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Seguidamente surgem na imprensa artigos lamentando, com inteira razão, o estado deplorável de grande parte de nossas ferrovias. Alguns culpando governantes de anos recentes pelo atraso existente em nossa terra nos transportes realizados sobre os trilhos. Enquanto na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, principalmente, o transporte ferroviário constitui importante fator de progresso, aqui o transporte ferroviário se apresenta decadente. Num desses dias um articulista censurou acerbamente o governo de Juscelino, acusando-o de ter dado prioridade ao transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário. Muitos leitores desprevenidos, lendo esses escritos lamuriantes e superficiais, certamente irão acreditar que foi Juscelino que fulminou nossas ferrovias, quando em verdade o golpe profundo e impatriota foi desferido muitos anos antes. Vejamos. Durante o Império, o governo de Dom Pedro II construiu as primeiras linhas telegráficas e a primeira estrada de ferro no Brasil. Foi a Central do Brasil, concebida para funcionar com a bitola (largura da via férrea) de 1,60m. Na época o telégrafo e a ferrovia eram considerados os empreendimentos mais relevantes impulsionadores do desenvolvimento. Dom Pedro II era um monarca inteligente, trabalhador e amava o Brasil. Pretendia construir todos os ramais ferroviários em nosso território com uma única bitola para que as composições circulassem em todas as direções sem interrupções. Teria realizado esse portentoso intento se não tivesse sido solapado por forças anti-nacionais que aliciavam brasileiros em nome da mudança do Reinado para a República. Nos bastidores da política se desenvolvia um embate comercial potente que o povo não percebia. Por meio de golpe de Estado Dom Pedro II foi destronado e encaminhado ao exílio. Para entender com exatidão o sentido desse golpe ferino nas instituições vigentes é imperioso dirigir o olhar para o que estava acontecendo no resto do Mundo. Os Estados Unidos e a Inglaterra, quando começaram a construir suas primeiras estradas de ferro, permitiram que fossem feitas muitas linhas férreas com diferentes tipos de bitola. Depois de algum tempo verificaram que a diversidade de bitolas impedia o desenvolvimento ferroviário, tornando o frete muito oneroso. Resolveram, então, corrigir o erro unificando a bitola. E o que fazer com as locomotivas e vagões existentes com tantas bitolas? Resolveram pintar e retocar os materiais que estavam sendo substituídos e vendê-los aos desprotegidos países latino-americanos, México, Brasil e Argentina etc., por preços exorbitantes compensando a fabricação de composições novas e mais aperfeiçoadas. Dom Pedro II se opunha à compra do rebotalho recauchutado em razão da diversidade de bitolas. Foi destituído por golpe traiçoeiro arquitetado por forças poderosas "ocultas" que espreitavam na calada para consumar negócio milionário com a venda de material ferroriário anacrônico. Teria sido fácil a Dom Pedro II continuar "reinando" mediante a entrega do Brasil, como fizeram, recente, os que ajudaram a criar essa dívida externa criminosa e os que, fingindo privatizar, doaram o patrimônio nacional. Que pode compor a alma de um cidadão ciente de que está traindo a Pátria, seus amigos, seus irmãos, seus descendentes? Dom Pedro II não tinha a linhagem de Calabar. Resistiu e foi deposto. Resultado: a malha ferroviária nacional foi preenchida com materiais obsoletos e de diferentes bitolas, constituindo-se em monumental retalho oneroso e imprestável. Uma mercadoria, por exemplo, que fosse remetida do Rio para Porto Alegre ou para cidades da fronteira