|
|
...Há 38 anos atrás... Noite do dia 15 de junho de 1967, São 21h10. Na Base Aérea de Belém, um grupo de 25 militares, um índio da tribo Betami e um funcionário do extinto Serviço de Proteção ao Índio (atualmente FUNAI), receberam ordem de embarcarem na aeronave C-47 2068 com destino ao destacamento militar (FAB) de Cachimbo. O objetivo era defender aquela pequena unidade militar ,situada no Estado do Pará, em uma das regiões mais inóspitas da selva amazônica. Que por noticia dos altos escalões militares da FAB, encontrava-se na iminência de ser atacada por um grupo de índios hostis. O C-47 2068 era uma aeronave utilizada pelo Correio Aéreo Nacional (CAN), pertencia ao 1o/2o Gav e possuía uma tripulação experiente, acostumada a missões arrojadas na selva amazônica. Aquela tarefa de auxilio aos companheiros do Destacamento de Cachimbo, embora especial e urgente, deveria ser apenas mais uma missão. A rota traçada inicialmente ,descrevia uma decolagem da Base Aérea de Belém ,com destino a Jacareacanga, onde deveria ali pernoitar até o dia 16 de junho, quando só então, às 06h30, a aeronave estaria autorizada a prosseguir a viagem para Cachimbo. “... a tomada de Cachimbo poderia ser uma manobra de guerrilha”. A noticia da investida de silvícolas contra o Destacamento de Cachimbo não estava esclarecida . Vivia-se naqueles idos de 67, momentos atribulados na política e na sociedade brasileira. Grupos descontentes com o governo (então vigente) se organizavam na clandestinidade e encetavam as primeiras ações terroristas no Brasil. Pairava no ar suspeita de que tomada de Cachimbo poderia ser uma manobra de guerrilha. Esta suspeita, provavelmente fez com se emitisse o radiograma no qual continha a ordem para que o 2068 decolasse para Cachimbo imediatamente. A lógica e a experiência da tripulação, aliados às fortes chuvas e ventos daquela noite desaconselhavam o vôo noturno sobre a floresta amazônica. A ordem de decolagem, todavia, era peremptória, impondo-se, que fosse acatada sem qualquer possibilidade de argumentação. Por volta das 21h00, o 2068 (AVIÃO DOUGLAS DC-3-DE FABRICAÇÃO AMERICANA)alçou seu vôo, imponente ronco dos motores, rasgando a noite, levando em seu bojo a preciosa carga de 25 vidas humanas. Somente cinco desses homens, no entanto, voltariam para os seus lares. Conforme seria descrito mais tarde pelo relatório do acidente, estimava-se que o tempo de vôo no trecho Jacareacanga-Cachimbo seria de uma hora e quarenta e cinco minutos. Esperava-se, portanto, que o pouso em Cachimbo ocorresse às 22h45. Às 23h28, do dia 16 de junho, o C-47 2068 informou ao destacamento de Cachimbo, via fonia, estar em pane total de rádio-compasso, (um sistema que orienta a rota do avião, e que orienta a rota do avião), e que estimava encontrar-se a 30 minutos do pouso naquele aeródromo. Informou ainda, que estaria voando na tentativa de interceptar Cachimbo visualmente. Esgotando o tempo previsto para aterrissagem. Deparou-se a tripulação com uma densa camada de nuvens que impedia a localização visual do aeródromo de Cachimbo. Começava ali vôo cego e o crepúsculo daquela aeronave. Trinta e sete minutos depois daquele contato, o C-47 2068 informava terem sido infrutíferas as tentativas para chegar ao destacamento de Cachimbo. O Comandante da aeronave, naquele instante, possuía duas opções: rumar para o leste e aguardaria o nascer do sol ou retornaria a Jacareacanga, alternativas, que afinal preferiu, simplesmente porque assim manter-se –ia próximo ao objetivo da missão, ou seja, defender o destacamento de Cachimbo. Naquela altura dos acontecimentos, a aeronave possuía autonomia de quatro horas de vôo, tempo suficiente, portanto, para o retorno seguro à Jacareacanga. No interior do 2068, em meio à escuridão da selva, a tripulação se empenhava em descobrir o rio