam

 

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Balada do Outono - Zeca Afonso

 

Águas

E pedras do rio

Meu sono vazio

Não vão

Acordar

Águas

Das fontes

calai

Ó ribeiras chorai

Que eu não volto

A cantar

Rios que vão dar ao mar

Deixem meus olhos secar

Águas

Das fontes calai

Ó ribeiras chorai

Que eu não volto

A cantar

Águas

Do rio correndo

Poentes morrendo

P'ras bandas do mar

Águas

Das fontes calai

Ó ribeiras chorai

Que eu não volto

A cantar

Rios que vão dar ao mar

Deixem meus olhos secar

Águas

Das fontes calai

Ó ribeiras chorai

Que eu não volto

A cantar

 

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Minha mãe - Zeca Afonso

 

Ó minha mãe minha mãe

Ó minha mãe minha amada

Quem tem uma mãe tem tudo

Quem não tem mãe não tem nada *

Quem não tem mãe não tem nada

Quem a perde é pobrezinho

Ó minha mãe minha mãe

Onde estás que estou sozinho

Estou sozinho no mar largo

Sem medo à noite cerrada

Ó minha mãe minha mãe

Ó minha mãe minha amada

 

* Quadra popular

 

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Altos Castelos *-Zeca Afonso

 

Altos castelos de branco luar

Linda menina que vai casar

Torres cinzentas que dão para o vento

Dentro do meu pensamento

Eu lá na serra não sou ninguém

Se fores prà guerra eu irei também

Irei também numa barca bela

Cinta vermelha e saia amarela

Na praia nova caiu uma estrela

Moças trigueiras ide atrás dela

Rola rolinha garganta de prata

Canta-me uma serenata

Eu lá na serra não sou ninguém

Se fores prà guerra eu irei também

Irei também numa barca bela

Cinta vermelha e saia amarela

Um cavalinho de crina na ponta

Leva à garupa uma bruxa tonta

Duas meninas a viram passar

Mesmo à beirinha do mar

Eu lá na serra não sou ninguém

Se fores prà guerra eu irei também

Irei também numa barca bela

Cinta vermelha e saia amarela

 

* Depois de ler Irene Lisboa.

 

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O Pastor de Bensafrim - Zeca Afonso

 

Ó ventos do monte

Ó brisas do mar

A história que vou contar

Dum pastor Florival

Meu irmão de Bensafrim

Natural rezava assim

Passava ele os dias

No seu labutar

E os anos do seu folgar

Serras vai serras vem

Seu cantar não tinha fim

O pastor cantava assim

Ó montes erguidos

Ó prados do mar em flor

Ó bosques antigos

Trajados de negra cor

Voa andorinha

Voa minha irmã

Não te vás embora

Vem volta amanhã

Dizei amigos

Dizei só a mim

Todos só de um lado

Quem vos fez assim

Dizei-me mil prados

Campinas dizei

A história que não contei

Serras vai serras vem

O seu mal não tinha fim

O pastor cantava assim

Ó montes erguidos

Ó prados do mar em flor

Ó bosques antigos

Trajados de negra cor

Voa andorinha

Voa minha irmã

Não te vás embora

Vem volta amanhã

Dizei amigos

Dizei só a mim

Todos só dum lado

Quem vos fez assim

Seu bem que ele vira

Num rio a banhar

Ao vê-lo vir espreitar

Nunca mais apareceu

Ao pastor de Bensafrim

Sua dor chorava assim

Ó montes erguidos

Ó prados do mar em flor

Ó bosques antigos

Trajados de negra cor

Voa andorinha

Não te vás embora

Vem volta amanhã

Dizei amigos

Dizei só a mim

Todos só dum lado

Quem vos fez assim

 

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Ronda dos Paisanos - Zeca Afonso

 

Ao cair da madrugada

No quartel da guarda

Senhor general

Mande embora a sentinela

Mande embora e não lhe faça mal

Ao cair do nevoeiro

Senhor brigadeiro

Não seja papão

Mande embora a sentinela

Mande embora a sua posição

Ao cair do céu cinzento

Lá no regimento

Senhor coronel

Mande embora a sentinela

Mande embora e deixe o seu quartel

Ao cair da madrugada

Depois da noitada

Senhor capitão

Mande embora a sentinela

Mande embora o seu guarda-portão

Ao cair do sol nascente

Venha meu tenente

Deixe a prevenção

Mande embora a sentinela

Mande embora e tire o seu galão

Ao cair do frio vento

Primeiro sargento

Junte o pelotão

Mande embora a sentinela

Mande embora e cale o seu canhão

Ao cair do sol doirado

Venha meu soldado

Largue o seu punhal

Vá-se embora sentinela

Vá-se embora que aí fica mal

Vá-se embora sentinela

Vá-se embora que aí fica mal

 

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A Lucidez Perigosa

Clarice Lispector

 

Estou sentindo uma clareza tão grande

que me anula como pessoa actual e comum:

é uma lucidez vazia, como explicar?

assim como um cálculo matemático perfeito

do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer

vendo claramente o vazio.

E nem entendo aquilo que entendo:

pois estou infinitamente maior que eu mesma,

e não me alcanço.

Além do que:

que faço dessa lucidez?

Sei também que esta minha lucidez

pode-se tornar o inferno humano

- já me aconteceu antes.

Pois sei que

- em termos de nossa diária

e permanente acomodação

resignada à irrealidade -

essa clareza de realidade

é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,

porque ela não me serve

para viver os dias.

Ajudai-me a de novo consistir

dos modos possíveis.

Eu consisto,

eu consisto,

amém.

 

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