Ativistas da organização ambientalista lembram compromisso firmado pelo primeiro-ministro Tony Blair pela preservação das florestas.

       O Greenpeace marcou a visita do primeiro-ministro inglês, Tony Blair, ao Brasil com um protesto hoje no Jardim Botânico, em São Paulo (SP). Ativistas da organização ambientalista levaram um grande pedaço de samaúma (1) e estenderam cartazes, onde se lia: “Não compre a destruição da Amazônia”. Dois ativistas estenderam uma faixa – “Blair, cumpra sua promessa” – mas foram retirados do local rapidamente pela segurança. Através de uma carta, o Greenpeace pediu à Blair a garantia de que a Inglaterra pare de comprar madeira amazônica provinda de práticas insustentáveis e predatórias.

A samaúma – símbolo da destruição da Floresta Amazônica – é um lembrete oportuno do fracasso de Blair em pôr em prática as promessas feitas no ano passado, durante o Encontro do G8 (grupo dos sete países mais ricos e a Rússia) no Japão, de barrar a importação de madeira retirada ilegalmente das florestas primárias remanescentes do mundo (2).

Em julho de 2000, o Ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, Michael Meacher, anunciou que seu governo garantiria a preservação das florestas primárias através da compra de madeira retirada de fontes legais e sustentáveis – como as certificadas pelo FSC (Forest Stewardship Council) (3). Tony Blair destacou este compromisso durante seu discurso ambientalista, feito no dia 06 de março deste ano, e prometeu discutir o problema com o presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso. Dias depois do discurso, Blair enviou uma carta ao Greenpeace confirmando sua intenção de barrar a madeira ilegal (4).

No entanto, informações oficiais coletadas e analisadas pela organização ambientalista mostram que, entre janeiro e abril de 2001, as companhias inglesas importaram mais de 5 mil metros cúbicos de madeira não-certificada vindas do estado do Pará, na Amazônia Brasileira. No ano de 2000, o Pará exportou mais de 13 mil metros cúbicos de madeira para o Reino Unido. Nenhuma destas madeiras provinha de fontes social e ambientalmente responsáveis ou certificadas (5).

“A Floresta Amazônica é a floresta de maior biodiversidade do mundo. Também é o lar de 20 milhões de pessoas, cuja qualidade de vida depende da proteção desta imensa floresta. Daqui a pouco, este tesouro global será rapidamente destruído para a fabricação de compensado e serragem. Apesar da promessa de Blair, países ricos como a Inglaterra continuam comprando a destruição das florestas, através da importação de madeira ilegal”, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace.

“Preservar as florestas primárias, toda sua biodiversidade e a cultura humana que depende dela custa mais que palavras. Tony Blair poderia começar cumprindo sua promessa de não mais comprar a destruição da floresta. Ele também poderia usar sua influência para levar os países produtores e consumidores de madeira a adotar uma política de proteção, além da criação de um fundo para implementar medidas concretas de preservação”.

A madeira retirada de fonte ilegal e predatória é uma das princiais causas da destruição da Amazônia. Cerca de 80% das florestas primárias remanescentes já foi destruída ou degradada. De acordo com o Instituto de Recursos Mundiais (World Resources Institut), o restante está desaparecendo a uma velocidade de 16 milhões de hectares por ano. A indústria madeireira cresceu sem controle na região (há 7.595 companhias registradas na Amazônia), ameaçando o modo de vida das pessoas e das espécies que vivem e dependem da floresta (6).

“Sem medidas concretas e um compromisso financeiro dos líderes mundiais, o único futuro para os animais da floresta – como a onça – é o zoológico. Árvores como a samaúma só existirão em jardins botânicos, como o que o Primeiro-Ministro visitou hoje em São Paulo. É este o mundo que Blair quer deixar para seus netos?”, questiona Adário. “É preciso dar um basta à destruição das florestas primárias remanescentes do mundo. Não através de palavras e promessas, mas através de ações concretas”.

Mais informações:
Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace – (92) 9985.5001
Dave Logie, da campanha da Amazônia do Greenpeace – (92) 9994.0606 – entrevistas em inglês
Tica Minami, assessoria de comunicação do Greenpeace – (11) 3066.1178 ou (11) 9900.7796

Notas do Editor:

A samaúma é conhecida na Amazônia como a “Rainha da Floresta” por causa de sua altura. O pedaço de madeira levada para receber o primeiro-ministro inglês fazia parte de um carregamento de madeira ilegal descoberto pelo Greenpeace no ano passado, no Rio Juruá. O Ibama foi informado pela organização ambientalista e a madeira ilegal foi apreendida. A samaúma é usada para a produção de compensados, destinada para o mercado internacional. A Inglaterra é um dos maiores consumidores de compensados de madeira amazônica e o segundo maior consumidor de madeira tropical da Europa, depois da França.

A relação direta entre a importação de madeira pela Inglaterra e a destruição da Floresta Amazônica não parece estar entre as prioridades da agenda de Blair durante sua visita de dois dias ao Brasil. Pelo contrário, os dois países procuram fortalecer as relações econômicas sem se preocupar com as consequências ambientais.

O FSC (Forest Stewardship Council) é uma organização internacional sediada em Oaxaca, México, cujos membros incluem companhias do setor florestal e entidades sociais e ambientalistas. O FSC é o único selo internacional com um sistema de certificação de produtos que garante aos consumidores que a madeira foi retirada através de práticas social e ambientalmente responsáveis. Recentemente, duas madeireiras que operam no Pará receberam a certificação FSC. Mas, dados oficiais mostram que o estado tem duas mil companhias madeireiras.

Em carta enviada ao Greenpeace, no dia 26 de maio de 200, Tony Blair afirmou: “Como vocês sabem, um relatório de implementação do Programa de Ação do G8 sobre Florestas será discutido em julho. A Inglaterra vai continuar trabalhando contra a madeira ilegal, interna, bilateral e multilateralmente, e vai encorajar os parceiros do G8 a fazerem o mesmo”. Leia íntegra da carta em inglês.

De acordo com dados oficiais, a maior parte da exploração de madeira na Amazônia vem de fontes ilegais e da destruição de florestas primárias. Estudos de instituições brasileiras, como o Imazon e a Embrapa, mostram que mesmo os Planos de Manejo definidos pela legislação do País, como forma de assegurar a produção sustentável de madeira, são usados para forjar documentos que encobrem as práticas ilegais de extração de madeira da região.

A região, que abastecia mais de 12% da produção madeireira do Brasil em 1970, hoje produz mais de 30 milhões de metros cúbicos de madeira por ano – cerca de 90% da produção total brasileira de madeira tropical. A destruição da Amazônia cresceu de 1% a 15% no mesmo período. Uma área de 589 mil quilômetros quadrados, maior que a França, desapareceu nos últimos 30 anos. Informações de satélite mostram que o desmatamento da Amazônia Brasileira no ano passado (19.532 km2) foi o maior desde 1995.

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