Tapajó, um ponto conhecido que certamente serviria para uma reorientação. Foram desperdiçados inutilmente nessa tentativa, precioso trinta e três minutos. Cientes de que estava perdido, o Douglas-DC-3 C-47 2068 estabeleceu um novo contato com o controle de Jacareacanga, informando que tentava regressar aquele destacamento e, como não conseguia se orientar, solicitou que se emitisse uma ordem para que a aeronave C-47 2068, que sabia estar ali pousada, fizesse um vôo sobre o campo, com os faróis acessos, o que foi feito à 01h00, numa altitude abaixo de 2000 pés. O 2068 gastou mais duas horas de seu tempo vital tentando avistar as luzes dos faróis do C-47 2068. A tentativa, todavia, foi inteiramente inútil, pois não conseguia se orientar. Às 02h35, os 2068 informou que voava rumo a 330o com disponibilidade de combustível para três horas de vôo, visava assim atingir Manaus. Embora, naquele instante tenha o piloto do 2068 relatados que a situação a bordo da aeronave mantinha-se dentro da normalidade, o Comando do SAR, em Belém, já considerava iniciada a coordenação de uma possível missão de busca. Voando as cegas na imensidão do espaço, mas já cientes da gravidade de sua situação, o 2068 emite um pedido drástico, no sentido de que a estação de Manaus acionasse os aviões que estivessem pousando em Ponta Pelada para que tentassem intercepta-lo. Pelo espírito de aventureiro e a camaradagem, os aeronavegantes não tardaram em atender aquele apelo, e todos os que puderam desprezaram o perigo para irem em auxilio do 2068, mas ninguém o avistava, O inevitável estava por vir. -Passadas quase oito horas desde o momento
de sua decolagem, o 2068 agonizava... Ultimadas as medidas para o pouso de emergência, as 04h52 cessaram-se as comunicações com o 2068, que já naquele instante rumava para os braços da selva, um corpo verde musgo na escuridão da noite, o tumulto de tantos que ousavam integra-lá de fato ao território brasileiro. No interior do 2068, relataria posteriormente um dos sobreviventes, o clima era ordeiro, mas de apreensão ao mau tempo. A tripulação, considerando que estava esgotado todos os esforços para chegar ao seu destino inicial ou retornar a unidade militar de onde pudesse realizar um pouso de emergência. Eram precisamente quatro horas e dez minutos daquela terrível madrugada do dia 16, quando o comandante do 2068 anunciou a descida de emergência. A noticia soou como um chicote vibrando no ar, mesmo assim não houve pânico. Estavam todos circunspetos. Do lado de fora nada se via, a madrugada era chuvosa e envolvida numa profunda escuridão. De repente a aeronave começou a sacudir. Segui-se um enorme estrondo e tudo começaram a se misturar, ferro, folhas, troncos, latas copos, sangue e lama. Mais tarde, o relatório do acidente concluiria que o 2068, na tentativa de pouso sem visibilidade, chocou-se inicialmente com árvores de grande porte, mergulhando em seguida para colidir com outras árvores. A aeronave estacionou e fez um terrível silencio rompidos minutos depois por alguns gemidos e o crepitar de labaredas que principiavam um incêndio, o qual não se alastrou para a floresta ,devido as fortes chuvas que faziam presentes. Em conseqüência do impacto, a cabine do comandante foi totalmente esmagada e destruída, mas no meio dos destroços sete militares lutavam para sobreviver, embora estivessem todos machucados. Já ali naquele instante, dezoito de seus tripulantes faleceram imediatamente, por canta de lesões e queimaduras causadas pela queda do avião. Os sobreviventes foram emergindo um a um: Sargento Botelho, Sargento Barbosa, Tenente Velly, Capitão Paulo Fernandes, Cabo Barros, Cabo Calderara e o soldado Brito. Além dos várias escoriações, todos possuíam, coincidentemente, graves feridas nas pernas. Assim arrastou-se para o que restou da cauda do