tinha que fazer inúmeras baldeações demoradas e caras, para chegar ao destino. O mesmo ocorria quando se desejava enviar produtos para Belo Horizonte ou para Salvador ou para o Norte. Uma ferrovia com essa deficiência crônica não oferecia serventia e foi se atrofiando. Ao assumir a Presidência da República Juscelino chegava com a idéia de executar um governo capaz de progredir 50 anos em 5. Para realizar essa façanha necessitava de boas estradas para escoamento da produção agrícola e industrial. Verificou, desde logo, que não poderia contar com o sistema ferroviário existente. Seu tempo era curto e o problema ferroviário exigia grandes investimentos que não dispunha. Partiu resoluto para construção de estradas rodiviárias. Asfaltou Rio-Porto Alegre; construiu Belo Horizonte- Brasília; retificou e asfaltou Rio-Salvador; construiu Brasília-Belém, etc. No terreno ferroviário deixou funcionando a fábrica de locomotivas e vagões: a Mafersa, que o governo desalmado FHC desativou. Hoje já não estamos construindo locomotivas no Brasil. Nas composições do Metrô do Rio de Janeiro existiam placas com os dizeres: "Construido pela Mafersa". A proclamação da República não foi, como muita gente pensa, um golpe perpetrado por idealismo. Nos bastidores fervilhava jogo de interesse econômico alienígeno multimilionário. Logo após a quartelada, Mauá, segundo consta, autorizou a compra do ferro-velho de procedência estrangeira, com diferentes bitolas que tornaram oneroso e moroso nosso sistema ferroviário. A punhalada infame atingiu mais profundamente o Brasil do que a Dom Pedro II. Certa vez um europeu, em declarações públicas, disse ser o povo brasileiro ingrato, mal-agradecido, leviano, tendo escorraçado o bem-feitor que deu independência ao Brasil, Dom Pedro I. A bem da verdade não foi o povo brasileiro que enxotou Dom Pedro I. Foi uma camarilha mancomunada com forças hegemônicas alienígenas que, já naquela época, atuavam em diferentes países da América Latina. Utilizaram a imprensa amestrada (Helio Fernandes) para coonestar a canalhice praticada e difamar Dom Pedro I, apontando-o como sendo devasso e mulherengo. Convenhamos: devasso e assassino foi Henrique VIII da Inglaterra, e nenhum inglês intentou violentar o regime monárquico britânico para destroná-lo. O Brasil tem sido vítima indefesa de golpes traiçoeiros contra o Estado programado por "forças ocultas", como dizia Jânio Quadros. Aliás, forças não tão ocultas... Ney Bassuino Dutra é economista
A incompetência do Império continuou a mesma na República Jornalista Helio Fernandes 1- No desenrolar deste meu artigo anexo (Transporte Ferroviário), estou expondo o motivo comercial milionário que impulsionou o golpe de Estado de 1889 (República). A fortuna em jogo (venda do material ferroviário ao Brasil) contabilizou mais alto do que o patriotismo de Floriano e Deodoro. Esta é a minha versão sobre a quartelada que derrubou a Monarquia no Brasil e abriu caminho para a realização da negociata ferroviária vergonhosa. 2 - Juscelino, anos depois, entregou a indústria automobilística às multinacionais. O Brasil, no governo JK, já possuía um parque industrial capaz de fundir o bloco do motor e produzir um automóvel, de início, 85% nacional. Mas, segundo confidenciou Lucio Meira, então ministro dos Transportes, a pressão de uma potência estrangeira sobre o governo JK era terrível. Juscelino foi forçado a deixar às multinacionais o setor automotivo para concentrar-se na complementação que entendia ser mais importante: a siderurgia (Cosipa e Usiminas) e a indústria de energia elétrica (Furnas e Três Marias). Acredito que essa explicação dada por Lucio Meira era verdadeira.
