Amor e Ódio (1998)
Genocídio Italiano Giuseppe Garibaldi
Fronteiras Meridionais Idéias deUm "Apelido"
Total Abrazo Poesia
-
- Garibaldi
Bolivar em espanhol
Genio a Ferro e Fuoco
G. D'Annunzio
Ballet Folklore da Ucrânia
Un Simple Accidente
La Botte
Milagres em Santiago de Compostela
Erros Jurídicos no Processo de Jesus
Meridiano da Tertúlias- Fernando Pessoa
Conto:
O Homem da Jaqueta Plástica
O
Culto das Águas Portugal
Ancona - Perfume de Virtudes Italianas
Amazônia e a cobiça internacional
Contos:
O Tonel
"O
Complexo de Sandra" "O Cérebro"
Admirável Virtude Oculta dos Números
Ausencia Poesias
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- O Sebastien está muito mo-dificado. Envelheceu
vários anos em semanas e tem um tique nervoso. Puxa, constan-temente,
o canto dos lábios. É muito diferente daquele que conheci ha anos, nos
tempos de colégio. Frequentávamos a mesma classe, e êle se destacava pelo
exage-rado amor aos estudos. Diferenciava dos demais por uma educação
adquirida. Filho de operários, gente rústica, sem instrução, foi com muito
esfôrço que conseguiu elevar-se do ambiênte que nasceu.
- Usou
o caminho do es- tudo, da leitura do esfôrço próprio, O mais difícil,
disse-me êle, foi reconhecer que aquilo que os seus ti-nham, por certo
era errado, as maneiras que seus pais usavam na mesa, e a tô-da hora,
não era o desejável. Comprou um livro de boas maneiras, e pôs-se a observar
o modo de agir das pessoas civilizadas. Depois passou ao aprimoramento
do intelecto. Teve a sorte de encontrar um bondoso frade, frei Ni-codim
que o adotou, mas nunca pretendeu arregimentá-lo a vida religiosa. E'
verdade que vontade não lhe faltou, mas, perce-beu que seria inútil qualquer
tentativa, pois Sebastien era por demais sequioso de novas experiências
para se deixar le-var pela vida claustral. Preparou-o para matricular-se
no colégio onde o co-nheci.
- Era
um "boulevardier". Passava, muito bem por um rapaz refi-nado.
As femininas disputavam a sua companhia, e constantemente freqüentava
festas, bailes e recepções.
Não era belo. Porém a candura, o brilho extremamente inteligente de seus
olhos faziam-no agradável a qualquer pessoa. No entanto as mulheres deixavam-se
prender por per-ceberem que Sebastien era virgem.
- Vir-gem
de corpo e alma. Embora conheces-se perfeitamente as possibilidades dos
prazeres do corpo, parecia reservar-se para alguma mulher determinada,
especial. Confidente de muitas delas e de muitos amigos, jamais chegou
a ser indiscreto. Era reservado.
Foi por isto que fiquei surpreso, quando êle me procurou naquela tarde:
- -
Estou noivo ! - Declarou.
- Ah!
- Encontrei aquela a quem bus-cava. (E, pela primeira vez, e talvez a
última de sua vida fez um desabafo). E' linda. Você precisa ver que candura,
que cultura. E', loira, não é muito bonita é verdade, mas o que importa
é o inte-rior, e não conheço ninguém que tenha a alma tão pura quanto
a dela. Como é compreensiva! Desde o primeiro momento tive a im-pressão
que a conhecia desde há muito. E' minha alma gemea.
- Você ficou louco !
- Não brinque, Michel. É sério
- Amanhã
será a festa de meu noivado. Ela mora em Paris, apesar do pouco tempo
do nosso namo-ro, os pais já consentiram e marcaram o dia de amanhã para
a festa de noivado.
Michel estou apaixonado.
- -
Felicidades. Desejei com um encolher d'ombros.