avião buscando um precário abrigo. DE REPENTE A AERONAVE COMEÇOU A SACUDIR Alguma lata de conservas calcinada pelo fogo foi o único alimento que puderam recolher. O tenente Velly, que tinha especialização em salvamento na selva, alertava a todos da necessidade de se economizar a comida, alem de se buscar outras fontes de alimento, como insetos, folhas e pequenos animais. Por uma faísca de sorte havia perto do acidente um olho d água salobra que lhes matavam a sede. Não havia, no entanto, qualquer possibilidade de se aventurarem na floresta, ainda que pudessem caminhar, pois a mata era povoada por onças e outros tipos de predadores,naquela circunstancia a morte seria certa. Dois dias depois de caírem na mata, o CB Caldeira, não resistiu a gravidade dos ferimentos e faleceu. Os demais sobreviventes mantinham a convicção de que o socorro estava a caminho, contudo o tempo em tais circunstancia e sempre implacável. Sabiam que quanto menor tempo para serem localizados maiores as chances de livrarem daquele pesadelo. Acuados e doentes na mata, os homens da FAB viviam dias angustiantes e noites intermináveis. A comida era cada vez mais escassa. Achavam-se raramente, algumas conserva, mas em quantidade e qualidade inferior ao que precisavam. Não havia outra alternativa, senão comer insetos. A situação era cada vez mais desesperadora. O mau cheiro dos cadáveres atraia os urubus e não se ouvia o ronco de avião que indicasse a proximidade do socorro. Longe dali, entretanto, as buscas eram incessantes. O único que podia se locomover para buscar água era o cabo Barros; seu esforço foi heróico, já que padecia de graves queimaduras na perna esquerda e nas costa. O CB. Barros, no entanto, não se entregava, ele em uma força descomunal, pois ele representava as pernas de seus companheiros e o amparo psicológico e a água, que os mantinham vivos seus amigos de farda. Longe daquele trágico cenário, enquanto a angustia castigava a todos os parentes e companheiros dos tripulantes do C-47 2068, desenrolava-se a mais espetacular missão de busca e salvamento da historia da aviação brasileira. Foram engajadas nessa missão 32 aeronaves, inclusive um avião do tipo C-130-70 da Força Aérea do Estados Unidos, que se encontrava em manobras nas Guianas, alem de um navio Sirus, da Marinha do Brasil, que navegando sobre as águas do rio Japurá daria suporte aos serviços de busca. Foram gasto também 1,100 horas de vôo e quase um milhão de litros de combustível, durante 20 torturantes dias. Diante de tais acontecimentos, o tempo, no seu aspecto climático e cronológico, é sempre impiedoso. E alem disso havia aquele monstro verde, a selva amazônica, inóspita e misteriosa. Dias após dia, sem qualquer noticia ou indicio da aeronave 2068, as buscas se tornaram dramáticas, pois cada minuto perdido significava a diminuição das chances de se encontrar algum sobrevivente. Além disso, a procura do aparelho caído na densa selva, é mesmo que “procurar uma agulha dentro do palheiro”. Todas as aeronaves disponíveis já estavam sendo utilizadas, na tentativa de se encontrar o avião desaparecido, exceto um velho Albatroz, o AS-16 6539, pertencente ao dois o /10O Grupo de aviação, por lhe faltar tripulação disponível.Mas no afã da busca, consegui-se reunir um grupo de militares para fazer com também àquela aeronave aliasse na procura do 2068. No dia 26 de julho, décimo dia após o acidente, as chuvas cessaram e o sol brilhou forte. Os sobreviventes, cada vez mais debilitados, ouviam ao longe o roncar de uma aeronave aqui e ali ,que pediam aos céus que pudessem ser vistos. Foi quando o albatroz descreveu uma curva a esquerda e sua tripulação avistou a cauda do avião 2068. Mais uma passagem sobre o local e tiveram a certeza, que explodiram num só grito: “Achamos o 2068!”