Juscelino cometeu alguns deslizes, porém perdoáveis. Tudo que fez foi
imaginando ser o melhor para o Brasil. Foi sempre um patriota sofrendo
perseguição implacável da parte de setores antinacionais, sobretudo depois
de 1964. Este é o meu ponto de vista, respeitando a crítica que V. Sa.
faz a respeito de Brasília. Interessante a tua tese, Ney, mas não foi o único fator a derrubar a Monarquia. É evidente que os contratos de 99 anos, que começaram com o setor ferroviário, foram desastrosos. Mas a história do Brasil está cheia de negociatas e concessões vergonhosas. Por isso estamos com 504 anos de atraso, o crescimento é puramente vegetativo. Juscelino, como você mesmo reconhece, D-O-O-U (muito antes de FHC aparecer) toda a riquíssima e poderosa indústria automobilística. E já estávamos em plena República. O movimento contra a Monarquia e pela República teve seu início em 1860 em Itu (interior de São Paulo). Surgiam os Propagandistas, que se aliaram aos Abolicionistas (veja que são quase os mesmos) e lançaram imediatamente o jornal diário "A República". Dirigido pelo depois senador Saldanha Marinho. Levaram 29 anos para saírem vitoriosos, perdão, serem derrotados por 2 marechais, que juraram fidelidade ao imperador. Até mais ou menos 1940 tivemos um sistema ferroviário bem razoável. Mas como todos os grupos eram multinacionais, só se interessavam por lucros, abandonaram os investimentos (mesmo com o dinheiro ganho aqui), as ferrovias apodreceram. Depois, demos prioridade total ao automóvel e ao avião, desprezamos os trens e a navegação por mares e rios, IMPORTANTÍSSIMOS. Isso nos levaria longe, e teríamos que culpar todos os que dominaram o Brasil nos 504 anos a partir da descoberta. São tantos os fatores que levaram à República, que poderíamos levar dias e dias escrevendo. O povo não soube de nada, não é por aí que encontraremos qualquer resposta. No dia seguinte, Aristides Lobo, já ministro da Justiça da República, encontrou um repórter do "Jornal do Commercio" (então o maior do País) que lhe perguntou: "Como o povo recebeu a República?". E Aristides Lobo, sem hesitação: "O povo soube de tudo BESTIALIZADO". Ele abandonava a palavra BESTIFICADO, mais comum. Foi a manchete do jornal no dia seguinte. Impulsionando a República, influenciando e minando a Monarquia, a estranha Guerra do Paraguai. E principalmente o favorecimento e o privilégio em terras e em dinheiro aos militares. Pelo Império e pela República. Isso provocou o caos terrível, a situação ficou incontrolável. Por causa disso, a República nasceu militar, militarista e militarizada e viveu assim o tempo inteiro. Destruímos tudo, nesses quase 116 anos de República. Não havíamos construído nada no Império. Nos últimos 43 anos (da Constituição de 1846 à derrubada), o Império teve 46 gabinetes. Era impossível fazer alguma coisa. Os mesmos personagens trocavam de cargos, alguns foram ministros 8, 9, 10 vezes. E se não fizeram nas primeiras vezes, não fariam depois. PS - Em 1896 Prudente de Moraes teve que renegociar a "dívida" que assumimos com a "independência" que nunca tivemos. Como garantia, os Rothschilds pediram a Central do Brasil (ferrovia) e as 19 alfândegas que existiam. Prudente expulsou-os da sala e do Brasil. PS 2 - Depois de Prudente veio Campos Salles, que foi a Londres em 1900, andou de carro aberto com os Rothschilds, "renegociou a dívida". PS 3 - Juscelino foi tão ruim quanto os outros. Com a agravante de Brasília, I-R-R-E-V-O-G-Á-V-E-L. Podemos refazer os transportes. Mas R-E-F-A-Z-E-R Brasília? Jamais. Nota da Redação : Esta matéria nos foi cedida pelo intelectual J.E.Bruno, a quem admiramos muito. O Diretor do JORNAL DOS MUNICÍPIOS, foi exonerado da ESTRADA DE FERRO SOROCABANA, "por motivos políticos" por ser Redator Chefe da revista ILUSTRAÇÃO, POR LUTAR PELA DEMOCRACIA , NOS ANOS QUE ANTECEDERAM O GOLPE DE l.964. A perseguição política persiste até hoje. Escreva-nos: jornaldosmunicipios@ig.com.br |