No dia 'seguinte Sebastien depois de arrumar-se, demoradamente, e dar
mais uma lida no livro de boas maneiras (que era a sua biblia) ensaiando,
como se estivesse àmesa, apertou-me a mão. Partiu.
- O
Sebastien que encontro agora é muito diferente daquele que ví há duas
semanas. Onde êle andou neste lapso de tempo. não sei. Na pensão nin-guém
pôde me informar, e como êle não tem parente algum, fiquei sem saber o
que houve na festa de noivado. Imaginei que inadverti-damente cometeu
alguma gafe, e, enver-gonhado teve de cancelar a visita. Foi a muito cus-to
que consegui arrancar-lhe tôda a his-tória daquela festa.
- Foi
bem recebido. Seu pedido foi aceito. Conversou longamente com os progenitores
da moça na sala de es-tar, enquanto o jantar era preparado.
Depois do jantar, o pai da moça acendeu um charuto e puseram-se, nova-mente,
a conversar. Enquanto isto o re-lógio da parede tiquetaqueava. A noite
ficou mais escu-ra. Choveu.
- -
Definitivamente, meu caro Sebastien - disse o pai da noiva - você não
poderá sair com o tempo desta ma-neira. Terá de ficar.
- Mas...
- Não há mas nenhum. Você fi-cará no quarto do meu filho que se acha em
viagem. Pode usar o pijama dêle. Creio que servirá.
- Diante
da ordem, Sebastien não teve alternativa. Mas aquela situação não estava
prevista na livro de boas maneiras. Como have-ria de agir? Achou conveniente
deitar-se o mais cedo possível. Pediu licença e di-rigiu-se ao quarto.
Dormiu incontinente. Acordou no amanhecer sobressaltado. Sentia dores
no estômago. Lembrou-se, com uma careta, de tudo que havia comido na véspera.
Havia se fartado,. Porco, frango, salada, regada à óleo estrangeiro, ma-carronada,
vinho, doces - e tudo aquilo já estava digerido. Eram os resíduos da-quela
comilança que davam um nó nos seus intestinos. Precisava ur-gentemente
ir ao banheiro.
- Mas
onde ficava o banheiro? E se o pai da moça o visse vagando, de ma-drugada,
pela casa. Poderia pensar que ele era sonâmbulo, ou que estava saindo
do- quarto da filha. Com os dentes cerrados amaldiçoou o autor do livro
de boas maneiras que não previra aquela situação. Estabeleceu que de maneira
alguma procuraria o banhei-ro. Haveria de fazer muito barulho - a fechadura
faria alarde, a porta rangeria, e o ruído da descarga da privada pare-ceria
um tiro de canhão, dentro da ma-drugada. Tinha de resolver o assunto ali
mesmo - dentro do quarto. Espiou de-baixo da cama. Suspirou aliviado.
En-controu um pequeno vaso sanitário. Era a salvação. Momentos depois
as cores já haviam voltado às suas faces.
- Mas
não conseguiu pegar no sono. Agoura tinha outro problema que não estava
previsto no livro de boas ma-neiras. Que faria com o vaso sanitário? Que
faria com todo aquele excremento?
- Deitado
na cama pôs-se a olhar pela claridade que vinha de janela. De repente
ocorreu-lhe uma idéia. A janela! Tentou abri-la, mas a bandeira de baixo
estava pregada nos caixilhos. Com al-gum custo conseguiu descer a de cima.
Espiou pela abertura. Aquela janela da-va justamente para um terreno baldio.
Era a salvação.
Pegou na alça do vaso, mirou cui-dadosamente a abertura da janela e ar-remessou.
Mas fez a coisa com muita força. O excremento em quase sua tota-lidade,
foi grudar-se estalando nas paredes e no této do quarto. Sebas-tien, aterrorizado,
soluçando vestiu as calças, pôs a camisa, pulou a janela e desapareceu.
(PARIS
- 1.969) Clichy
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