. Lá embaixo, os sobreviventes, tão logo tiveram certeza de ter sido localizados, deixaram toda a dor fluir através de gritos e lagrimas. O resgate só pode ser iniciado no dia seguinte ao avistamento. Somente às 11h40 do dia 27 chegavam, ao local do sinistro, os primeiros militares do PARASAR. Desceram de um helicóptero com auxilio de cordas. Havia porem, no local, apenas cinco sobreviventes, pois o CB Barros, não suportando a gravidade dos ferimentos e o esforço despendido no auxilio aos seus companheiros faleceu dez minutos antes de ser resgatado... Barros para não ser notada e chocarem com seu desespero da dor da morte, , faleceu e foi encontrado escondido entre os destroços e ferragens do 2068 Tarde do dia 06 de maio de 1997. A aeronave SC-95 B retorna ao pátio de aeronaves da Base Aérea de Campo Grande. Dela desembarcam aqueles militares que, viajando no túnel do tempo, tinham por missão localizar os destroços do C-47 2068. Desde aquele fatídico 15 de junho de 1967, mais de trinta anos se passaram. A Força Aérea Brasileira, neste espaço de tempo, consciente da necessidade do continuo preparo de seus homens, bem como da melhoria do seu equipamento, acompanhou a evolução dos tempos de maneira a alinha-se atualmente as nações mais desenvolvidas. No entanto, apesar dos inegáveis avanços tecnológicos e o aperfeiçoamento do seu pessoal, a tripulação do C-47 –6545 não conseguiu localizar e resgatar os destroços do 2068. Apesar deste insucesso momentâneas, novas investidas hão de ser iniciada e na selva hostil e misteriosa, haveremos de encontrar e trazer para o ninho dos Pelicanos, não simples destroços, mas uma pagina heróica da Missão SAR no Brasil. HOMENAGEM Quem conheceu a historia do acidente da aeronave C-47 2068, certamente não ficou indiferente àqueles fatos, pois mais que uma pagina heróica da Força Aérea Brasileira, restou consignado todo o companheirismo, a coragem e a fibra do “Homem de azul”. Num misto de tristeza e orgulho, merece destaque um personagem, O Cabo Barros: Suas ações naquele trágico episodio, seguramente foram decisivas para o salvamento de seus companheiros. Único dentre os sobreviventes que podia andar, mesmo ferido gravemente, cuidava dos demais, carregando água e mantendo o moral de todos. Voltados para a certeza do resgate. O Cb. Barros, no entanto, não era apenas mais um homem ferido na selva. Encarnava ele a lenda do pelicano, que quando não consegue arrumar comida, rasga o próprio peito para que seus filhotes dele se alimentem e sobrevivam. Durante todos aqueles dias de angustia e dor, o Cb. Barro oferecia-se lentamente ao sacrifício. Cada palavra amiga, cada gesto de conforto, cada gota de água carregada custava-lhe os minutos que lhe faltaram para o seu próprio resgate com vida. Mas diante do quadro que tinha a frente de seus olhos, não percebia a gravidade de seus ferimentos. Doía-lhe a perna ferida e a costa, corroia-lhe as entranhas o processo de um violento tétano. Porem o sofrimento purificava sua alma e em meio à selva, encantava-lhe o seu ideal do próximo servir. No mesmo cenário de lendas antigas, entre sacis ,caiporas,boiuva, diante de cinco companheiros feridos, o Cb. Barros erguia-se encantado. O cabo Barros ,sucumbiu de sua missão na terra,às onze horas e trinta minutos do dia 27 de junho de 1967; Dez minutos antes do auxilio que viria dos céus. A equipe especial de salvamento ,somente mais tarde, depois de ter resgatados todos os feridos perceberam que o nosso herói ( o pelicano) já estava morto, em meios aos escombros da aeronave destroçada. O Cado Barros, que num último ato de bravura em favor do bem estar dos amigos ,doou sua vida...Teve sua crise de morte longe dos outros sobreviventes, pois queria de qualquer forma que a moral e apoio humano fosse preservado na pura esperança de sobreviverem. para seus amigos pudessem viver |